Fintech queriam acelerar linhas de crédito. Governo não respondeu

Pool-financing dos créditos bonificados Covid-19 ou crowdfunding em vez da banca são algumas das opções para integrar as fintech na resposta à crise pandémica.

As plataformas de financiamento colaborativo (crowdfunding) acreditam que podiam contribuir para acelerar o apoio financeiro às empresas portuguesas afetadas pelo coronavírus, nomeadamente na simplificação das linhas de crédito. O ministro Adjunto e da Economia, Pedro Siza Vieira, recebeu uma proposta nesse sentido, mas nunca deu qualquer resposta.

No início do mês de março, fizemos chegar uma proposta de integração da Raize e dos investidores particulares no mecanismo de garantia do Estado para ajudar a financiar as micro e pequenas empresas“, contam José Maria Rego, Afonso Fuzeta Eça e António Silva Marques, os três fundadores e administradores da fintech portuguesa.

A ideia era criar um mecanismo de pool-financing dos créditos Covid-19. Os bancos e empresas criariam contas nas plataformas de crowdfunding, que fariam a gestão dos contratos celebrados, incluindo a disponibilização de fundos e cobrança das prestações (servicing). Bancos e SPGM (a entidade coordenadora da garantia mútua) continuariam responsáveis pela análise e aprovação do financiamento.

Apesar de a proposta ter sido feita pela Raize, que gere a maior bolsa nacional de empréstimos a pequenas e médias empresas (PME), abrange as seis plataformas de crowdfunding aprovadas pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Acreditam que a Raize, a GoParity, a Seedimo, a Querido Investi, a Housers e a Clicinvest poderiam facilitar a concessão das linhas de crédito anunciadas pelo Governo, no valor de 6,2 mil milhões de euros. Questionado sobre esta proposta pelo ECO, o Ministério da Economia não respondeu.

"Através da tecnologia da Raize, conseguimos ultrapassar os problemas de formalização das operações recorrendo a um mecanismo de pool-financing dos créditos Covid-19.”

José Maria Rego, Afonso Fuzeta Eça e António Silva Marques

Co-fundadores da Raize

A nossa convicção é de que podemos ser mais rápidos a fazer o dinheiro chegar a empresas“, defende Nuno Brito Jorge. O fundador da GoParity — plataforma de investimento que promove projetos sustentáveis — explica que a plataforma pode “contribuir com a especialização na sustentabilidade, numa lógica de colaboração”.

Brito Jorge vai até mais longe e considera uma outra alternativa, em que as plataformas de crowdfunding poderiam até conceder crédito diretamente, com as mesmas garantias do Estado, mas sem recurso à banca. O gestor diz que a GoParity teria capacidade para dar resposta até porque em março e abril o montante investido na plataforma disparou 50% face ao período homólogo, enquanto o número de investidores cresceu 47%.

Anunciou que a GoParity está prestes a lançar uma linha de sustentabilidade mais direcionada para a tesouraria (ao contrário dos projetos normais virados para crescimento) dentro dos setores ambientais e sociais.

"A nossa convicção é de que podemos ser mais rápidos a fazer o dinheiro chegar a empresas. Nós não precisamos de dinheiro. Só precisávamos que o Estado desse a mesma garantia.”

Nuno Brito Jorge

Fundador da GoParity

Em ambas as empresas, os gestores reconhecem dificuldades na aceitação, mas lembram que o Governo português tem apostado na digitalização. E apontam para exemplos lá fora. Tanto em França como no Reino Unido, as fintech foram incluídas na solução pública para os problemas causados pela pandemia na tesouraria das empresas.

“Nós não precisamos de dinheiro. Só precisávamos que o Estado desse a mesma garantia [de 80% dos empréstimos] sem ter sequer de gastar dinheiro”, diz Brito Jorge. “O problema dos bancos é a burocracia que está associada”, sublinha, apontando para todo o processo de atribuição de crédito, que passa não só pela banca, mas também pelas sociedades de garantia mútua.

Segundo a Ordem dos Contabilistas Certificados, as sociedades de garantia mútua têm sido intransigentes no pedido de documentação às empresas e demoram até mais tempo a responder do que os bancos. A CIP diz que, de acordo com um inquérito realizado junto das empresas, apenas 3% recebeu dinheiro das linhas Covid-19.

"Nos pedidos de crédito e na avaliação de risco, a complexidade é muito grande. Com as agências bancárias fechadas e os pedidos de crédito a aumentar, uma solução totalmente online ajuda.”

Diogo Nesbitt

Co-fundador da hAPI

Também neste caso, há uma fintech disponível a ajudar. “Nos pedidos de crédito e na avaliação de risco, a complexidade é muito grande. Com as agências bancárias fechadas e os pedidos de crédito a aumentar, uma solução totalmente online ajuda“, diz Diogo Nesbitt, co-fundador da hAPI.

A empresa desenvolveu uma solução que ajuda a entregar por informação e documentos originais certificados necessários para submeter pedidos de crédito a bancos e outras entidades financeiras. Permite enviar dados de bancos, Segurança Social ou Autoridade Tributária. “Como recebemos a informação diretamente da fonte, a autenticidade é garantida”, explica, sublinhando que a hAPI é um intermediário pelo que não tem acesso ou armazena quaisquer dados.

“Sentimos que disponibilizar esta tecnologia, que permite acelerar as decisões de crédito, é o nosso contributo no combate ao Covid-19. Quem não está na linha da frente também pode entrar no combate à epidemia, com as armas de que dispõe. As startups como a hAPI, têm a energia e o dinamismo para se adaptarem e a capacidade de execução para fazer acontecer rapidamente“, acrescenta Diogo Nesbitt.

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