Crédito para férias, carro ou casa? É isto que precisa saber

Portugueses continuam a ir buscar cada vez mais dinheiro à banca para comprar casa e para consumo. Mas há cuidados que devem ser tidos em conta nesse processo. Fique a par de cinco dos principais.

Casa, carro, artigos para o lar ou férias. O percurso para a sua aquisição pelos portugueses passa cada vez mais pelo balcão do banco. Os níveis de concessão de crédito às famílias estão em máximos de pelo menos a década. O recurso ao financiamento bancário é muitas vezes a única forma de as famílias acederem a determinados bens. Contudo, há cuidados que devem ser tidos em conta na hora de pedir crédito.

Os últimos dados disponíveis mostram que, nos oito primeiros meses deste ano, os bancos concederam mais de 11,5 mil milhões de euros em empréstimos às famílias. Representa um aumento de 6,7% face ao verificado no período homólogo e é também o mais elevado desde o ano de 2010.

A maior parcela desse montante resulta da concessão de empréstimos para a compra de casa. Entre o início de janeiro e o final de agosto, a banca disponibilizou quase 6,9 mil milhões em financiamento para a aquisição de habitação: 5,7% acima do verificado em 2018 e o valor mais alto desde também 2010.

Já no caso do crédito ao consumo, a subida é menos acentuada, mas em valor representa um máximo de mais tempo. Nos primeiros oito meses deste ano, foram concedidos perto de 3,3 mil milhões de euros em empréstimos para consumo, 5% acima do registado no mesmo período do ano passado, com o montante global a ser o mais elevado dos últimos 15 anos (2004). Ou seja, vários anos antes do espoletar da crise financeira.

“Os valores de crédito concedido não são preocupantes, devendo ser analisados no contexto do quadro económico que se vive atualmente no país”, defende Susana Albuquerque, especialista em finanças pessoais. “Estamos ainda a recuperar do período de recessão económica e longe dos valores pré-crise“, acrescenta ainda a responsável pela coordenação da Educação Financeira na Associação de Instituições de Crédito Especializado (ASFAC), lembrando que entre 2013 e o final do primeiro semestre de 2019, o número de famílias em incumprimento se reduziu em cerca de 31%.

Os valores de crédito concedido não são preocupantes, devendo ser analisados no contexto do quadro económico que se vive atualmente no país.

Susana Albuquerque

ASFAC

Mesmo considerando esses fatores, o recurso ao crédito é uma decisão que deve ser sempre muito bem ponderada. Há um conjunto de cuidados que devem ser tidos em conta nesse processo. Conheça cinco dos principais.

1- Analise e defina um orçamento

Em primeiro lugar, antes de avançar para o crédito, deve assegurar que precisa mesmo do bem ou serviço, mas também se o seu orçamento tem margem para acomodar esse encargo adicional. Isto é válido seja para um crédito à habitação, como para consumo. Procure assim “analisar ou definir um orçamento mensal: colocando de um lado as receitas (vencimentos, subsídios, pensões) e do outro as despesas“, começa por defender Susana Albuquerque. Isto permite ver quanto sobra depois de pagar todas as contas e quanto tem disponível para a prestação de um empréstimo.

“É importante aqui calcular a taxa de esforço que lhe diz qual é o valor máximo que pode despender em prestações de empréstimos por mês com base no rendimento disponível”, esclarece a esse propósito a especialista em literacia financeira. De acordo com a Deco, essa taxa de esforço não deve superar a fasquia dos 35%.

2- Compare as ofertas de mercado

Após essa análise, se a decisão for avançar com o pedido de empréstimo convém ir em busca do financiamento mais adequado, nomeadamente para “o bolso”. “A internet pode ser um ótimo aliado na pesquisa do mercado, sendo aconselhado pedir três propostas a instituições diferentes”, recomenda Susana Albuquerque.

Para uma correta comparação das propostas, é indicado analisar as Fichas de Informação Normalizada (FIN) dos produtos. Este documento de disponibilização obrigatória por parte das instituições financeiras discrimina as principais características do crédito pretendido, nomeadamente os encargos com juros e comissões.

3- TAN, TAEG e MTIC? Conheça as diferenças

São muitas as siglas associadas a um empréstimo e estas são as mais importantes. A taxa anual nominal (TAN) reflete a taxa de juro sem outros encargos. Já a taxa anual de encargos efetiva global (TAEG) indica todos os custos associados ao crédito. Essa taxa “indica o custo total do crédito e permite comparar melhor cada uma das propostas“, explica a especialista da ASFAC, devendo o consumidor assim focar-se nela. Já o montante total imputado ao consumidor (MTIC) indica o custo total do empréstimo. Este MTIC inclui os valores pagos com juros, comissões, despesas, impostos e encargos com o crédito.

4- Tem dúvidas? Esclareça-as

“Depois de escolher a melhor proposta, o consumidor deve, antes de assinar qualquer documento, esclarecer todas as perguntas e dúvidas que lhe surjam com a leitura do contrato”, recomenda Susana Albuquerque. Leia toda a documentação que lhe for disponibilizada, com especial atenção para as letras pequenas e asteriscos. Além disso, consulte a informação que está disponível sobre as características e regras dos empréstimos, em sites como o Portal do Cliente Bancário do Banco de Portugal.

5- Mudou de ideias? Tem 14 dias para desistir

Assinou o contrato, mas mudou de ideias? Se for esse o caso, pode desistir do crédito, mas só se o fizer no máximo até 14 dias depois da data da assinatura do contrato. E para tal não tem de dar qualquer satisfação sobre o motivo. As regras impõem que cabe a quem pediu o crédito devolver o respetivo montante e pagar os juros decorridos num prazo limite de 30 dias.

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