E se este Natal o seu presente for uma garrafa de azeite?
O azeite nacional é um produto de excelência e nesta altura do ano atinge um pico de vendas a nível mundial. Portugal pode tornar-se o terceiro maior produtor de azeite na próxima década.
Portugal é o sétimo maior produtor mundial de azeite e o nono país com maior área de olival do mundo. Mas pode tornar-se, na próxima década, o terceiro maior produtor de azeite, segundo o estudo o “Alentejo: a liderar a olivicultura moderna internacional”. O azeite é um produto que destaca Portugal pelos melhores motivos. Para alguns, “já não é um condimento, mas sim um ingrediente”, que atinge um pico de vendas na altura do Natal. Ou não fosse o elemento perfeito para acompanhar o tradicional bacalhau.
“Há muita gente que oferece azeite como prenda de Natal, por isso atinge um pico de vendas nesta altura a nível mundial”, afirma o CEO da Herdade Maria da Guarda. “Há um aumento progressivo da exigência do consumidor em ter bom azeite à mesa”, acrescenta João Cortez de Lobão. “E isso não acontece só na época de Natal. Há uma nova geração de consumidores que é muito exigente com a qualidade do azeite”, destaca.
“A oferta de garrafas de azeite, de edições premium, algumas limitadas, é vista pelos portugueses como um presente especial”, acrescenta, por seu turno Otto Teixeira da Cruz, diretor de marketing e diretor de vendas na Europa do grupo Oliveira da Serra. O responsável atribui o pico de vendas na época natalícia também “à tradição de uma consoada com pratos nos quais se utiliza bastante o azeite, nomeadamente o bacalhau”.
Para Ricardo Cardoso, bisneto do fundador da Casa da Oliveira Brava, fundada em 1859, “o azeite é um dos produtos de escolha por excelência, pelos portugueses, para o Natal. Em parte, pela nossa tradição do bacalhau. Por isso, há uma procura maior pela qualidade do azeite, tanto para consumo próprio como para oferta”. Este produtor do Douro, admite que na “época de Natal, o volume de negócios aumenta significativamente”.
Portugal é o país do mundo que tem a maior percentagem de azeite de alta qualidade na sua produção. 75% do azeite produzido em território nacional é de topo.
O azeite português é resultado de uma combinação de fatores como a natureza dos solos, o clima, os avanços tecnológicos aliados a um vasto universo de mais de 1.200 variedades de azeitonas. “Portugal produz os melhores azeites do mundo tendo em conta as características do país”, defende o administrador da Quinta do Crasto, Tomás Roquette.
Para os produtores, a qualidade é inquestionável, mas a quantidade pode ser uma verdadeira surpresa, pois está sempre dependente de fatores externos ao homem, nomeadamente as condições climatéricas. Todavia, este ano as notícias não podiam ser melhores. Estima-se que “a campanha de azeite que está a decorrer seja a maior de sempre, desde que existem registos”, adianta em comunicado a Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas. Antecipa-se uma produção superior a 140 mil toneladas de azeite, o que está a dificultar a capacidade de armazenamento que está praticamente esgotada.
Só no ano passado, o grupo Oliveira da Serra vendeu 12 milhões de litros de azeite para 70 países. Têm cerca de 12 milhões de oliveiras enraizadas numa área de 14 mil hectares, sendo que mais de dez mil hectares estão localizadas em Portugal, em quatro regiões: Ferreira do Alentejo, Campo Maior, Elvas e Aviz. As variedades de azeitona mais utilizadas pela marca são a arbequina, a arbosana e a cobrançosa.
Portugal produz os melhores azeites do mundo tendo em conta as características do nosso país.
Datada de 1779, a Herdade Maria da Guarda é, à semelhança da Oliveira da Serra, um dos maiores produtores de azeite em Portugal. Têm cerca de 1,3 milhões de oliveiras plantadas, num olival de 750 hectares. A Herdade Maria da Guarda produz, só no Alentejo, cerca de dois milhões de litros de azeite por ano, o que equivale a 2% da produção nacional.
Tal como acontece no lagar da Oliveira da Serra, com a assinatura do arquiteto Ricardo Bak Gordon, praticamente todo o azeite produzido na Herdade Maria da Guarda é extra virgem. “Na Herdade produzimos azeite 100% virgem extra que é um azeite que não tem acidez e é muito valorizado pelo mercado”, destaca João Cortez de Lobão.
A Herdade Maria da Guarda, que emprega atualmente 40 colaboradores em Portugal, tem capacidade para produzir cerca de 50 toneladas de azeite por dia durante a campanha, que tem início em outubro e termina, no máximo, no início de janeiro. O ano passado faturou cerca de seis milhões de euros.
