Quatro centrais poluentes fecharam portas na última década. Ainda há sete a gerar eletricidade em Portugal
Portugal tem ainda quatro centrais termoelétricas a cargo da EDP, mas o país conta com sete destas unidades no total.
Localizada à entrada da península da Mitrena, na zona industrial de Setúbal, nos seus tempos de glória a velhinha central da EDP consumia cerca de 5.280 toneladas de fuelóleo por dia, e durante vários anos foi fundamental para o abastecimento de energia elétrica ao país. Até à abertura da central a carvão em Sines, em 1985, era mesmo o maior centro produtor de energia a nível nacional: 1GW de potência instalada, com 4 grupos geradores. No pico de atividade, trabalharam lá cerca de 250 pessoas, lembra a EDP
Foi também a primeira central de geração de energia elétrica em Portugal a ter o Sistema de Gestão Ambiental certificado por uma entidade externa.
Cada uma das chaminés agora deitadas abaixo pela empresa Maxam, especialista na utilização de explosivos (tendo para isso sido estabelecido um perímetro de segurança urbano), mede mais de 200 metros de altura, o equivalente a um prédio de cerca de 60 andares. Durante décadas fizeram parte da paisagem do estuário do Sado e chegam a ser visíveis desde o Castelo de Palmela.
Para a EDP, esta é “mais uma etapa no processo de desmantelamento da central, que iniciou a sua desativação em 2013”. Neste momento, 60% da central está demolida, projeto no qual trabalham cerca de 40 pessoas e que deverá ficar concluído no final de 2020, pela mão de um consórcio entre a Ambigroup e a Ambiservice. Para 2021 estão previstas atividades de requalificação ambiental do terreno da central, em coordenação com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
“Este processo de desmantelamento também promove a economia circular ao reaproveitar, reutilizar e reciclar grande parte (cerca de 92%) dos materiais oriundos do processo de desmantelamento e demolição”, garante a EDP. Para isso, explica a elétrica, “parte do volume dos resíduos da demolição será usado para o preenchimento de vazios resultantes do desmantelamento de equipamentos e da estrutura própria da central”.
“Com este desmantelamento da central de Setúbal, criam-se as condições para viabilizar um espaço que possa receber projetos sustentáveis”, remata a elétrica, que ainda não tem planos concretos para ocupar o espaço que agora ficará livre com a demolição.
Em 2020, Portugal tem ainda quatro centrais termoelétricas a cargo da EDP, mas o país conta com sete destas unidades no total, se somarmos a central a carvão do Pego em Abrantes, da Tejo Energia (detida pela espanhola Endesa), e as centrais a gás natural também no Pego e na Tapada do Outeiro, em Gondomar, esta última da TrustEnergy (joint-venture entre a francesa ENGIE e a japonesa Marubeni).
De acordo com a associação ambientalista Zero, as centrais a carvão de Sines e do Pego são as principais emissoras de dióxido de carbono em Portugal, responsáveis por 15% do total de emissões de dióxido de carbono-equivalente registadas em 2017. A situação mostra a urgência de substituir estas instalações por “centrais de ciclo combinado a gás natural”, numa primeira fase, e depois, “por fontes de energia limpa”, defende a associação.
No Pego, Governo e Endesa estão a estudar a possibilidade de adaptar a central para a biomassa, com um concurso que vai ser lançado este ano, enquanto em Sines, o Ministério do Ambiente e Ação Climática desafiou a EDP a estudar a adaptação da central, em si, para o hidrogénio verde, mas a empresa afasta esse cenário, para já. Segundo a Zero, a produção de eletricidade é responsável por um quinto do total de emissões de gases do país, ocupando o topo da lista dos 10 maiores poluidores.
Ainda assim, dados da APREN mostram que no primeiro mês do ano, as energias renováveis foram responsáveis por 67,9% da geração de eletricidade, enquanto as fontes fósseis ficaram com os restantes 32,1% (22,5% gás natural, 7,7% cogeração fóssil e 2% carvão). Há um ano, a eletricidade de origem poluente dizia ainda respeito a quase metade da produção (45,6%).
Na década passada fecharam portas várias gigantes poluentes da EDP como a Central do Barreiro (fecho em 2010, desmantelamento concluído), a Central do Carregado (na foto de destaque da notícia, fecho em 2012, desmantelamento em curso), a Central de Setúbal (fecho em 2013, desmantelamento em curso) e a Central de Tunes (fecho em 2014, desativação em curso).
Para o futuro da central de ciclo combinado do Ribatejo, a EDP revelou já a intenção de desenvolver um projeto-piloto de produção de hidrogénio com armazenamento, com o apoio da União Europeia. A partir de 2022 o piloto de demonstração à escala industrial terá um eletrolisador com capacidade instalada de 1MW e 12 MWh de capacidade de armazenamento.
Com este projeto, a EDP pretende “ganhar experiência na produção de hidrogénio e na sua reconversão em eletricidade”, admite a empresa.
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