Clara Trindade, da L’Oréal: “A beleza está na diversidade”

Na L'Oréal Portugal desde 2016, Clara Trindade parece ter chegado a casa. A multinacional tem sérios compromissos com a igualdade, diversidade e aposta nos jovens. A beleza é haver espaço para tudo.

Quase vinte anos de carreira, três continentes e várias indústrias. O mundo enche o currículo de Clara Trindade, diretora de recursos humanos da L’Oréal Portugal desde setembro de 2016.

A primeira viagem além-fronteiras, fê-la com destino a Paris, em Erasmus na Sorbonne durante o curso de finanças na universidade. Por “coincidência”, conta, o caminho na área dos recursos humanos iniciou-se em 2000, quando ingressou um programa de trainees na Korn Ferry, por influência de quem conhecia a sua paixão por “interagir com pessoas”. O programa prolongou-se por uma carreira de dez anos na consultora, e o caminho fez-se por Espanha, Reino Unido, Alemanha, Marrocos e, finalmente, Brasil. Na América do Sul foi convidada para integrar um grupo que viria a desenvolver o que é hoje a Heineken Brasil. E por lá ficou outra década. Depois de sete anos no Brasil, já com dois filhos e uma vida agitada entre São Paulo e Nova Iorque, sentiu que era o momento de regressar a Portugal.

A chamada para a terra Natal surgiu com o desafio para assumir o cargo de diretora global da InterCiment, uma empresa de cimento, a partir de Portugal. Ano e meio depois, Clara Trindade chegava finalmente ao sítio onde “se sente em casa”, na multinacional de cosméticos L’Oréal. O propósito “beleza para todos” é “muito mais do que vender um champô”, explica. “Não há ninguém que, quando se sente belo não se sinta capaz de qualquer desafio. E isso é uma coisa que nos une de uma forma muito forte”, sublinha.

Clara Trindade é diretora de recursos humanos da L’Oréal Portugal.Hugo Amaral/ECO

A L’Oréal Portugal emprega 450 pessoas em solo nacional e 30 fora do país, com uma grande aposta nos jovens talentos e na diversidade. O recrutamento faz-se através dos programas de estágio, por referenciação de outros colaboradores ou oportunidades internas. “Procuramos pessoas que sejam curiosas, que tenham sede de evoluir, que estejam muito habituadas a esta cultura de falar. Na L’Oréal, brincamos dizendo que somos uma startup, mas com um bocadinho mais de dinheiro”.

Portugal é o segundo maior exportador de talentos da L’Oréal mas também sabe como atraí-los. Todos os anos, promove duas edições do Brandstorm, um programa destinado aos jovens universitários e que inclui um período de três meses na incubadora Station F, em Paris. Por cada 40 participantes, todos os anos são recrutados 10 para a L’Oréal Portugal. “O nosso grande objetivo, e como já dizia Fernando Pessoa, não é o tempo que dura mas a intensidade com que se vivem estas experiências. Por isso é que eu falo de sermos uma escola de talento”, sublinha.

"Os nossos homens fazem licenças estendidas, as nossas mulheres têm bónus pagos a 100% e aumentos salariais e promoções enquanto estão de licença, não há muitas empresas que se orgulhem de fazer isso”

Clara Trindade

diretora de recursos humanos da L'Oréal Portugal

Quase 70% do talento na L’Oréal são ex-estagiários e, nem sempre os melhores alunos “nem necessariamente os de um curso A ou B. Trazemos arquitetos para papéis de marketing, somos capazes de trazer economistas para recursos humanos”, refere Clara. “Estimulamos muito as nossas pessoas a deixarem a sua marca e algo que permanece e fica para além deles. Não há ninguém que acorde de manhã com vontade de ir fazer algo que alguém lhe diz. É melhor pedir perdão porque se errou, do que pedir licença para tentar”, afirma.

É a conhecer pessoas que Clara passa “30 a 40%” do seu tempo. Assim vai aumentando a sua rede de contactos e, por vezes, detecta potenciais candidatos. “Pode ser alguém muito jovem, pode ser alguém com muito mais experiência, não importa. Mas a capacidade de detetar talento é algo que tem de estar na nossa génese”, afirma.

Para a responsável, é cada vez mais importante ter uma carreira dinâmica dentro da organização e não há um caminho certo ou errado. “Na L’Oréal, dizemos que a carreira é um mapa do metro. Hoje estou na linha vermelha, em finanças, amanhã posso perfeitamente ir para uma linha verde e entro em recursos humanos”, exemplifica. A pensar nisso, a multinacional está a desenvolver uma plataforma online, um “marketplace“, onde os colaboradores encontrar ofertas disponíveis dentro da própria empresa. Podem candidatar-se, integrando outras atividades no horário fixo de trabalho, sem terem de sair da empresa. “Precisamos de ter equipas mais ágeis e mais pessoas diferentes a contribuir para um conjunto de desafios para os quais não temos todas as soluções”, alerta Clara. E também é preciso acompanhar os colaboradores e, para isso, foi implementado o programa “Aging at L’Oréal”. Objetivo? Discutir as expectativas e as necessidades de gestão de carreira de cada um dos colaboradores.

Por cá, a L’Oréal foi uma das primeiras empresas a assinar a Carta Portuguesa para a Diversidade. Em 2015, atingiu a paridade nos cargos executivos e tem apostado na contratação de pessoas com deficiência. “Os nossos homens fazem licenças estendidas, as nossas mulheres têm bónus pagos a 100% e aumentos salariais e promoções enquanto estão de licença, não há muitas empresas que se orgulhem de fazer isso”, conta. “O meu mérito tem sido manter o assunto no topo da agenda”, acrescenta Clara.

O grande desafio do futuro é “dar uma experiência personalizada” a cada um dos 450 colaboradores e ter uma política flexível e consistente. Por outro, fazer com que os managers assumam a responsabilidade da gestão de pessoas, que continua “muito centralizado nos recursos humanos”, enuncia. O objetivo é tornarem-se uma beauty tech company, revela a diretora de RH.

Desde a gestão tradicional, a L’Oréal tem dado passos largos para implementar uma gestão “mais moderna”, conta Clara, sem disfarçar o orgulho. “É muito giro para uma diretora de recursos humanos poder trabalhar com esta matéria-prima”, remata.

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