“Estado é um obstáculo claro ao desenvolvimento de projetos imobiliários”, diz CEO da Savills
O CEO da Savills aponta o dedo ao Estado no problema da habitação no país. Para além das constantes alterações legislativas, Paulo Silva lamenta ainda os atrasos nos licenciamentos.
Numa altura em que se preparam travões aos golden visa e um maior controlo ao Alojamento Local (AL), as consultoras imobiliárias alertam para as consequências que isto trará para o setor. E o CEO da Savills não é exceção. Para Paulo Silva, as constantes mudanças legislativas só prejudicam o mercado e o Estado funciona mesmo como um “obstáculo” ao aparecimento de novos projetos. A mudança devia começar por acelerar no licenciamento dos processos e por dar mais incentivos à iniciativa privada.
“O Estado é um obstáculo claro ao desenvolvimento de projetos imobiliários”, disse o CEO da consultora esta quinta-feira, durante a apresentação do Residencial Market Report, um estudo que antecipa o aparecimento de cerca de 18.000 apartamentos no Porto, Lisboa e Algarve nos próximos dois a três anos. Mas este número poderia ser bem superior, se o Estado oferecesse mais incentivos.
Paulo Silva explicou que a “falta de estabilidade legislativa” está a deixar os promotores e investidores imobiliários de pé atrás. E deu como exemplo os recentes travões que foram aprovados aos vistos gold. “Os investidores não gostam desta instabilidade. É extremamente importante que haja um quadro de estabilidade para que as expectativas que os levaram a investir no imobiliário sejam cumpridas”, disse, em declarações ao ECO.
Sublinhando que “o imobiliário não poderá ser um investimento volátil”, o CEO da Savills diz que o Estado tem de perceber “o que é estratégico” e “onde pode atuar”. “Isto não é uma questão de o Estado não ter de fazer nada, porque tem! Tem uma missão importante, que é perceber onde é que os agentes económicos não têm incentivo para intervir“, continuou.
“A responsabilidade do problema da habitação é muito do Estado”, disse. Uma culpa já por várias vezes assumida pelo próprio ministro da Habitação. O Governo “precisa de criar condições para que o mercado ou o próprio Estado possa oferecer condições” de habitação aos portugueses. E, continuou. Se a responsabilidade for do Estado, este deve “posicionar-se e promover esta oferta” mas, se não quiser ter essa responsabilidade, deve “criar as condições através do desenvolvimento de medidas que sejam atrativas para a iniciativa privada”.
“Se as medidas forem criadas, a iniciativa privada pode ser mais pró-ativa”, afirmou, mas destacando que o papel de oferecer mais habitação às pessoas não é da iniciativa privada. “A iniciativa privada tem um objetivo que é o de ganhar dinheiro no desenvolvimento dos projetos”, notou, acrescentando que “não podemos esperar que façam coisas que logo à partida não lhes vão dar dinheiro a ganhar”.
Contratação de arquitetos pela Câmara de Lisboa é uma “admissão” de culpa
No final de janeiro, durante a tomada de posse da nova direção da APEMIP, Fernando Medina anunciou que a Câmara de Lisboa contratou uma equipa de 47 arquitetos para acelerar os processos de licenciamento, um problema já há muito apontado pelo setor. “Temos bem consciência do que temos a fazer do ponto de vista do licenciamento urbanístico em Lisboa”, disse, na altura, o autarca, acrescentando estar a resolver este problema.
Para o CEO da Savills, essa contratação “é a consciência de que há entropias”. “Só o número em si é relativamente grande e vem mostrar a ineficiência que existia. E claramente que isto é uma entropia em relação ao desenvolvimento dos projetos”, disse, em declarações ao ECO.
Questionado se esta nova equipa poderá ser uma espécie de admissão de culpa da autarquia, Paulo Silva respondeu afirmativamente. “Não é uma espécie de admissão, é claramente uma admissão”, atirou, afirmando que a Câmara de Lisboa “tem a obrigação de fazer isto”.
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