Investigação europeia em gestão florestal faz testes no Vale do Sousa

  • Filipe S. Fernandes
  • 10 Outubro 2019

Para José Guilherme Borges e Marlene Marques, do Centro de Estudos Florestais, o case do Vale do Sousa “é muito positivo” já que permitiu demonstrar a utilização de planeamento colaborativo de gestão.

O Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia tem na Associação Florestal do Vale do Sousa uma parceira para o desenvolvimento do projeto Alterfor (modelos alternativos, robustez da tomada de decisão e o futuro da gestão florestal).

Este é um projeto de investigação internacional que pretende adaptar e desenvolver modelos de gestão florestal para oferecer um conjunto alargado de serviços de ecossistema em várias regiões na Europa.

Envolve doze instituições de investigação e sete partes interessadas na gestão florestal, de nove países europeus, para facilitar a transferência de conhecimento e tecnologia, e a implementação de modelos de gestão florestal alternativos.

Financiado pelo programa europeu Horizonte 2020 em quatro milhões de euros, o projeto é coordenado pela Swedish University of Agricultural Sciences e a participação portuguesa é liderada pelo Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia em colaboração com Associação Florestal do Vale do Sousa.

Os passos do case do Vale do Sousa

O primeiro passo foi a análise dos modelos de silvicultura utilizados nas Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) Entre Douro e Sousa e Paiva, no Vale do Sousa. Esta análise sugeriu a exploração de modelos alternativos de utilização de espécies já presentes na área (pinheiro bravo, eucalipto e castanheiro) e mostrou o potencial para a utilização de outras espécies (carvalho roble/alvarinho e sobreiro) na composição do mosaico paisagístico.

Para chegar a este resultado contou-se com os produtores florestais e as outras partes interessadas na gestão florestal, utilizando-se o modelo de transferência de conhecimento e tecnologia – ‘R – research, I – integration e U – utilization‘ (ou seja, Investigação, Integração e Utilização, referem José G. Borges, coordenador do Centro de Estudos Florestais e professor Instituto Superior de Agronomia, e Marlene Marques, investigadora do Centro de Estudos Florestais.

O terceiro passo envolveu a integração de modelos de silvicultura atuais e alternativos, de cenários de alteração climática e de evolução de mercados com o objetivo de desenvolver planos de gestão agrupada à escala da ZIF.

Para o efeito foram desenvolvidas e implementadas ferramentas avançadas de apoio à decisão.

“Estas permitem apresentar relações de troca (tradeoffs) entre serviços de ecossistema – madeira (pinho, eucalipto, castanho e carvalho), cortiça, biodiversidade, resistência ao fogo, proteção contra a erosão do solo e serviços culturais”, referem José G. Borges e Marlene Marques. Esta informação permite apoiar a negociação de soluções e facilita a procura de planos consensuais em contextos como o da ZIF que envolvem vários decisores.

Processos colaborativos

Segundo José G. Borges e Marlene Marques, o case do Vale do Sousa “é muito positivo, pois permitiu desenvolver, testar e demonstrar a utilização de métodos de planeamento colaborativo de gestão. A eficiência e a eficácia destes instrumentos são indispensáveis para o planeamento à escala da ZIF. A oferta de serviços de ecossistema deve ser pensada a esta escala e não à escala de uma propriedade”.

Sublinham que o risco de um incêndio de uma propriedade florestal se relaciona com a forma como as propriedades vizinhas são geridas.

Em termos de execução do projeto dão como exemplo os dois workshops organizados pelo CEF/ISA e pela AFVS. Estiveram presente 63 participantes de mais de 30 organizações como indústria florestal, administração pública florestal e da conservação da natureza, câmaras municipais, juntas de freguesia, empresas de serviços florestais, organizações de certificação florestal, associações de produtores florestais, organizações ambientalistas.

Nos workshops houve troca de informação, discussão de ideias, “uma aprendizagem colaborativa sobre os problemas e as suas potenciais soluções de gestão florestal”, dizem José G. Borges e Marlene Marques, acrescentando que “estes processos participativos contribuem para a legitimidade das decisões de gestão e a elaboração consensual de melhores planos de gestão florestal, potenciando a sua efetiva implementação”.

O travellab em Portugal

Este projeto de investigação europeu tem vinte partners, entre académicos e não académicos de nove países, mas a sua estrutura de gestão e comunicação adequada tem facilitado a troca de informação e de resultados de investigação entre participantes.

José G. Borges e Marlene Marques destacam a organização de travellabs, que são “sessões com formato inovador que reúnem parceiros académicos e não académicos para trocas de informação inter-regionais e transferência de conhecimento”.

Contemplam tanto as visitas de campo para contacto direto com práticas de gestão e observação dos resultados, como as mesas redondas para discussão, entre investigadores e partes interessadas, dos desafios que se colocam à gestão florestal e das inovações propostas para os confrontar.

No travellab realizado em Portugal, os parceiros do projeto visitaram povoamentos florestais na área de estudo como, por exemplo, eucaliptais em talhadia de curta duração e povoamentos de pinheiro-bravo, incluindo áreas afetadas pelos incêndios de 2017.

Depois participaram numa mesa-redonda em que estiveram presentes, pequenos proprietários florestais, a Associação Florestal do Vale do Sousa, o ICNF, a Quercus, os Gabinetes Técnicos Florestais de Paredes e Penafiel, a Navigator Company, a Floresta Atlântica e em que se discutiram problemas que decorrem do elevado risco de incêndio e da fragmentação da propriedade e modelos e estratégias para os enfrentar.

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