Mais a norte, na Quinta do Crasto, uma das mais antigas quintas vinhateiras do Douro, há mais de sete mil oliveiras entre o Crasto e a Quinta da Cabreira. Tomás Roquette explica que só na na Quinta da Cabreira têm mais de dez quilómetros de estradas internas de olivais. Cobrançosa, madural e negrinha de freixe são as variedades de azeitona predominantes nesta quinta na freguesia de Gouvinhas, que se estende pelas acidentadas encostas até ao coração do Douro.
A Quinta do Crasto produz anualmente entre 50 a 60 mil garrafas de azeite virgem extra a partir das azeitonas dos seus olivais cultivados em regime biológico, localizados na região do Cima Corgo e do Douro Superior. Os preços variam entre os sete e os 15 euros.
Localizada também no Douro, mas com uma produção mais pequena, a Casa da Oliveira Brava está há quatro gerações na família. Data de 1859, mas “muito provavelmente a produção de azeite e vinho, como de outras culturas do Douro, existiam anteriormente”, refere com orgulho Ricardo Cardoso, bisneto do fundador.
A Casa da Oliveira Brava tem cerca de 30 hectares de olivais espalhados pelo Douro: desde o concelho de Lamego, onde tem as suas raízes e a casa de família, até ao concelho de São João da Pesqueira, onde adquiriu nos últimos anos alguns olivais. Vendem aproximadamente 21 mil litros de azeite, por ano, quase em exclusivo para lojas gourmet. Produzem apenas azeites virgem extra de baixa acidez (0,2%), com uma taxa de peróxidos na casa dos 6%. As variedades de azeitonas que usam são a verdeal, cobrançosa, galega, coimbrã, a madural, a negrita, a Picual, entre outras. Quanto ao preço, Ricardo Cardoso explica que uma garrafa mais económica custa um pouco mais que cinco euro. Mas, uma garrafa de azeite seleção pode custar em algumas lojas 18 euros e uma garrafa do azeite biológico tem o preço médio de onze euros.
Trás-os-Montes é outra zona bastante conhecida pela qualidade do azeite produzido. Para Tomás Roquette, administrador da Quinta do Crasto, localizada no coração do Douro, “é na região transmontana que são produzidos os melhores azeites”. Para Pilar Abreu e Lima, filha do fundador da Magna Olea, empresa familiar transmontana, “o azeite nacional é um dos melhores do mundo.
O nome “Magna Olea” significa em latim grande oliveira, uma homenagem à oliveira milenar que têm no olival localizado perto de Mirandela. É no olival tradicional de 42 hectares, predominantemente cobrançosa, que se extrai o azeite Magna Olea. É um produto gourmet e diferenciado. A garrafa da Magna Olea foi inspirada numa fotografia dos pais de Pilar Abreu e Lima nos anos 80. É pintada e serigrafada manualmente. A variante de meio litro custa 18 euros.
Alentejo é a região do país com maior produção de azeitona
Mais de 75% do total de azeitona produzida a nível nacional é oriunda do Alentejo, sendo considerada a região do país com maior produção de azeitona. Em 1999 representava apenas 25% do total nacional. “Nos próximos dez anos, Portugal será a maior referência na olivicultura moderna e eficiente do mundo, e possivelmente o sétimo maior em superfície”, segundo o estudo “Alentejo: a liderar a olivicultura moderna internacional”.
“O Alentejo é considerado o precursor da atual transformação que está a ser presenciada na olivicultura internacional, muito graças ao regadio do Alqueva e à transformação dos olivais tradicionais em modernos. Por esta razão, esta região tornou-se uma referência mundial no que toca à modernização e à inovação em olivicultura”, explica, ao ECO, Otto Teixeira da Cruz.
O Alentejo é uma referência mundial no que toca à modernização e à inovação em olivicultura.
O diretor de vendas da Oliveira da Serra acrescenta ainda que “o investimento em sistemas de produção modernos e eficientes e a aposta em lagares com as tecnologias mais avançadas do mundo, veio permitir o aumento da produtividade dos olivais e melhorar substancialmente a qualidade dos azeites, tornando o Alentejo na região com a maior produção de azeite do país”.
A opinião é unânime: o Alentejo é a região do país com maior produção de azeite. Mas quanto à qualidade, as opiniões divergem. Para o CEO da Herdade Maria da Guarda, João Cortez Lobão, “o Alentejo é a melhor zona para a produção de azeite em termos que rentabilidade, mas a qualidade da azeitona em Trás-os-Montes, na Beira Baixa ou na Estremadura é bastante boa”. Explica ao ECO que o “Alentejo tem boas características a nível de clima e tem a vantagem de ter a água da barragem do Alqueva que permite aumentar a produção e baixar o custo”.
O Douro é uma das melhores regiões do país para a produção e azeite, contudo, o melhor azeite é conseguido não apenas, pela variedade ou qualidade da azeitona, ou pelo solo e clima da região, mas também pelo método de trabalho no cultivo.
