O que estamos a fazer para minimizar o impacto do plástico no planeta?
Reduzir o uso de plásticos, substitui-lo por novos materiais ou apostar mais na reciclagem, vale tudo para adotar práticas mais amigas do ambiente. Portugal também está envolvido neste esforço.
Todos os anos, são produzidas cerca de 300 milhões de toneladas de resíduos plásticos, sendo que destas, oito milhões acabam nos oceanos, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Este ano, só em Portugal, foram recolhidas das praias mais de duas toneladas de plástico, o dobro do ano passado. Mas, o que está a ser feito para reduzir a quantidade de plástico e minimizar os impactos no planeta?
“A principal ameaça é comportamental. Devemos penalizar comportamentos e não os materiais. O plástico não foi inventado para ser depositado no meio ambiente”, diz, ao ECO, Amaro Reis, presidente da Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (Apip). “A indústria do plástico quer ser parte da solução para o problema que existe com a poluição causada pelo comportamento negligente do descarte de plástico no ambiente”, acrescenta. Amaro Reis recorda que “cerca de 60% dos produtos feitos com plásticos duram entre 5 a 50 anos, ou até mais”.
Amaro Reis explica que “o plástico é um material essencial e de excelência em vários setores e aplicações (embalagem, transportes, saúde, eletrónica, construção, entre outras”. “Os plásticos são leves, baratos e adotáveis em diferentes aplicações”, acrescenta Jorge Portugal, diretor-geral da Associação Empresarial para a Inovação (Cotec).
A principal ameaça é a comportamental. Devemos penalizar comportamentos e não os materiais. O plástico não foi inventado para ser depositado no meio ambiente.
“Ao contrário do que muitas vezes é veiculado, o plástico desempenha um papel extremamente importante naquilo que é o seu contributo para minimizar as alterações climáticas, desde logo pela poupança de energia e redução das emissões de gases de efeito de estufa”, defende Amaro Reis. O grande problema “é que existe muito pouco plástico reciclado. Apenas uma pequena fração do plástico que é produzido é reciclado e reintroduzido na cadeia produção”, refere Jorge Portugal.
É esse o caminho que a Logoplaste já está a fazer. A empresa já “utiliza material plástico reciclado, o que permite reduzir o consumo de materiais plásticos de origem fóssil”, explica ao ECO, Alexandre Relvas. “Algumas das embalagens produzidas já incorporam até 100% de conteúdo em material reciclado”, acrescenta o presidente executivo.
A Logoplaste fabrica as garrafas de plástico de gigantes como Henkel, Coca-Cola, L’Oréal, Danone ou Heinz e só o ano passado produziu 11 biliões de embalagens o que corresponde aproximadamente a 350 embalagens por segundo. Apesar das enormes quantidades de plástico usadas na produção, Alexandre Relvas garante que a empresa está comprometida com a sustentabilidade ambiental e pretende “atingir, ou exceder, os requisitos legais de incorporação de material reciclado, trabalhando em conjunto com os parceiros Industriais”.
Segundo o CEO da empresa, que conta com um volume de negócios de 500 milhões de euros anuais, “as fábricas da Logoplaste em todo o mundo estão em condições de fazer a transição para o novo modelo — de utilização de matérias-primas virgens para a utilização de materiais reciclados e de fontes renováveis”.
A Logoplaste tem como objetivo “eliminar, até 2025, as embalagens de plástico problemáticas ou desnecessárias e passar de modelos de uso único para modelos de reutilização”. Pretendem ainda que 100% das embalagens que fabricam sejam recicláveis ou reutilizáveis, de forma a aumentar o conteúdo reciclado nas embalagens que produzem.
Algumas das embalagens produzidas já incorporam até 100% de conteúdo em material reciclado. A utilização de material plástico reciclado permite reduzir o consumo de materiais plásticos de origem fóssil.
