Procura de papel higiénico dispara. Renova aumenta produção e deixa de produzir papel higiénico preto

Numa altura de pandemia global, o ECO foi bater à porta dos gestores que estão em teletrabalho em casa para uma conversa por telefone ou videochamada. O presidente da Renova foi o primeiro.

O presidente executivo da Renova está de quarentena, mas isso não o impede de gerir as várias fábricas de produção de papel higiénico, o produto do momento. Paulo Pereira da Silva é um dos muitos portugueses que está a trabalhar a partir de casa e o primeiro a ser entrevistado na nova rubrica diária do ECO chamada Gestores em teletrabalho.

O contacto com uma pessoa infetada com Covid-19 forçou-o a ficar fechado em casa em isolamento profilático. “Mas já só falta um dia para cumprir a quarenta de 14 dias“, conta ao ECO com satisfação. Sem exibir quaisquer sintomas, o responsável gosta de pensar que está a dar o exemplo, já que muita gente na empresa está a trabalhar a partir de casa. Os telefones e os computadores tornam tudo possível, garante.

Mas a peça fundamental são mesmo as centenas de colaboradores que asseguram o “funcionamento das fábricas 24 horas por dia, sete dias por semana”, com a máxima eficiência possível. “Foi preciso fazer algumas adaptações”, reconhece Paulo Pereira da Silva, seja para proteger os trabalhadores, seja para responder à procura desenfreado pelo produto.

“Ainda se vão escrever teses sobre isto”, diz. “Isto” é o fenómeno mundial de procura de papel higiénico. Não foi apenas em Portugal que a chegada do surto do coronavírus foi acompanhada de um esvaziar nas prateleiras dos supermercados. Nos Estados Unidos e Canadá, a venda de pacotes é limitada por pessoa, no Reino Unido o produto chegou a esgotar, tal como na China, Hong Kong e Austrália. No país dos coalas, os supermercados contrataram seguranças para vigiar os clientes.

Mas se de início as brincadeiras até eram bem recebidas, “agora já não”, admite Paulo Pereira da Silva. “Ter humor é bom, mas já não acho muita graça tendo em conta todo o nosso trabalho nas diferentes fábricas”, conta. Para responder a tanta procura foi necessário, por exemplo, deixar cair um dos produtos icónicos da marca — o papel higiénico preto. “Não estamos a fazer papel higiénico preto. Não nos vamos pôr a fazer um produto híper sofisticado onde até podemos ter uma margem enorme. Não faz sentido”, sublinha o empresário formado em Física. “Temos a linhas a trabalhar com a maior capacidade possível e estamos focados em produtos de enorme produtividade, que vão ao encontro das carências do mercado”, acrescenta.

Mas para responder à procura voraz do mercado foi também necessário desenvolver “um grande trabalho com os clientes” e “otimizar as cadeias de logística”, em todos os países em que a marca está presente, mas sobretudo em Portugal, Espanha e França. Podem sair mais camiões das fábricas, mas o facto de as paletes irem todas carregadas com o mesmo produto também ajuda. “Tem havido um enorme contacto com os nossos fornecedores e toda a cadeia de logística para simplificar as coisas e os transportes serem mais eficazes”.

Ciente de que nada era possível sem as equipas que diariamente asseguram que toda a máquina permanece oleada — nas fábricas, nos escritórios, nos centros de logística ou nas lojas —, Paulo Pereira da Silva até recorreu às redes sociais para agradecer o esforço de todos.

Nas fábricas o segredo foi tomar medidas de prevenção desde cedo, assim que se percebeu que Portugal não iria escapar incólume. Há cerca de um mês que foram proibidas as visitas às fábricas, assim como as viagens ao estrangeiro, ou as visitas de técnicos estrangeiros e partes das equipas estão a funcionar em teletrabalho. Para além das recomendações que a Direção Geral de Saúde direcionadas às empresas, que passam pelos avisos para a lavagem frequente das mãos, o uso de álcool gel, foi necessário adaptar a cantina, entre outras mudanças, para diminuir o contacto social e, consequentemente, os riscos.

Mas além das mudanças na sua equipa, Paulo Pereira da Silva antecipa fortes mudanças na sociedade, decorrentes desta “experiência diferente”. O surto da epidemia que já escalou a pandemia, e que “não tem fronteiras”, “vai ter um impacto brutal na economia e, provavelmente, na vida das pessoas”, antecipa o gestor. Qual a profundidade dessa mudança? “Ainda é muito cedo para avaliar”. Mas será “um fenómeno global que vai ser tão importante para esta geração como foi a Segunda Guerra Mundial para os nossos pais e avós”.

“Estas coisas precisam de uma grande união a nível internacional e não de gente a pensar que uma pessoa sozinha pode resolver alguma coisa. Gostaria que algumas entidades supra nacionais pudessem ajudar a gerir as coisas do ponto de vista técnico, como há um banco europeu, mas para assuntos ligados à saúde e ao bem-estar”, sugere.

Numa nota mais positiva, o físico, empresário e inventor espera que depois desta crise, as pessoas passem a “dar mais importância à família” e às coisas que são verdadeiramente importantes. “A verdade é que nunca falei com tanta gente e com tantos amigos como agora. Pode ser que a mudança seja nesse sentido…”

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