“Inesperado”, “severo” e “desafiante”. Como a banca vê o impacto do vírus
Com planos de contingência em ação para garantir que a atividade continua, os bancos ainda vêem com incerteza o efeito que a pandemia vai ter nas contas.
Ainda ninguém arrisca estimativas, mas certo é que a pandemia de Covid-19 vai ter um forte impacto nas contas dos bancos em 2020. Nos relatórios e contas das maiores instituições financeiras no país, multiplicam-se os alertas.
“O cenário de uma pandemia e os seus severos impactos, designadamente económicos eram, até há pouco, contemplados como remotos”, alerta a Caixa Geral de Depósitos. “A total extensão das suas consequências para o setor bancário é de difícil aferição. Conjuntamente com as consequências do surto de Covid-19 em termos operacionais, numerosos fatores afetarão os bancos”.
O banco liderado por Paulo Macedo considera que os bancos poderão perspetivar desde já aumentos nos custos, quebras nas comissões, compressão adicional nas margens financeiras, perdas de crédito e desafios crescentes de compliance e corporate governance.
Da mesma forma, o BCP aponta a elevada incerteza, dizendo que atividade e a rendibilidade do grupo vão depender da profundidade e da extensão temporal dos “impactos disruptivos”. Apesar do cenário, o banco liderado por Miguel Maya diz que a situação de liquidez e capital, bem como o valor dos ativos, permitem considerar “aplicável o princípio da continuidade das operações”.
Novo agravamento do malparado lidera riscos
A mesma garantia é dada pelo BPI, que diz dispor de planos de contingência e continuidade de negócio para situações de crise. “A magnitude dos impactos dependerá de desenvolvimentos futuros, os quais não podem ser previstos com fiabilidade”, sublinha o banco liderado por Pablo Forero.
Com planos de contingência em vigor — incluindo novas regras no atendimento aos balcões –, é o futuro que mais preocupa. Há riscos a vários níveis, incluindo maior complexidade operacional e regulatória, a volatilidade nos mercados financeiros (agravada pela forte exposição da banca à dívida pública nacional), a menor acessibilidade no financiamento ou até mesmo a segurança associada à digitalização.
O maior risco está, no entanto, no novo agravamento do crédito malparado. Este foi um dos grandes problemas da banca nacional durante a crise, mantendo-se o calcanhar de Aquiles do setor. Agora, a pressão do vírus nos rendimentos das famílias e no volume de negócios das famílias, é expectável um novo aumento do incumprimento nos empréstimos. As provisões para potenciais perdas no crédito que poderão ascender a mais de cinco mil milhões de euros nos próximos tempos.
“Os principais impactos nas demonstrações financeiras do grupo poderão advir em resultado de um aumento do risco de crédito, um aumento da volatilidade dos ativos financeiros e não financeiros e de restrições à atividade resultantes das medidas de contenção da pandemia”, aponta o Novo Banco.
O banco liderado por António Ramalho explicou que, no novo exercício orçamental, irá por isso incluir nas previsões cenários como eventuais medidas de moratórias no pagamento de créditos e respetivos impactos em imparidade de ativos, qualidade de crédito, avaliação do aumento significativo do risco de crédito, reestruturações de crédito, perdas estimadas, impactos em capital, entre outros, materiais e imateriais. “Esta estimativa não é quantificável à presente data”, clarifica.
O montante e a qualidade dos ativos têm impacto direto na valorização dos bancos e, entre os mais pequenos, há quem já o esteja a sentir. O Abanca anunciou estar a renegociar com o EuroBic as condições e o preço final para a compra do banco português. Por outro lado, a Caixa Geral de Depósitos admitiu que o processo de venda da participação no BCG Brasil foi “condicionado pela crise vivida”. Ainda assim, nenhum dos dois negócios caiu.
Recuperação do Santander é homenagem a Vieira Monteiro
Se todos os bancos estão a tentar evitar que a pandemia se transforme numa crise financeira, o impacto do Covid-19 no Santander Totta é excecional. O presidente do Conselho de Administração, António Vieira Monteiro, foi uma das primeiras vítimas mortais da Covid-19 em Portugal, o que não foi ignorado no relatório do banco. O CEO Pedro Castro e Almeida garante que a resposta do banco ao desafio é a melhor homenagem ao antigo chairman.
“O início de 2020 foi inesperadamente marcado pela calamidade causada pela doença Covid-19, que provocou uma situação de emergência na saúde pública e na economia portuguesa e internacional. Neste contexto, sofremos, em março, a perda do António Vieira Monteiro (Presidente do Conselho de Administração), que foi decisivo para o sucesso do Banco Santander em Portugal e deixou connosco um legado de competência, rigor e independência”, pode ler-se numa nota assinada Castro e Almeida.
“O Santander Portugal estará à altura de qualquer desafio trazido pelo ano de 2020. E a nossa determinação será também a nossa homenagem ao António Vieira Monteiro”, acrescenta sobre os desafios.
Para lhes fazer face, o Santander Totta foi um dos primeiros bancos a anunciar a suspensão do pagamento de dividendos e a limitação dos prémios dos gestores. Todos tomaram a mesma posição em relação à remuneração acionista, à exceção do Novo Banco que está impedido de o fazer enquanto recorrer ao Fundo de Resolução para fazer face aos prejuízos. Quanto aos salários, CGD e BPI também o fizeram.
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