Na Adalberto, empresa de estampagem têxtil, a estratégia é outra — abolir o uso de plástico. Atualmente, utilizam-no nas embalagens das peças confecionadas, mas já está a decorrer um plano estratégico que tem como objetivo banir o plástico e tornar a Adalberto numa empresa sustentável. A CEO, Susana Serrano, refere ao ECO que já estão a substituir todas as embalagens de plástico por papel FFC. “É uma certificação que existe para garantir que estamos a consumir papel proveniente de florestas com plantação controlada”.
Para garantir a sustentabilidade ambiental, a Adalberto — que tem um volume de negócios de 30 milhões de euros — também usa fitas de tecidos provenientes do desperdício dos materiais. Susana Serrano garante que, em “2021, espera acabar com as embalagens de plástico”, mas também usar painéis solares para reduzir o consumo de energia.
O plano estratégico da Adalberto é ter uma empresa completamente sustentável num período de três anos.
A Continental Advanced Antenna é outra das empresas que está a tentar minimizar o impacto do plástico, ao reduzir a quantidade de plástico por antena. O diretor-geral da empresa, com fábrica em Vila Real, admite, ao ECO, que têm alguma dificuldade na gestão dos resíduos, uma vez que “o plástico que a Continental Advanced Antenna Portugal produz não é de produção interna, ou seja não é gerado internamente, advém dos fornecedores o que acaba por dificultar a ação no âmbito da redução da produção de plástico”.
Miguel Pinto frisa a que a estratégica da Continental assenta na proteção climática e na eficiência energética. “Na produção, planeamos tudo para reduzir continuamente o consumo de energia e de água, as emissões de CO2 e os resíduos, aumentando simultaneamente a taxa de reciclagem para os desperdícios operacionais”.
Quais as alternativas ao plástico?
Já existem alternativas ao plástico e uma delas é o plástico biobase, produzido a partir de biomassa ou plantas em vez de hidrocarboneto. Em Portugal já existem várias empresas que estão a comercializar alternativas ao plástico tradicional e a Soditud é uma delas.
Esta startup de Santarém “converte o descartável em conteúdo sustentável”. A empresa comercializa palhinhas e louça biodegradável. A matéria-prima advém de produtos que iriam ser desperdiçados: os pratos são elaborados das sobras de farelo (a camada exterior dura dos cereais – trigo, centeio ou aveia). Para além de serem compostáveis e ecofriendly os pratos e as palhinhas são comestíveis.
Uma palhinha custa cerca de nove cêntimos e um conjunto de dez pratos biodegradável podem custar menos de cinco euros. São produtos de uso único. Aproveitando o know how adquirindo, os fundadores estão a desenvolver uma paleta biodegradável e comestível para mexer o café que tem como objetivo ser uma alternativa às de plástico.
A Soditud tem pouco mais que um ano de existência, mas já está a marcar a sua posição no mercado. Foram os primeiros a distribuir palhinhas e louça biodegradável em Portugal e já estão a recolher frutos. Vão começar a distribuir palhinhas e pratos reciclados para o grupo Auchan e estão, neste momento, em processo de negociação com a Sonae e o Pingo Doce.
Para o diretor-geral da Cotec, Jorge Portugal, é necessário perceber se as alternativas ao plástico são viáveis a nível ambiental e económico, isto porque, “ainda não é claro que cumpram todos os requisitos para substituir cabalmente o plástico tradicional em termos da relação custo-benefício ao longo do ciclo de vida” e nem todas as opções são compostáveis. É necessário “fazer com que esses produtos inovadores que teoricamente são biodegradáveis e compostáveis possam ser reciclados. É um trabalho de investigação, desenvolvimento e inovação a nível dos recicladores”, defende Jorge Portugal.
