Morreu Vieira Monteiro, presidente do Santander Totta. Foi vítima do coronavírus
Presidente do banco estava internado há vários dias. Faleceu esta quarta-feira, tendo sido vítima do surto de coronavírus.
Morreu António Vieira Monteiro. Presidente do Banco Santander Totta, de 73 anos, estava internado há vários dias numa unidade hospitalar em Lisboa, mas acabou por não resistir à infeção pelo novo coronavírus.
A informação foi avançada em primeira mão pelo Expresso, tendo sido entretanto confirmada pelo ECO junto de fonte oficial do banco atualmente liderado por Pedro Castro e Almeida.
O Santander já confirmou oficialmente a morte de Vieira Monteiro. “Durante a sua liderança, o Banco consolidou e expandiu a sua atividade em Portugal, mantendo em permanência o rigor e a determinação que sempre o caracterizaram”, disse o banco em comunicado. “O legado de António Vieira Monteiro permanecerá sempre connosco“, adiantou ainda.
Pedro Castro e Almeida, que sucedeu a Vieira Monteiro há dois anos como CEO do banco, afirmou: “Durante a liderança de António Vieira Monteiro, da qual tive o privilégio de fazer parte, pude sempre constatar a sua perseverança para tornar o Santander em Portugal numa instituição de referência. Vieira Monteiro era um profundo conhecedor do setor bancário, no qual trabalhou ao longo de várias décadas, tendo contribuído de forma muito relevante para aquilo que o Santander em Portugal é hoje”.
Vieira Monteiro esteve de quarentena no início deste mês depois de ter regressado do norte de Itália, tendo começado a ter sintomas da doença neste período. Segundo o Observador, esteve internado no Curry Cabral, tendo falecido no São José, hospital para onde foi transferido.
O gestor foi, assim, a segunda vítima mortal do Covid-19 em Portugal, depois de na segunda-feira ter sido anunciado pela ministra da Saúde, Marta Temido, a primeira vítima desta pandemia.
Com 73 anos, prestes a fazer 74, Vieira Monteiro não resistiu à infeção pelo coronavírus, surto pandémico que já infetou até ao momento mais de quatro centenas de portugueses, num total de mais de 180 mil pessoas em todo o mundo.
Vieira Monteiro sucedeu a Nuno Amado na liderança dos destinos do Santander em Portugal em 2012. Liderou o banco durante o período da troika, tendo saído do cargo em 2018, ficando a posição de CEO para Pedro Castro e Almeida. Desde então, assumiu a presidência do conselho de administração do Santander.
Antes de chegar a CEO do banco, Vieira Monteiro desempenhava o cargo de administrador executivo do Santander Totta, tendo à sua responsabilidade os pelouros de riscos, recuperações, universidades, desinvestimentos e também o Banco Totta Angola.
Gestores recordam “liderança ativa” de Vieira Monteiro
Perante esta notícia, as reações ao falecimento de Vieira Monteiro já começaram a surgir.
Destacou-se pela “sua prestigiante carreira profissional no setor financeiro”, referiu o Banco de Portugal em comunicado. “Neste momento de perda e de consternação, o governador e os membros do conselho de administração do Banco de Portugal expressam à família o seu mais profundo pesar”.
A Associação Portuguesa de Bancos (APB) frisou “a longa e brilhante carreira como gestor bancário, que protagonizou com evidentes resultados”. “Muito competente e rigoroso, tinha uma forte personalidade e firmeza de caráter, exercendo uma liderança efetiva. Enquanto membro da Direção da APB, exerceu com todo o empenho e dedicação as suas funções, assumindo posições e dando contributos muito relevantes para o desenvolvimento e fortalecimento do setor bancário nacional”, acrescentou a associação que representa o setor financeiro em Portugal.
Já o banco BCP “lamenta profundamente a morte de António Vieira Monteiro”, lembrando o gestor com um percurso de grande relevância na banca portuguesa, que deixa um legado notável no setor financeiro e na economia“.
“A segunda vítima mortal do Covid-19 foi o chairman do Santander Portugal. Um colega e que geriu tantas crises com sucesso, sucumbiu no início de outra. Lembra-nos F Froes [Filipe Froes, pneumologista]: esta crise vai exigir muito sangue e suor mas também algumas lágrimas. Adeus Vieira Monteiro”, escreveu no Twitter o presidente executivo do Novo Banco, António Ramalho.
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Também António Horta Osório, presidente do Lloyds, reagiu: “Foi com enorme tristeza que recebi a notícia da morte do António Vieira Monteiro esta madrugada. (…) O António era um homem com uma personalidade fortíssima, com uma enorme experiência de banca e, em particular, de Crédito e de Empresas. Desempenhou o seu papel no Conselho de forma exemplar, contribuindo assim muito para a afirmação e crescimento saudável do Santander Totta em Portugal”.
Na rádio Observador, Fernando Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), considerou que Vieira Monteiro teve uma carreira “brilhante”. Era “um gestor bancário com muitos anos de trabalho no setor, que teve uma carreira que considero brilhante, passando por várias instituições, deixando uma marca e culminando com o trabalho que fez no banco Santander”, considerou.
Faria de Oliveira disse ainda que Vieira Monteiro era uma “pessoa extremamente competente do ponto de vista técnico”, além de “inovadora”, por estar “sempre ao corrente da evolução do sistema bancário”. Por fim, o presidente da associação do setor disse que o chairman do Santander Portugal tinha uma “liderança muito ativa nas instituições”.
Ainda na rádio Observador, Nuno Amado, atual chairman do Millennium BCP e antecessor de Vieira Monteiro na liderança do Santander, reconheceu que Vieira Monteiro “era um excelente profissional de banca, com uma enorme experiência”. “Penso que dos melhores que o país tinha, com uma carreira excecional”, assumiu. Desta forma, Nuno Amado afirmou que “neste momento, é interessante lembrar que houve determinadas escolas bancárias que foram boas escolas para muito boas pessoas, quer do ponto de vista pessoal, quer do ponto de vista profissional”.
Já para Jardim Gonçalves, antigo fundador do BCP, esta foi uma notícia “inesperada” sobre um colega com quem conviveu “especialmente a nível da APB”, apesar de terem estado “sempre em instituições diferentes”. Na associação, tiveram “momentos de trabalhos juntos em relação a determinados problemas que surgiram em todos estes anos”, lembrou.
“Entrei no sistema [bancário] em 1970, ele já estava no sistema a nível diretivo. Há muito pouco tempo tivemos um contacto sobre este tema muito referido da banca portuguesa dominada por instituições estrangeiras. Sempre tivemos uma boa relação e ele mereceu todos os cargos que foi tendo”, disse Jardim Gonçalves.
Ainda mesma rádio, o advogado José Luís Moreira da Silva, que trabalhou com Vieira Monteiro na Caixa Geral de Depósitos, referiu que o colega “trouxe uma dinâmica” ao setor da banca de investimento. “Viu-se uma dinâmica de intervenção no setor empresarial económico e financeiro como nunca se tinha visto antes”, afirmou, concluindo: “Fiquei sempre com essa ideia da liderança de Vieira Monteiro”.
O reitor da Universidade Nova de Lisboa, João Sàágua, lembra Vieira Monteiro como “um homem que esteve sempre do lado das soluções” e com “um forte sentido de responsabilidade social”. Vieira Monteiro foi, durante oito anos, membro do conselho de Faculdade da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Nova e era membro do conselho geral da Nova.
(Notícia atualizada às 13h17 com reações à morte de Vieira Monteiro)
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