“Big four” criticam novo modelo da CMVM. Atacam custos elevados e falta de tempo

Supervisor tem novo modelo de qualidade de auditoria, a ser implementado este ano. As maiores auditoras criticam custos da elevada complexidade do modelo. E o pouco tempo de adaptação.

A supervisão da auditoria vai ser mais apertada com a entrada em vigor de um Guia de Aplicação de Indicadores de Qualidade da Auditoria. O documento final foi publicado esta segunda-feira pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), após uma consulta pública em que as maiores organizações dizem ter pouco tempo para se adaptarem, criticam os custos criados pela elevada complexidade e alertam para o risco de enviesamento na análise das conclusões.

A opinião geral das big four da auditoria — Deloitte, Ernest and Young (EY), KPMG e Pricewatercoopers (PwC) — sobre o modelo de indicadores de qualidade de auditoria (AQI) português até é positiva. A Deloitte diz que “compreende a introdução de um modelo de AQI”, a EY “saúda a iniciativa”, a PwC “reconhece a importância” dos indicadores e a KPMG vê “o mérito de colocar a qualidade da auditoria no topo da agenda”.

Mas as auditoras têm críticas ao modelo, no qual a CMVM pede às seis maiores organizações (além das big four, são também abrangidas a BDO e a Mazars) para lhe enviarem dados sobre os maiores negócios que têm. No primeiro ano de implementação, o reporte — dos indicadores e métricas de firma e de projetos de auditoria de uma amostra de 25 grupos económicos relativos a 2019 — deverão acontecer até final de setembro.

Tempo limitado e custos elevados

O prazo é a principal crítica entre as cinco auditoras que responderam à consulta pública (apenas a Mazars não o fez). “Reconhece-se que a implementação de um modelo de indicadores de qualidade envolve alguns desafios que os auditores devem ter presentes”, sublinha a EY.

A auditora solicita que “seja concedido aos auditores um período de adaptação razoável” para aprovarem políticas internas de definição dos indicadores, adaptar sistemas de informação à necessidade de calcular indicadores, definir responsabilidades internas pela monitorização, formar colaboradores com a responsabilidade de preparar indicadores e informar as equipas de auditoria sobre a relevância dos indicadores definidos contextualizando que os mesmos poderão constituir uma perceção externa sobre a qualidade da auditoria.

E a “complexidade” que apontam às novas obrigações não se reflete só no tempo disponível, mas também nos recursos. A Deloitte concorda que será necessário adaptar-se, uma “necessidade” que terá “custos significativos”. Este montante não será “certamente, facilmente repercutidos nos honorários cobrados, nem representam um investimento efetivo na qualidade dos trabalhos de auditoria”, na perspetiva da auditora.

Estas críticas foram feitas antes da publicação da versão final. Neste caso, a CMVM “reconhece os desafios” que a implementação do modelo acarreta, mas considera “que os benefícios associados à sistematização de informação sobre AQI compensam os custos associados a essa adaptação”. Justifica que as principais firmas de auditoria já utilizam alguns dados relacionados com os indicadores ou métricas previstos e que, no médio prazo, irá robustecer o sistema de controlo de qualidade interno.

Risco de enviesar conclusões

Com o guia publicado, Portugal junta-se a um grupo de jurisdições com modelos implementados de indicadores de qualidade de auditoria como EUA, Canadá, Reino Unido, Holanda e Singapura. O modelo português prevê oito indicadores e 15 métricas relativas a aspetos do processo de auditoria financeira considerados relevantes para promover a qualidade da auditoria, cobrindo dimensões quantitativas de atividade, mas também aspetos qualitativos quanto à forma como é exercida a profissão.

O facto de haver indicadores qualitativos é também alvo de crítica já que poderá levar ao “enviesamento das conclusões”, como aponta a PwC. “No que aos AQI respeita, não se pode considerar que existem indicadores «certos» ou «errados». Por exemplo, em algumas circunstâncias o número de horas de um sócio pode estar diretamente influenciado pelo maior ou menor número de horas de staff com elevada senioridade, não sendo indicador exclusivo de qualidade do serviço prestado”, aponta.

Também neste caso a CMVM reconhece as críticas de quatro entidades que responderam à consulta pública (além das auditoras, houve ainda associações e cotadas) sobre o risco de falta de contexto poder conduzir a leituras enviesadas e à obtenção de conclusões erradas, nomeadamente pelos órgãos de fiscalização das entidades auditadas, tendo clarificado esta questão.

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