Após o crash, vêm as falências. Para quem fica, petróleo deverá subir depois do verão
Petrolíferas poderão não resistir ao afundar do preço do petróleo. Apesar de começar a estabilizar, continua em níveis historicamente baixos e as subidas vão depender da rapidez na retoma da economia.
Se a montanha russa nos preços do petróleo, ao longo desta semana, pôs os investidores à beira de um ataque de nervos, é para as empresas do setor que as consequências serão mais graves. Depois de um crash inédito no mercado petrolífero, antecipa-se uma onda de falências. Mas a recuperação do mercado — para quem fica — já poderá estar no horizonte.
“O maior impacto será nas falências”, diz Mark Lacey, head of commodities da Schroders. “Apesar de muitas empresas estarem a cortar gastos e investimento até 50%, muitas, muitas empresas vão falir”, sublinha, lembrando que cerca de 80 empresas do setor de gás e petróleo abriram falência no selloff que aconteceu em 2015.
Na altura, o mundo tomava consciência de que a quantidade de petróleo que era consumida já não conseguia dar vazão a toda a produção que era lançada no mercado. Enquanto os produtores tradicionais mantinham a estratégia e negavam o problema, ganhava destaque no setor o petróleo de xisto nos EUA.
"O maior impacto será nas falências. Apesar de muitas empresas estar a cortar gastos e investimento até 50%, muitas, muitas empresas vão falir.”
O excedente não só se mantém como se agravou. A grande diferença é que, há cinco anos o petróleo negociava acima dos 35 dólares. Desta vez, a queda foi para mínimos históricos, com o crude WTI a afundar pela primeira vez abaixo de zero dólares e a chegar mesmo a tocar -40 dólares por barril.
“A situação atual é muito pior do que em 2015, portanto a indústria vai ficar muito diferente quando tudo passar. As falências não serão limitadas aos EUA, mas irão acontecer também na Ásia, América Latina e Europa”, alerta Lacey.
Tombo histórico levou WTI a -40 dólares
Futuros de junho ainda vão trazer volatilidade
Aos preços atuais, e com armazenamento a atingir o máximo por todo o mundo, muitas empresas limitam a produção abaixo da capacidade. Mas se o mercado continuar pressionado por muito tempo, poderão não resistir. O alerta é feito, igualmente, pelo Citi, que aponta especialmente para os norte-americanos do petróleo de xisto.
Apesar de não ser exclusivo, este segmento, que só é rentável com preços elevados, está na linha da frente do risco. No início do mês — quando o barril afundou até aos 20 dólares — caiu a primeira peça do dominó: a Whiting Petroleum, uma das maiores empresas da indústria do petróleo de xisto nos EUA, abriu falência.
“Esperam-se tempos difíceis”, alerta Ed Morse, global head of commodities research do Citi, numa conferência com clientes. “As coisas ainda vão piorar antes de melhorar”, defende. “A confiança dos mercados foi muito afetada e tem de ser reconquistada”.
"Esperamos que a procura por combustíveis seja superior ao que seria normalmente, tal como aconteceu na China. Mas a procura jet fuel não vai regressar aos níveis de 2019.”
Tanto o Citi como a Schroders antecipam que os preços continuem a negociar com volatilidade, em especial à medida que se aproxime o prazo dos futuros de junho (tal como aconteceu com os de maio, que causaram a queda a pique). Mas não acreditam que os preços negativos passem a ser regra. A estimativa do banco de investimento é que o WTI suba dos atuais 15 dólares por barril para próximo de 35 dólares no final do terceiro trimestre e 40 dólares no final do ano. No entanto, será a reabertura da economia a determinar o percurso dos preços.
“À medida que as pessoas voltarem ao trabalho, no final deste trimestre e no próximo, vai haver uma rápida procura por petróleo. Vai ter um grande impacto nos inventários. Esperamos que a procura por combustíveis seja superior ao que seria normalmente, tal como aconteceu na China”, diz Morse, referindo-se ao ajustamento que será necessário. Por outro lado, ressalva que “a procura jet fuel não vai regressar aos níveis de 2019“.
Já do lado da oferta, 23 países (incluindo 13 da Organização dos Países Exportadores de Petróleo) decidiram cortar, a partir de maio, a produção em 9,7 milhões de barris por dia. Apesar de não chegar para fazer face à quebra na procura por petróleo (em 30 milhões de barris por dia) devido à pandemia, a expectativa é que os países cumpram ou vão até além deste acordo. “Penso que aprenderam a lição”, diz o global head of commodities research do Citi.
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