Gestão feminina nas cotadas portuguesas aquém da Europa
O número de mulheres na administração das empresas cotadas em bolsa tem vindo a aumentar, mas ainda se situa no limiar do previsto na lei. Fica abaixo das empresas públicas e da média europeia.
Portugal está entre o grupo de países com menor número de mulheres nos órgãos de administração das maiores empresas cotadas em bolsa na Europa. São apenas 24,8% de mulheres entre os administradores das cotadas, o que apesar das melhorias fica abaixo da média de 27,8% dos 28 países da União Europeia.
Estas são as primeiras conclusões do projeto Projeto Women on Boards – Portugal, que apresentou esta quarta-feira aos jornalistas o seu WoBómetro que mede a paridade de género nas empresas cotadas em bolsa.
Sara Falcão Casaca, professora do ISEG e uma das responsáveis pelo projeto, explica que tem havido “progressos” em Portugal desde a entrada do regime da representação equilibrada entre mulheres e homens em cargos de topo. A lei determina que haja, pelo menos, 20% do género sub-representado nos órgãos tanto de administração como de fiscalização (medidos separadamente) e aplica-se a membros eleitos em assembleias gerais (AG) de acionistas, desde 2018.
“Importa, no entanto, assinalar que há ainda uma sub-representação de mulheres em cargos de gestão de topo das empresas cotadas em bolsa” não só em Portugal como na Europa. A média europeia fica 12 pontos percentuais abaixo do limiar mínimo de paridade (40%). Acima desta barreira, entre os países da UE, está apenas França que — tal como outros países como Islândia ou Noruega — tem lei específica em vigor há oito anos.
Islândia lidera na representação feminina
Entre as 39 empresas cotadas na bolsa de Lisboa a que a lei se aplica, há 444 membros dos conselhos de administração e de fiscalização. Desde 93 são mulheres. Nas administrações, há 22% de mulheres e nos órgãos de fiscalização 26%. Mas é principalmente entre os administradores não executivos que o reforço tem sido feito nos últimos sete anos.
Fechando a análise em 17 das 18 cotadas do PSI-20 (a EDP Renováveis tem sede em Madrid e fica, por isso, fora do âmbito da lei), há 244 membros dos conselhos de administração e fiscalização. Nos primeiros órgãos, há 25% de mulheres e, nos segundos, 30%. Em média, as empresas cotadas cumprem o limite previsto na lei, mas terão de fazer novas mudanças já que, em janeiro de 2020, o mínimo sobe para 33,3%.
Há apenas uma mulher na presidência de um órgão de administração — Paula Amorim, na Galp — e uma mulher na presidência de uma comissão executiva (ou seja, no cargo de CEO) — Cláudia Azevedo, na Sonae.
Desde 2013 que há mais administradoras não executivas
Há mais mulheres nas empresas públicas
A lei aplica-se também ao setor empresarial do Estado, mas neste caso o limite mínimo é 33,3% desde 2018. Os dados do projeto Women on Boards indicam que a representação feminina é mais expressiva nas empresas públicas que nas cotadas. Em mais de uma centena de empresas públicas abrangidas, há 36% de mulheres nos órgãos de administração e 46% nos órgãos de fiscalização.
Com base nestas informações, foram criados dois índices que medem a representação equilibrada entre mulheres e homens numa escala de 0 (0% de mulheres) e 1 (50% de mulheres e homens). O índice WoB-Euronext Lisbon — com empresas cotadas na Euronext Lisbon — situa-se em 0,42, enquanto o índice WoB-SEE — com entidades do setor empresarial do Estado — em 0,64.
Qual a influência das mulheres?
Além dos dados quantitativos, Falcão Casaca considera que é preciso perceber se o maior equilíbrio numérico conseguido pela lei resulta em maior igualdade de género. “As mulheres e os homens estão a ocupar cargos com iguais desafios? Têm igual influência?“, questiona. Essa será a próxima fase do projeto, que é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e cuja equipa está atualmente a realizar inquéritos junto das empresas com o objetivo de produzir um segundo relatório de análise.
Em simultâneo, o Women on Boards está a trabalhar com uma série de stakeholders como a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a Euronext Lisbon, confederações patronais, associações ou consultadoras. O projeto será desenvolvido até 2021, ano em que será também feita uma avaliação da implicação da lei. Nessa altura, Sara Falcão Casaca espera produzir, em conjunto com os stakeholders, um livro branco sobre a representação de género na liderança.
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