Custos, regras e pouca liquidez. É isto que afasta as empresas da bolsa de Lisboa, diz a OCDE
OCDE fez o diagnóstico aos problemas do mercado de capitais português. Sublinha que a crise do Covid-19 só fez com que as reformas se tornem "mais urgentes" para apoiar a retoma da economia.
O mercado de capitais é visto como fonte de financiamento para apenas três em cada dez empresas em Portugal. Acionistas que não querem abdicar do controlo é a explicação para o desinteresse da maior parte das empresas, mas — entre as que estiveram cotadas ou até queriam estar — é o peso da regulação e das obrigações, a par da baixa liquidez da bolsa nacional, que desincentivam a entrada em bolsa.
As razões foram identificadas pelos técnicos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), que estiveram em Portugal para fazer um diagnóstico do mercado de capitais português, em colaboração com a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). A análise ao tecido empresarial indicou que apenas 30% vê o mercado de capitais (ações e obrigações) como uma importante fonte de financiamento.
“A grande maioria das empresas não cotadas indicou que não considera a possibilidade de entrar em bolsa“, explica o estudo intitulado “Improving access to capital for Portuguese companies: A survey of unlisted companies” divulgado esta quinta-feira. Porquê? “A explicação mais comum é que os acionistas não querem partilhar o controlo com outros“, aponta. Os custos relacionados com o listing, os baixos níveis de liquidez e a complexidade da regulação foram também apontados por metade das empresas.
A OCDE considera relevante que 30 empresas (12% do total) chegaram mesmo procurar informação, no passado, sobre o processo de entrada em bolsa, mas desistiram antes da oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês). “Mais de terços quartos destas empresas mencionaram regulação complexa, elevados requisitos de governance corporativo e a baixa liquidez do mercado para não continuarem o processo”.
"Mais de 80% das empresas não cotadas afirmaram que a simplificação de requisitos de reporte e compliance, a simplificação de procedimentos de listing, um quadro de segmentos alternativos e requisitos de corporate governance mais flexíveis iriam contribuir para criar um ecossistema de mercado de capitais bem-sucedido em Portugal.”
Ainda assim, há empresas que pretendem recorrer ao financiamento em mercado de capitais. No que diz respeito a ações, 11 empresas (4% do total) disseram planear entrar em bolsa dentro de três anos.
Mais cativante é a dívida. 48 empresas (19%) tencionam emitir instrumentos de dívida (incluindo obrigações, papel comercial ou outras) no “futuro próximo”. Todas elas identificaram a “diversificação das fontes de financiamento e melhorias no acesso a outras formas de financiamento em mercado como principais razões para emitirem dívida”, explica a OCDE.
O estudo serve de base para que a CMVM emita uma série de recomendações para a dinamização do mercado de capitais. Apesar de os técnicos da OCDE não responderem à questão sobre como é que o mercado de capitais poderia ser mais sedutor para o tecido empresarial, mas sublinha: “mais de 80% das empresas não cotadas afirmaram que a simplificação de requisitos de reporte e compliance, a simplificação de procedimentos de listing, um quadro de segmentos alternativos e requisitos de corporate governance mais flexíveis iriam contribuir para criar um ecossistema de mercado de capitais bem-sucedido em Portugal”.
A análise foi feita antes de se imaginar que o coronavírus iria penalizar ainda mais a liquidez do mercado de capitais. Segundo a OCDE a crise do Covid-19 só fez com que as reformas se tornem “mais urgentes” já que a retoma da economia irá “em grande medida depender da capacidade de reforçar os balanços das empresas e dar acesso aos negócios a capital paciente de investidores com visão de futuro”.
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Custos, regras e pouca liquidez. É isto que afasta as empresas da bolsa de Lisboa, diz a OCDE
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