Vem aí uma segunda volta no PSD. O que une e separa Rio e Montenegro?

Montenegro vai concentrar-se nos eleitores de Pinto Luz que lhe dariam 50,56% dos votos na segunda volta. Rio diz que vitória foi tão expressiva que poderia bater porta a porta para conseguir vencer.

Foi por uma unha negra que Rui Rio não conseguiu vencer as eleições diretas do PSD. Mais exatamente por 344 votos, os 0,56% que o presidente do PSD e candidato a liderança do partido repetiu por diversas vezes durante a noite. O “poucochinho”, que Rio comparou aos 595 milhões de euros de despesa que o Governo parte do princípio que não irá executar para garantir o excedente de 0,2% em 2020, teria sido suficiente para uma vitória, de acordo com as regras antigas. Mas com Rio “nada é fácil” e, na próxima semana, Rui Rio e Luís Montenegro vão dar o tudo por tudo para vencer no novo ato eleitoral marcado para dia 18.

Os eleitores do PSD — 40.404, o valor mais baixo de sempre na história do partido — vão ter de escolher entre dois candidatos que não defendem ideias assim tão diferentes para o partido, a avaliar pelos seus discursos na noite de sábado. A diferença está, sobretudo, no estilo.

Vencer as autárquicas

Tanto Rio como Montenegro frisaram que as eleições autárquicas são o primeiro passo fundamental para a estratégia de “recuperação da confiança dos portugueses no PSD”, que poderá culminar na vitória das próximas eleições autárquicas.

Luís Montenegro, nas três “preocupações” que elencou, sublinhou que a “ambição” é fundamental. “Hoje começa um futuro novo, com ambição de vencer as eleições autárquicas e legislativa, ambição de governar Portugal com vontade de mudança e espírito reformista”, disse o candidato.

Já Rui Rio explicou: “Se aumentarmos implantação autárquica, abrirmos o partido à sociedade e se fizermos uma oposição construtiva não tenho a mínima dúvida de que vamos voltar a merecer a confiança dos portugueses”, disse o presidente do PSD. “É vital conseguir ganhar muitas mais câmaras e juntas de freguesia e muitos mais vereadores. Esta é uma prioridade”, elencou Rio, sublinhando o seu “gosto pelo poder local”. Depois defendeu que os “partidos políticos têm de oferecer mais do que oferecem e ser mais do que uma agência de distribuição de lugares“.

Unir o PSD

Mas para que o partido possa ir mais longe é necessário estar unido. Ambos os candidatos deixaram essa ideia bem clara nos seus discursos, mas de forma bem diferente e ilustrativa que o machado de guerra está longe de estar enterrado.

Luís Montenegro frisou que “o companheiro Rui Rio” “não é o adversário” e que lhe “merece o maior respeito”. No entanto, “diverge” da sua “estratégia a adotar no futuro”. Por isso, aproveitou o seu discurso, sem direito a perguntas, para piscar o olho aos 2.878 militantes que votaram em Miguel Pinto Luz. “Se for eleito líder do PSD contarei com ele [Miguel Pinto Luz] para os desafios que temos de enfrentar“, disse Montenegro, que obteve 12.767 votos, correspondentes a 41,26%. Ainda assim disse ter a preocupação de ser um “líder agregador”. “Se tiver a confiança dos eleitores farei questão de ter nas minhas listas pessoas que estiveram ao lado de Rui Rio e de Miguel Pinto Luz“, frisou.

Minutos depois Rui Rio respondeu. Se vencer o atual presidente quer contar com ambos. Se ganhar Rio pretende contar não só com Miguel Pinto Luz e os seus apoiantes, mas também com Luís Montenegro e respetivos apoiantes. E numa estocada às velhas guerras no partido, que nos últimos dois anos impediram o PSD de ir mais longe, segundo Rio, lembrou que os 15.301 militantes que votaram nele o fizeram em consciência e não em troca de lugares. Rio acrescentou depois que na origem das zangas entre militantes devem estar ideias e não lugares.

Fazer oposição

A forma de fazer oposição ao Governo é o ponto no qual os dois candidatos mais se distanciam. Montenegro voltou a sublinhar que o seu “verdadeiro adversário é António Costa e o Partido Socialista”. Por isso, caso seja eleito presidente do PSD, terá uma “estratégia de oposição firme” em alternativa à levada a cabo por Rio, com a qual não concorda e que já classificou de submissa. O antigo líder da bancada parlamentar do PSD critica o facto de Rui Rio insistir em querer fazer pontes com o PS, nas reformas estruturais quando, na sua avaliação, o PS não as quer fazer.

Neste capítulo, Rio prometeu mais do mesmo. É necessário fazer uma “oposição construtiva” e “concordar com as propostas em função do seu mérito e não de quem as apresenta”, disse no seu discurso. “Na política, não somos inimigos, mas adversários”, acrescentou ainda em jeito de resposta às clarificações de Montenegro sobre quem é o alvo da sua campanha. “Todos queremos servir o país, mas temos óticas diferentes”, frisou Rio, em mais um ataque ao seu adversário do próximo sábado. “Servimos o país no Governo, mas também na oposição. Temos a obrigação de denunciar o que está mal, mas criticar sem argumentos e fundamentação não credibiliza a política e, no nosso caso o PSD”, afirmou.

Debater ou não debater

E porque a experiência passada de debate nestas eleições internas do PSD não credibilizou o partido, antes pelo contrário, na opinião de Rui Rio, o atual presidente do partido não aceitou o repto de Luís Montenegro de fazer um novo debate televisivo na próxima semana. “Participei num debate que não foi nada prestigiante para o PSD. Não gostei e não serviu para esclarecer os militantes do PSD que já estão largamente esclarecidos”, disse Rio quando questionado se aceitava o convite. O responsável acrescentou ainda que este tipo de debates, em eleições internas, acabam por não fazer bem ao partido e que já tinha tido uma experiência passada com Pedro Santana Lopes, mas “foi um bocado melhor”.

A sugestão de debate televisivo é apenas um dos pontos que ilustra a diferença de estilos dos dois candidatos. Para conquistar a vitória nas urnas no próximo dia 18, Rio diz que os 0,56% que lhe faltaram para conquistar a maioria são tão “pouquinhos” que poderia “bater à porta de um a um” para os convencer a votar em si. “A única coisa que peço é que o voto seja completamente livre, que as pessoas pensem pela sua cabeça”, acrescentou.

Mas deixou um recado: a unidade faz-se mais facilmente “em torno do mais forte do que do mais fraco que tem menos votos”. “Matematicamente, bastava alguns apoiantes do Miguel Pinto Luz não votarem e a percentagem passa para meu favor”, sublinhou Rio.

É nos eleitores de Pinto Luz que Montenegro vai concentrar a sua atenção, dado que se votassem nele na segunda volta, garantir-lhe-iam 50,56% dos votos. Isto sem contar com o votos da Madeira que não entraram para as contas da primeira volta devido a inconformidades nos cadernos eleitorais, explicou presidente do Conselho de Jurisdição Nacional do PSD, José Manuel Nunes Liberato e que levaram Alberto João Jardim a pedir a impugnação dos resultados.

Montenegro pretende capitalizar os militantes do PSD que querem mudança — “foram mais os que votaram na mudança do que na continuidade”, disse à laia de interpretação dos resultados –, Rio apelou a mais um esforço aos militantes do PSD para voltarem às urnas no próximo sábado. A resposta poderá estar nas mãos dos 8.885 militantes que estavam em condições de votar mas não o fizeram.

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