Em vez de dividendos, pequenos acionistas do PSI-20 querem fundo para ajudar PME

A perspetiva de quebra nos dividendos recebidos pelos acionistas já está a ser interiorizada pelo mercado. A pandemia de Covid-19 vai penalizar a remuneração acionista este ano com as empresas a reforçarem as reservas e lidarem com a crise. Em vez de o fazerem sozinhas, a Maxyield – clube de pequenos acionistas propõem que seja criado um fundo solidário.

“A questão dos dividendos é apenas uma parte do problema da crise do coronavírus”, diz a direção da associação, num comentário ao ECO. Sublinha que as cotadas do PSI-20 estão vulneráveis à queda do consumo, à redução do investimento e à quebra do emprego pelo que apela a uma reflexão conjunta de administrações, acionistas e trabalhadores sobre a capacidade financeira e a responsabilidade social.

“Não só [as cotadas do PSI-20] não vivem isoladas do mundo das PME (95% da economia portuguesa), mas também estão fortemente interligadas com elas. Deverão afetar uma parte dos seus lucros retidos, para exercerem a sua responsabilidade social, contribuindo para a resolução da crise económica portuguesa“, apela a administração da Maxyield.

Com a época de resultados referentes a 2019 já quase terminada, as 18 cotadas do PSI-20 acumulam lucros superiores a dois mil milhões de euros. Assim, este Fundo de Solidariedade Empresarial teria mil milhões de euros direcionados para o apoio ao financiamento a médio prazo de PME, em condições a definir pelo Governo.

“Este processo é compatível com o reforço da solidez financeira das empresas cotadas no atual contexto de crise devastadora”, considera a associação que representa os pequenos acionistas.

"As empresas do PSI-20 vão apresentar em 2019 lucros em torno de 2.150 milhões de euros. Neste universo, é possível constituir no horizonte temporal, um Fundo de Solidariedade Empresarial no montante de 1.000 milhões de euros, integrando contribuições dos acionistas, do pessoal e das administrações, para apoio ao financiamento a médio prazo das PME, em condições a definir pelos poderes públicos. ”

Quatro cotadas do PSI-20 já anunciaram a suspensão do pagamento de dividendos, mas o número de empresas que volta atrás na remuneração acionista poderá aumentar. Até porque as principais empresas têm sido pressionadas por reguladores e políticos. Grandes e pequenos acionistas estão, por isso, a preparar-se para esta realidade.

Tendo em conta que a rentabilidade acionista inclui dividendos e mais-valias, a associação explica que distribuição de dividendos é mais importante para grandes acionistas que precisam de liquidez. Por outro lado, para pequenos investidores, a distribuição de dividendos é “tendencialmente neutra” relativamente à rentabilidade devido à correção em baixa da cotação e à tributação fiscal.

Face a este cenário, a associação não se mostra contra a suspensão do pagamento de dividendos, desde que acompanhada por determinadas condições, nomeadamente no que diz respeito aos salários e prémios dos gestores.

“Devem ser suprimidas as remunerações variáveis dos administradores executivos dos Conselhos de Administração“, defende a Maxyield. Pede ainda um “ajustamento das remunerações fixas dos membros dos corpos sociais” e acrescenta que “não devem ser concedidos prémios, a título de gratificações de balanço, a quadros dirigentes e trabalhadores”.