Prova dos 9: Banca pede spread de 3% no crédito a PME e financia-se a -0,75% como diz o sócio-gerente da Padaria Portuguesa?
Banco pediu spread de 3% para financiar a Padaria Portuguesa. O primeiro ministro diz que spreads vão variar entre 1% e 1,5%. O ECO confirmou os factos para perceber quem tem razão.
A Padaria Portuguesa está em dificuldades. Não será caso único, mas tornou-se público com a carta aberta escrita pelo sócio-gerente Nuno Carvalho ao ministro Pedro Siza Vieira. Esta empresa, tal como muitas outras que têm serviço ao público e se viram obrigadas a fechar devido ao surto de coronavírus, está a sofrer uma forte queda nas receitas.
A inesperada e abrupta quebra de faturação deixou a Padaria Portuguesa, pela primeira vez na história da empresa, sem receitas suficientes para cobrir custos operacionais e encargos financeiros. “Mantendo-se este cenário, já no próximo mês não teremos capacidade financeira para pagar salários aos mais de 1.200 colaboradores”, alerta Nuno Carvalho.
O gestor desta cadeia alimentar escreve ao ministro da Economia com o objetivo de mostrar que as medidas apresentadas pelo Governo para o setor da restauração “não resolvem os problemas urgentes que as empresas enfrentam”, criticando tanto o regime de lay-off como os termos da linha de crédito.
Nuno Carvalho diz que tentou aceder às linhas de crédito, abertas pelo Governo (num valor total de três mil milhões de euros), mas pediram-lhe um spread de 3%, uma taxa muito acima daquela à qual a banca se financia. A denúncia foi feita no mesmo dia em que o primeiro-ministro, António Costa, garantiu que os spreads iriam variar entre 1% e 1,5%.
Afinal qual é o spread? O ECO fez as contas.
A afirmação
“As linhas de crédito lançadas são um excelente instrumento para ajudar a tesouraria nesta fase. Mas tem sentido as condições de spread que os bancos estão a fazer?! Saberá o Governo que se estão a praticar spreads de 3% quando o BCE ficou taxas de juro de -0,75%?! É razoável os bancos aproveitarem esta crise para fazer negócio desta forma?!“.
As perguntas foram feitas por Nuno Carvalho, dirigindo-se ao ministro Siza Vieira, sobre as linhas de crédito anunciadas a semana passada pelo Executivo. Num total de 3,2 milhões de euros, 600 milhões de euros são direcionado para empresas da restauração e similares (dos quais 270 milhões são destinados a micro e pequenas empresas do mesmo setor).
As linhas de crédito lançadas são um excelente instrumento para ajudar a tesouraria nesta fase. Mas tem sentido as condições de spread que os bancos estão a fazer?! Saberá o Governo que se estão a praticar spreads de 3% quando o BCE ficou taxas de juro de -0,75%?! É razoável os bancos aproveitarem esta crise para fazer negócio desta forma?!
Além da afirmação do sócio-gerente da Padaria Portuguesa. Há outra afirmação relevante para o caso. O primeiro-ministro anunciou, também esta segunda-feira e em entrevista à TVI, que estes empréstimos às empresas terão um spread mínimo de 1% e máximo de 1,5%, consoante a maturidade que pode ir até quatro anos.
Os factos
As duas afirmações parecem contraditórias, mas não é assim tão simples. É que Nuno Carvalho não disse quando ou onde pediu a simulação, sendo que não é relevante qual o banco onde o fez já que os maiores bancos do país anunciaram que iriam alinhar na iniciativa que tem regras uniformizadas.
A primeira linha de crédito, disponibilizada através do sistema bancário com garantia do Estado, foi anunciada por António Costa no Parlamento, a 5 de março. Aos deputados, o primeiro-ministro disse que estava a ser preparada uma verba de 100 milhões de euros para apoiar as empresas afetadas pelo surto de coronavírus. Esse valor acabou por ser duplicado a 9 de março.
O valor dividia-se entre a Linha Covid-19 Fundo de Maneio (160 milhões de euros) e a Linha Covid-19 Plafond Tesouraria (40 milhões). O documento de divulgação Linha Capitalizar, consultado pelo ECO, mostra que os spreads vão desde 1,7% até 3,563%, dependendo do escalão da empresa (calculado tendo em conta a autonomia financeira e o rácio de dívida face ao EBITDA).
Spreads das primeiras linhas superam 3,5%
Na semana passada, o ministro da Economia anunciou um novo conjunto de linhas de crédito com um valor muito superior: três mil milhões de euros. Neste caso, os únicos dados conhecidos sobre os spreads foram os avançados por António Costa até porque o processo “ainda está a ser fechado com os bancos”, como explicou esta segunda-feira o primeiro-ministro.
Entre um anúncio e o outro, efetivamente, houve novas medidas de emergência do Banco Central Europeu (BCE), incluindo empréstimos de baixo custo (com a tal taxa de -0,75% referida pelo gestor) para incentivar os bancos a passarem liquidez para a economia, bem como um alívio dos requisitos de supervisão para que os bancos possam tomar mais risco sem serem penalizados.
Prova dos 9
As afirmações de Nuno Carvalho e António Costa não são afinal incompatíveis e ambas são verdadeiras. O banco a que o sócio-gerente da Padaria Portuguesa pode ter pedido um spread de 3% por um empréstimo, mas as novas linhas que estão a ser trabalhadas terão condições mais vantajosas.
Estas ainda não estão disponíveis às empresas, pelo que, para já, as existentes (que poderão ser fundidas quando as novas linhas foram lançadas ao público) são muito mais pequenas em montante e menos atrativas em termos de taxa. A promessa de António Costa é que o spread máximo seja metade desse: para um máximo de 1,5%.
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