Draghi: “Melhorias na economia mais que compensaram efeitos secundários dos juros negativos”
Na despedida, o presidente do BCE defendeu que as medidas implementadas foram bem-sucedidas, que fez tudo o que estava ao seu alcance para salvar o euro e que não violou o mandato do banco central.
Não diz qual é o maior orgulho ou arrependimento nem deixa conselhos à sucessora, mas garante que as decisões que tomou foram bem-sucedidas. “Parte do meu legado é este: nunca desistir”, afirmou Mario Draghi, após a última reunião de política monetária que presidiu no Banco Central Europeu (BCE), antes de abandonar o cargo no final deste mês.
Ao longo do mandato de oito anos, Mario Draghi implementou políticas nunca vistas na Zona Euro, tendo lançado um mega programa de compra de dívida e atirado as taxas de juro para mínimos históricos. A atuação do italiano foi plena de críticas, especialmente no início do mandato, mas também novamente no fim.
“As melhorias na economia mais que compensaram os efeitos secundários das taxas negativas, disse, quando questionado sobre o impacto dos juros negativos na rentabilidade da banca, o que gerou críticas do setor incluindo em Portugal. Sem nunca ter conseguido subir juros, Draghi deixa a taxa de referência em 0%, a taxa de depósitos em -0,5% e a taxa de juro aplicável à cedência de liquidez em 0,25%.
“A avaliação geral é positiva. Para nós, é muito positiva”, garantiu Draghi, sublinhando que o BCE monitoriza esse impacto e, exatamente por isso, implementou em setembro um sistema de escalões que permite aos bancos pagarem taxas apenas pelo excesso de liquidez cinco vezes acima das reservas mínimas obrigatórias. Acrescentou que as medidas do BCE melhoraram a qualidade do crédito, o que beneficia as contas da banca.
“Tentei cumprir o mandato da melhor forma possível”
Antes de sair, Draghi deixou o caminho delineado à sucessora Christine Lagarde. Em setembro, o BCE tinha cortado os juros dos depósitos e relançado a compra líquida de ativos (a partir de novembro, com um valor mensal de 20 mil milhões de euros por mês). No entanto, uma série de Governadores falaram publicamente contra a decisão imediatamente após a decisão — algo inédito –, entre eles os governadores do Banco Central da Alemanha, da Holanda e da Áustria.
Anonimamente, houve mesmo quem acusasse Mario Draghi de ter ignorado quem discordou das medidas, apesar de ter anunciado a decisão como unânime, chegando mesmo a dizer que o Comité de Política Monetária emitiu um parecer contra, algo que este grupo composto por dois membros de cada banco central não tem por hábito fazer.
Draghi desvalorizou a questão, dizendo que “todos têm discussões” e que “os desacordos foram algumas vezes tornados públicos e outras não”. Foi ainda mais longe e acrescentou que após terem aprovado de forma unânime a proposta do economista-chefe de manter as medidas de política monetária inalteradas, “um dos dissidentes até pediu unidade e a plena implementação da política monetária”.
De forma mais alargada sobre as críticas de que foi alvo — focadas em ter ido além do mandato do BCE –, referiu: “sinto-me como alguém que tentou cumprir o mandato da melhor forma possível“.
Será agora sucedido por Lagarde, que já participou na reunião desta quinta-feira, apesar de ainda não ter intervindo. A francesa terá de lidar com a desaceleração da economia e com os riscos externos. “Infelizmente, tudo o que aconteceu desde setembro mostrou abundantemente que a determinação do Conselho de Governadores em agir foi justificada“, sublinhou, referindo-se aos dados económicos mais fracos na Zona Euro e, em especial, na Alemanha.
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