Duendes, os verdadeiros protagonistas do século

A minha filha perseguiu-me durante dias para que eu mandasse pelo correio a lista de presentes de Natal dela ao Pai Natal, mas eu acabava sempre por adiar o envio. Esta semana, ela mudou de opinião: disse-me que lhe parecia bem que esperássemos até a última hora para mandar a lista porque “a maioria dos brinquedos é feita por máquinas, e os duendes só têm de ligá-las”.

Parece que até uma criança de cinco anos entende como o fabrico moderno mudou, e a compreensão dela fez-me pensar sobre o futuro dos empregos dos duendes. Graças ao desenvolvimento da automação das máquinas, a tecnologia dos duendes está a ficar muito boa. Os engenheiros estão a concentrar esforços pra criar “a máquina que construa a máquina” e prometem cuspir brinquedos tão rapidamente como uma máquina de bolhas a cuspir bolhas. Mas o que acontecerá aos duendes que passaram gerações e gerações a martelar brinquedos na oficina do Pai Natal?

Os empregos de indústria no Pólo Norte caíram para os níveis mais baixos em 70 anos, apesar de a produção de brinquedos ter atingido recordes. O problema não é a terceirização – é a automação, que corresponde a cerca de 88% dessas perdas entre 2000 e 2010, segundo um estudo feito por investigadores da Ball State University.

E a tendência é para vai piorar. No futuro próximo, a automação substituirá caminhoneiros, trabalhadores do varejo e até mesmo advogados e contadores. Quase metade dos empregos de hoje estão expostos à substituição por robôs e pela inteligência artificial nas próximas duas décadas, segundo um estudo da Universidade de Oxford.

Reviravolta

A economia avança para uma explosão evolutiva à altura da revolução industrial. Essa mudança aumentou a qualidade de vida no mundo inteiro, mas veio acompanhada de um enorme sofrimento porque gerações de artesãos foram expulsas de suas profissões por linhas fabris mais eficientes.

A automação não é a única ameaça enfrentada pelos duendes: as alterações climáticas estão a redesenhar dramaticamente o Ártico — que aquece ao dobro da velocidade da média global. Os níveis de gelo estão a diminuir há décadas e a atingir novos recordes negativos para esta época do ano. Em vésperas de Natal, uma época normalmente gelada em que o gelo deveria estar a acumular-se, projeta-se que as temperaturas no Pólo Norte atinjam níveis incríveis entre os 30 e os 50 graus Fahrenheit acima do normal. Isto faz com que seja cada vez mais complicado encontrar imóveis para a oficina do Pai Natal.

Estas são duas ameaças da nossa era – a transição para uma economia automatizada e as mudanças climáticas – e os duendes no norte estão a senti-las na pele. O sonho de duende normal é trocar um bom dia de trabalho a construir brinquedos por uma vida feliz. Mas fazer com que a automação trabalhe a nosso favor e reduzir o impacto da mudança do clima com energia limpa e carros elétricos também são oportunidades melhores. Este Natal, pense nos pequenos e em como podemos ajudar.