Rita Cadillon, da Primavera: “O mercado não dá vazão a todas essas necessidades”

Na Primavera há menos de dois anos, os desafios de Rita Cadillon passam por atrair e reter talento. E convencer mais mulheres a trabalhar em tecnologia, a partir de Braga.

Uns, estão ali desde o dia 1. Outros, estão no seu dia 1, ali. Rita Cadillon é a moderadora nesta relação entre gerações dentro da Primavera, empresa portuguesa de software com 25 anos de história e com tantas histórias dentro. “A diversidade traz mais-valias, tanto em termos de género como em diversidade cultural. A Primavera começa agora a ter pessoas de outras nacionalidades, sobretudo brasileiros, e isso abre a cabeça das pessoas, torna-as mais tolerantes, fá-las trabalhar melhor em equipa”, começa por dizer a diretora de recursos humanos da tecnológica.

Com uma idade média de 39 anos, na Primavera um dos desafios para o futuro é equilibrar a presença de género em todas as áreas da empresa, que agora se encontra nos 34% de mulheres. “Temos algumas pessoas ainda da fundação da empresa temos ainda um mix de gerações, é bastante desequilibrado. Mas há mais. E Rita talvez nem sonhasse com o “hoje” quando decidiu estudar línguas e literaturas modernas (inglês/alemão) e tinha, na altura, “uma ideia um bocadinho romântica do que ia ser”.

“Queria ser tradutora numa editora”, conta à Pessoas. Acabada a licenciatura, concorreu à Bosch, empresa alemã que tinha posições abertas para a área de tradução. “Quando estava a terminar o estágio, fui convidada para integrar a área de logística e gestão de clientes, para contactar com os clientes da indústria automóvel, precisamente porque tinha a questão das línguas”, recorda. Sem outras perspetivas, aceitou. Anos mais tarde, a Bosch implementou um modelo de excelência do negócio, o european foundation for quality management, e Rita foi convidada para liderar esse projeto.

Nota-se mais na área tecnológica porque não há pessoas no mercado com as competências necessárias e imensas empresas que se instalaram, mesmo em Braga, e que estão à procura do mesmo.

“Não percebia nada da área de qualidade mas achei que podia ser um desafio interessante porque poderia contactar com todas as áreas da empresa, com visão mais estratégica, e ia contactar com os managers, ia ser um desafio interessante”. O contacto mais próximo com o diretor de recursos humanos, na altura, fê-la ficar mais sensível para a área das pessoas e levou a que o responsável a convidasse para liderar a área de formação na empresa. À formação juntaram-se outras responsabilidades como recrutamento, comunicação interna e, nos últimos anos, a área de recursos humanos evoluiu para um modelo de “HR business partner” o que aumentou as suas responsabilidades. “Nunca tive a sensação de aborrecimento, de rotina ou de estagnar na Bosch, porque estão sempre a acontecer coisas novas”, refere.

Em 2018, “sossegadinha” na empresa, chegou mais um desafio, pela primeira vez vindo de fora. A Primavera, que já conhecia relativamente bem, convidou-a a integrar a equipa como diretora de recursos humanos. “Há o desafio do tipo de negócio — tive de aprender o que era uma empresa de software. Depois, o modelo, o modo de funcionamento, os objetivos são outros. Aqui fala-se muito mais em negócio, em crescimento e números de faturação. Aqui, nesse aspeto, os recursos humanos são muito mais parceiros do negócio”, assinala. Pouco mais de um ano e meio depois de ter aceitado a função, Rita Cadillon sente-se cada dia mais próxima da nova linguagem apreendida, e cada dia mais ciente dos desafios que todas as tecnológicas têm em Portugal todos os dias: o da atração e o da retenção de talento.

Rita Cadillon, diretora de recursos humanos da Primavera Business Software Solutions.

“Nota-se mais na área tecnológica porque não há pessoas no mercado com as competências necessárias e imensas empresas que se instalaram, mesmo em Braga, e que estão à procura do mesmo. O mercado não dá vazão a todas essas necessidades”, alerta a responsável. Por isso, a estratégia passa por, por um lado, abrir e dar a conhecer a empresa – o perfil de Instagram, criado recentemente, é prova dessa estratégia – e, por outro, deixar que as pessoas a sintam como delas.

“A maior dificuldade era fazer perceber que a Primavera, só por si e por muito interessante que seja em termos de desafios ou crescimento, tem uma concorrência muito grande e isso não chega para se atrativa face à concorrência de outras empresas do mercado. (…) Queremos tornar a Primavera competitiva e tornar mais sexy para este tipo de população, que muda muito pelo desafio mas que está muito interessada em saber como é a vida na Primavera, como é o ambiente, como as pessoas interagem, ser uma montra do que é a empresa”. No entanto, para Rita, todas estas “estratégias” só fazem sentido se forem honestas. “Não podemos vender uma coisa que não existe, tem de ser sustentável e verdadeiro”, conclui.

2.400 euros para premiar a mudança

A tecnológica portuguesa Primavera, com sede em Braga e atividade em Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde, oferece 2.400 euros aos trabalhadores que aceitem mudar-se para Braga para trabalharem na empresa. A medida pretende ser um incentivo para atrair e reter talento na cidade nortenha, assim como criar condições para a empresa renovar e reforçar equipas.

“Com a oferta do Porto, embora Braga seja perto, tivemos necessidade de tomar medidas para atrair pessoas. E um jovem licenciado, para vir para Braga, tem de ter motivos fortes. Saem da faculdade e têm logo empresa à espera: criámos um subsídio de fixação de residência e, se quiserem mudar-se para Braga, recebem à cabeça 2.400 euros. Damos essa ajuda porque queremos que as pessoas se fixem e sabemos que se as pessoas vierem viver para Braga é mais fácil em termos de retenção”, detalha Rita Cadillon, diretora de recursos humanos da Primavera.

Além de uma ajuda em caso de mudança de residência, a Primavera ajuda ainda os trabalhadores com os transportes diários. A política de atração e retenção de talento passa ainda por dois dias adicionais de férias, o dia de aniversário livre e seguro de saúde, entre outros benefícios.

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