Neeleman fica na TAP, mesmo com entrada da Lufthansa

A Lufthansa poderá entrar no capital da TAP, alinhada com a United, ambas pertencentes à Star Alliance, mas David Neeleman não sai.

David Neeleman vai manter-se como acionista da TAP mesmo que a Lufthansa venha a entrar no capital da companhia aérea portuguesa, em alinhamento com a United Airlines, apurou o ECO junto de fontes que conhecem as negociações. Neeleman é o maior acionista privado da TAP, através da Atlantic Gateway, holding na qual também está o empresário português Humberto Pedrosa que tem 45% da TAP, e está a negociar a venda de sua posição em duas fases.

Como o ECO revelou em primeira mão, a Lufthansa é o principal candidato a entrar no capital da TAP, é com esta companhia que David Neeleman tem os contactos mais adiantados, e o negócio poderá ser anunciado nas próximas semanas. Mas esta não é a única alternativa. A United Airlines está alinhada com a Lufthansa nesta operação, e têm uma vantagem: pertencem à Star Alliance, uma das alianças estratégicas internacionais na qual também pertence a TAP. A outra grande aliança internacional é a One World.

O empresário americano quer vender a sua posição na Atlantic Gateway, desde logo para financiar um novo projeto que tem para os EUA, com vista a ligar diretamente por via aérea segundas cidades do país, portanto, sem necessidade de passar pelos principais ‘hubs’. Mas há um “pormaior”, o preço. De acordo com o acordo parassocial assinado entre o Estado e a Atlantic Gateway, Neeleman pode desencadear uma operação de mercado se a valorização da TAP ultrapassar os 600 milhões de euros. E o Governo nada poderia fazer, a não ser pagar ao próprio David Neeleman. Neste quadro, Humberto Pedrosa é um aliado do Governo e vai manter-se na estrutura de capital da TAP mesmo com a saída total ou parcial de Neeleman.

A Lufthansa, como outros operadores da indústria, quer entrar no capital da TAP, e manter a autonomia da companhia, para aceder os mercados das “américas”, daí também o envolvimento da United neste negócio, e de África. Mas, mesmo com um acordo financeiro, quer fazer o negócio em dois passos: Entrar primeiro com uma participação mais pequena e, a confirmarem-se as projeções de David Neeleman e da “sua” equipa executiva, liderada por Antonoaldo Neves, haverá um reforço do capital e, aí sim, com a saída de Neeleman do capital da TAP. Oficialmente, nenhuma das partes faz comentários a este negócio que é, na verdade, um modelo que interessa aos dois lados.

Do lado dos alemães está o Governo. Em privado, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, já manifestou o desejo de ver a Lufthansa como acionista da TAP, e a saída de Neeleman e da equipa de gestão executiva. E é também por causa desta preferência do Governo que a Lufthansa considera ter um upside de negociação em relação a outras companhias. Mas isso não chega.

Há outras formas de o Estado e a Atlantic Gateway ultrapassarem impasses. Em 2017, com o Governo de António Costa, a reconfiguração da estrutura acionista da TAP levou também à revisão do parassocial entre a Atlantic Gateway e a Parpública, um acordo que, no limite, admite que surgindo “situações de bloqueio da tomada de decisão na Assembleia Geral e no Conselho de Administração”, o Estado pode executar uma opção de compra e recuperar os 100% da companhia.

O parassocial inclui uma opção de venda ou de compra como forma de resolver eventuais “situações de bloqueio ou de incumprimento insanáveis por outros mecanismos”, fixando mesmo as regras para que se exerçam tais opções, incluindo para a determinação do preço. “Deste modo e para as situações de bloqueio insanável: a) Se a Parpública exercer a opção de compra, comprará as ações da Atlantic Gateway pelo preço resultante de uma avaliação independente acrescido de 20%; b) Se a Atlantic Gateway exercer a opção de venda, venderá as suas ações à Parpública pelo preço resultante da avaliação independente”, lê-se num relatório do Tribunal de Contas que revelou estes pormenores.

Em 2019, recorde-se, naquele que foi “um ano de investimento e transformação” para a TAP, a empresa registou um prejuízo de 105,6 milhões de euros, tal como o ECO já tinha adiantado em primeira mão. Em comunicado, a companhia aérea justifica este desempenho (que melhorou ligeiramente face a 2018) com o investimento de mais de 1,5 mil milhões de euros na renovação da frota.

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