Para Ricardo Cardoso, administrador da Casa da Oliveira Brava, “o Douro é uma das melhores regiões do país para a produção e azeite”. Apesar de não deixar de ressalvar que “o melhor azeite é conseguido não apenas, pela variedade ou qualidade da azeitona, ou pelo solo e clima da região, mas também pelo método de trabalho no cultivo, no tempo certo da apanha da azeitona, no método a extração do azeite e, posteriormente, na forma como ele é conservado”.
São vários os fatores que distinguem o azeite nacional em comparação aos restantes players a nível mundial. “O azeite português é resultado de uma combinação de fatores como a natureza dos solos, o clima, os avanços tecnológicos, mas também a tradição, podendo ser encontrados um pouco por todo o país vários tipos de olivais”, destaca o diretor de vendas da Oliveira da Serra.
“Somos no hemisfério norte a primeira zona a apanhar a azeitona, porque ela amadurece em Portugal um pouco mais cedo do que em todo o resto do hemisfério Norte. Temos 15 dias de avanço sob o resto do mundo”. Todos os grandes embaladores começam por vir cá experimentar os azeites. Temos essa vantagem. As variedades de azeitona que temos em Portugal ficam sempre mais macias e mais doces do que a mesma variedade noutros países”, destaca o CEO da Herdade Maria da Guarda.
Mas, “em Espanha, também existem excelentes azeites, o que está muito relacionado com as práticas agrícolas e com oterroir“, afirma Pilar Abreu e Lima, filha do fundador da Magna Olea.
Uma profissão que depende das condições climatéricas
Portugal tem condições bastante vantajosas para a produção de azeite. Todavia, é uma profissão que depende das condições climatéricas. Não se pode controlar a mãe natureza e por vezes o desfecho não é o melhor. Que o diga Pilar Abreu e Lima, marketter da Magna Olea, que viu, em 2006, um incêndio consumir cerca de 13 hectares de olivais da propriedade.
“O incêndio condicionou-nos muito a produção. As oliveiras mais antigas e mais produtivas arderam. Nesta altura do campeonato era esperada uma produção anual entre sete a dez mil litros de azeite, com este incidente só conseguimos produzir cerca de três mil litros de azeite”, destaca com tristeza Pilar Abreu e Lima.
Com uma história bastante semelhante, Ricardo Cardoso, administrador da Casa da Oliveira Brava, conta ao ECO que, nos finais dos anos 60, o moinho de água, conhecido como azenha, foi destruído por uma tempestade seguida de uma tromba de água. Descreve que “nessa altura, iniciou-se uma fase tíbia e quase de abandono, pela minha família, pelo menos na forma e na dedicação que até então era dedicada à olivicultura”. Todavia como a paixão falou mais alto, em 2013, Ricardo Cardoso abandonou a sua atividade profissional para se dedicar, de corpo e alma, à olivicultura e foi nessa altura que nasce o nome Casa da Oliveira Brava, quinta e lagar de azeite, fundada pelo seu bisavó em 1859, do qual após a tempestade nada restou.
O setor, só em Portugal, emprega cerca de 32 mil pessoas a tempo inteiro, apesar da sazonalidade de muitas das tarefas realizadas na cadeia de valor. De acordo com o INE, este emprego está distribuído 79% na olivicultura, 12% na produção de azeite, 7% na comercialização e 2% na refinação. Nos últimos três anos o volume de negócios foi superior a 620 milhões de euros, o que representa um valor 2,5 vezes superior ao volume de negócios do triénio 2010 a 2012.
Em apenas 18 anos a produtividade média quadruplicou
Portugal é o sétimo maior exportador mundial de azeite. As exportações nacionais de azeite têm crescido de forma muito marcada nos últimos anos tendo atingido, em 2017, um valor próximo dos 500 milhões de euros, em comparação aos 80 milhões de euros, em 2005, segundo o estudo o “Alentejo: a liderar a olivicultura moderna internacional”.
A Oliveira da Serra confirma a tendência e destaca que no caso da empresa, que emprega 1.300 colaboradores a nível mundial, “a exportação de azeite tem vindo a aumentar e, atualmente, o nosso azeite chega a cerca de 70 países”, salienta com orgulho Otto da Cruz. Os principais clientes encontram-se principalmente na Europa, América Latina e Ásia. Segundo o diretor de vendas, “o Brasil é, atualmente, o país que tem apresentado maior crescimento”.
Na Herdade Maria da Guarda apenas 3% da produção destina-se ao mercado nacional. A exportação representa 97% das vendas, sendo os EUA, Itália e Espanha os principais mercados da empresa. Já a Quinta do Crasto exporta cerca de 60 mil garrafas de azeite por ano e é em Portugal e no Brasil que tem os seus principais clientes. A Bélgica, Suíça, Luxemburgo, Alemanha e Dinamarca são os principais mercados da Quinta do Crasto a nível europeu.
Na Magna Olea 60% do azeite produzido por terras transmontanas é direcionado ao mercado externo. A empresa familiar tem exclusividade na Polónia, embora esteja a abrir portas no Luxemburgo, Alemanha, França e EUA.
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