Luís Simões, cofundador da Soditud, explica ao ECO que no caso da sua startup existe esse fator de diferenciação. “Os nossos produtos são compostáveis a nível doméstico, basta colocar no lixo normal que, em 20 dias, ele desaparece”. O empresário refere ainda que têm uma certificação da Lipor e que “o produto é ideal para o sistema de recolha atual” que existe a nível nacional.
Há alternativas ao plástico embora ainda não seja claro que essas alternativas cumpram todos os requisitos para substituir cabalmente o plástico tradicional em termos da relação custo-benefício ao longo do ciclo de vida.
Outra alternativa existente é o plástico PLA, que também é compostável, biodegradável e reciclável. “São plásticos que podem fragmentar-se e decompor-se, mas há um risco de nesse processo converterem-se em micro plásticos, que acabam por entrar na cadeia de reciclagem tradicional e podem acabar por contaminar o plástico que está a ser reciclado”, alerta Jorge Portugal. O diretor-geral da Cotec refere ainda que para além do risco de contaminação “estas alternativas são normalmente mais caras”. Dá o exemplos dos EUA onde apenas uma pequena parte dos consumidores estão próximo de centrais de compostagem, o que significa que existem custos logísticos inerentes a este processo de levar os plásticos biodegradáveis e compostáveis para as centrais.
Devido às questões de contaminação e ao processo relativamente à cadeia de reciclagem, a Logoplaste, nos países em que opera, apoia a implementação de Sistemas de Depósito Retorno (SDR) no caso de garrafas para bebidas de “uso-único” (descartáveis). Alexandre Relvas refere que “estes sistemas têm provado alcançar um elevado nível de recolha de embalagens e um baixo nível de contaminação”.
O CEO da Logoplaste explica que a empresa utiliza principalmente PET (politereftalato de etileno ou polietileno tereftalato) e HDPE (polietileno de alta densidade / PEAD), materiais que têm fluxos de reciclagem bem estabelecidos nos países desenvolvidos, em especial na Europa e nos EUA.
Quais as soluções para reduzir a quantidade de plástico?
As soluções para reduzir a quantidade de plástico passam pela economia circular através do reaproveitamento dos desperdícios face à escassez cada vez maior das matérias-primas, mas também por uma responsabilidade social de todos os consumidores. E é necessário agir rapidamente, dizem os atores ouvidos pelo ECO.
Para o diretor da Continetal Advanced Antenna, Miguel Pinto, “o objetivo passa por desenvolver produtos e soluções que consumam menos energia e preservem os recursos naturais, tanto durante a produção como durante a utilização dos produtos”. O CEO da Logoplaste, Alexandre Relvas, corrobora a ideia e destaca que a empresa já está “a trabalhar para estabelecer parcerias para avaliar novas matérias-primas plásticas e o desenvolvimento de novas tecnologias de reciclagem e programas, de modo a alcançar uma economia circular”.
“É fundamental que os produtos de plástico, por via do ecodesign, sejam projetados cada vez mais para a reciclagem e para o ambiente, com o propósito de aumentarmos a sua reciclabilidade, sempre com o princípio básico de não comprometermos a sua função”, defende o presidente da Apip.
O diretor geral da Cotec, Jorge Portugal, concorda e defende que a solução passa por “criar conhecimento e tecnologia para melhorar a reciclagem e produzir produtos que tenham uma relação com o ambiente mais favorável”. Todavia, não deixa de destacar que esta questão do plástico é também “responsabilidade dos consumidores” e que faz parte da missão de todos contribuir para um mundo mais ecofriendly. Só este ano, no mês de junho, a humanidade já esgotado os recursos do planeta.
“De pouco serve termos produtos bem concebidas e fáceis de reciclar se no final o consumidor não adotar os comportamentos de separação e deposição seletivas. Temos um papel determinante no caminho para a sustentabilidade e economia circular, quer pela via de um consumo cada vez mais racional, quer pela adoção de um comportamento mais cívico e mais responsável na forma de descarte dos resíduos gerados”, conclui Amaro Reis.
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