O que vou contar aos meus netos?

  • Paula Rocha
  • 17 Abril 2020

O mercado de trabalho, como o conhecemos hoje, não vai existir mais. O covid-19, e o seu impacto na vida das pessoas, será a história que vou contar aos meus netos.

As minhas memórias estão povoadas de histórias. O meu bisavô Avelino contava histórias na eira. Adorava falar sobre a Batalha do Bussaco, travada durante a terceira Invasão Francesa. Descrevia os canhões e as fardas dos militares, detalhava as parcerias entre países envolvidos no conflito. Adorava falar da valentia das gentes do Bussaco, seus conterrâneos. Estávamos, netos e bisnetos, a ouvir histórias que nos faziam sonhar sem nunca nos cansarmos.

E, apesar de aquelas histórias terem sempre muitas mortes, elas acabavam sempre bem.

A minha avó Beatriz contava mil histórias de uma menina, com muitos irmãos, que morava na aldeia. Das peripécias para ir à escola, escondida pelos campos, porque naquele tempo as meninas não iam à escola.

Era especialista em lengalengas, provérbios e histórias tradicionais. As suas histórias eram sempre romantizadas e as personagens más nunca tinham culpa de ser más. Fazia perguntas ao longo das histórias que me faziam pensar. E, no fim, havia sempre uma moral e tudo acabava bem.

Umas histórias e outras eram de tempos difíceis. E numas e noutras as pessoas conseguiram encontrar formas de viver e serem felizes.

A memória das coisas é muito importante, ajuda-nos a perceber que sempre houve dificuldades e a humanidade sempre foi capaz de encontrar novas respostas para os novos desafios.

Nesta época de crise, só temos de perceber se vamos ficar a chorar, à espera que a crise passe, ou se vamos vender lenços de papel. Será que toda esta turbulência não pode ser transformada numa oportunidade? Não há dúvidas sobre o impacto da pandemia na economia, nas empresas, nos trabalhadores e na sociedade em geral.

Mas não podemos ficar à espera de que sejam os outros a resolver a crise. O desafio é mesmo descobrir o que cada um de nós pode fazer para ajudar a ultrapassar este período, com o menor impacto possível na sua vida.

Passamos a vida a dizer que não temos tempo e que o tempo é o bem mais precioso que existe. Agora, temos tempo. Tempo para melhorar o autoconhecimento, para identificar objetivos, para compreender o nosso propósito. Tempo para atualizar, qualificar e requalificar competências.

Temos a possibilidade de pensar processos, procedimentos, formas de atuar. “Otimizar” será uma palavra-chave.

A criatividade vai ser uma característica fundamental para nos ajudar a encontrar soluções. Requer uma mente aberta e disposição para enfrentar as convenções, quebrar regras e assumir alguns riscos. A criatividade acrescenta valor ao desempenho. Vamos ter de mudar porque tudo vai mudar.

Há sete passos que me parecem fundamentais neste processo:

  • Ter um Plano.
    É muito importante definir o caminho a seguir e como o percorrer.
  • Manter o foco.
    As constantes alterações provocadas pela crise podem levar a duvidas e incertezas. É importante ser disciplinado e determinado no cumprimento do plano definido.
  • Atualizar os contactos.
    Cuidar do Networking. Não é preciso saber tudo mas é importante ter o número de telefone de quem sabe.
  • Diferenciar-se
    É necessário definir muito bem a sua proposta de valor.
  • Ser rápido
    Tudo está a mudar muito depressa.
  • Trabalhar mais.
    Tempos exigentes requerem mais dedicação e empenho
  • Ter atenção as oportunidades
    Em todo este caminho urge manter elevados níveis de motivação para nunca equacionar desistir.

Depois da quarentena, o trabalho vai exigir novas performances e disponibilidade para aprendizagem contínua, fazendo com que todos tenham de aprender a aprender. É importante desenvolver novas habilidades, mas é imprescindível mudar de perspetiva e alterar o mindset.

O mercado de trabalho, como o conhecemos hoje, não vai existir mais.

O covid-19, e o seu impacto na vida das pessoas, será a história que vou contar aos meus netos. Vou explicar-lhes como vencemos o vírus, orgulhosa dos meus compatriotas, tal como o meu bisavô Avelino um dia fez comigo. Vai ser uma história romantizada, como fazia a minha avó Beatriz, porque há sempre lições bonitas nos tempos difíceis.

E terá, com certeza, uma grande moral: somos um povo que consegue superar dificuldades e sair fortalecido dos grandes desafios.

*Paula Rocha é membro da direção da APG.

  • Paula Rocha

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