Lisboa desconfina Capital Verde Europeia. Vêm aí cruzeiros elétricos, hidrogénio verde e 200km de ciclovias
O vereador do Ambiente adiantou que a capital terá uma estação de hidrogénio em Carnide, na central fotovoltaica prevista para aquele local até ao “início do ano que vem”.
Os navios de cruzeiros vão deixar de poder utilizar gasóleo quando atracarem em Lisboa, a partir de 2022, anunciou esta sexta-feira o vereador do Ambiente da autarquia, José Sá Fernandes. Trata-se da solução Shore-to-ship, implementada no Porto de Lisboa para a alimentação elétrica dos navios atracados.
“Conseguimos chegar anteontem [quarta-feira] a acordo com o Porto de Lisboa para que os cruzeiros a partir de 2022 não usem gasóleo quando atracam em Lisboa. Portanto, que haja eletrificação do porto para não haver poluição atmosférica”, disse o vereador à agência Lusa à entrada para a Estufa Fria, em Lisboa, onde foi apresentada a nova programação da Lisboa Capital Verde 2020, tendo em conta que várias iniciativas previstas para ocorrer nos últimos meses foram canceladas devido à pandemia da covid-19.
O vereador do Ambiente adiantou também que a capital terá uma estação de hidrogénio em Carnide, na central fotovoltaica prevista para aquele local até ao “início do ano que vem”. Trata-se da “primeira estação de hidrogénio para abastecer veículos e para armazenar hidrogénio e, portanto, é outra fonte de energia renovável”, salientou.
Na prática, refere a apresentação feita por Sá Fernandes, trata-se de um projeto-piloto em Lisboa de produção de hidrogénio para o abastecimento de veículos elétricos movidos com este combustível. Este hidrogénio 100% limpo será produzido a partir da eletricidade solar gerada na Central Fotovoltaica de Carnide por eletrólise, onde se situará o primeiro posto de abastecimento urbano de hidrogénio verde.
Também na mobilidade, foi anunciado que em 2021 a cidade terá já 200 km de ciclovias.
Ainda ao nível da energia, já este ano será criada a Comunidade de Energia Lisboa, que integrará a Câmara Municipal, empresas municipais e juntas de freguesia. A sua formalização será em 2021, no contexto da agregação de consumidores-produtores previsto no DL 162/2019, e a comunidade terá como missão a geração e partilha comunitária de eletricidade solar produzida em edifícios e outros espaços de Lisboa.
O compromisso da Lisboa Capital Verde Europeia 2020 passa também por uma estratégia para a pobreza energética com a implementação da Tarifa Social Solar em edifícios de habitação da CML. Ou seja, através de painéis fotovoltaicos instalados nestes edifícios as populações mais vulneráveis terão acesso a energia limpa produzida através de energia solar e uma redução da fatura energética.
A cidade de Lisboa vai ainda voltar a ter água de nascente, além de continuar com “o trabalho de uma rede de água reutilizada”, permitindo que os lisboetas possam poder “voltar a ir buscar água para regas e para lavagens de rua”, destacou o vereador do Ambiente e da Estrutura Verde.
Relativamente à programação da Lisboa Capital Verde, Sá Fernandes recordou que as “três maiores conferências” já não ocorrerão, mas adiantou que haverá “uma grande conferência sobre a saúde pública e sobre a poluição atmosférica, na Culturgest”.
Estão também previstas “várias conferências na Academia das Ciências” e a conferência de abertura da semana verde, que costuma acontecer em Bruxelas e que aconteceria este mês em Lisboa, realizar-se-á em outubro.
Também o Museu da Reciclagem, em Alcântara, que devia ter aberto nestes meses de confinamento, vai ser inaugurado ainda este ano.
“Vamos ter conferências, obviamente, menos do que estávamos a pensar. Vamos ter vários eventos, menos do que estávamos a pensar, mas vamos continuar com as obras, vamos continuar com as iniciativas, vamos procurar informar da melhor maneira possível os cidadãos”, disse, defendendo que Lisboa “fica sempre a perder, mas ganha-se noutras coisas”.
O vereador destacou ainda as obras, “em projeto final”, do Vale da Montanha II e do Vale do Forno, as únicas que faltam para concluir o Plano Verde do arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles.
José Sá Fernandes desvendou também os locais dos jardins surpresa previstos abrirem ao longo deste ano, destacando o da Quinta da Alfarrobeira, da Caixa Geral de Depósitos (Av. D. João XXI) e da EPAL, junto às Amoreiras.
“Praticamente todos os meses vamos abrir um jardim novo”, afirmou, referindo que alguns necessitarão ainda de obras.
“Acho que podemos aprender várias coisas com aquilo que a cidade nos ensinou. Esta cidade que ficou parada, que ficou silenciosa, que parecia que se estava a escutar a si própria, e que nós pudemos escutá-la também”, considerou.
Para o vereador do Ambiente, a sociedade está a aprender, fruto da pandemia de covid-19, que é possível “trabalhar mais em casa” nalguns casos e a “desfasar os horários”, contribuindo para uma cidade mais sustentável e com menos “engarrafamentos nas horas de ponta”.
“Hoje é o Dia do Ambiente. Atravessámos aqui momentos difíceis para todos. [Queremos] lembrar bem as pessoas que morreram, que sofreram, que não se abraçam, mas é o Dia do Ambiente. Queremos que seja um dia de esperança. É também nas adversidades que nós devemos ganhar ânimo, que devemos procurar fazer aquilo que temos de fazer”, reforçou José Sá Fernandes.
O presidente da Câmara de Lisboa, por seu turno, defendeu que a “pandemia deu à capital verde uma urgência acrescida” e uma evidência de mudança que as “alterações climáticas não tinham sido capazes de o fazer”.
O período de confinamento foi, na opinião de Fernando Medina, “um momento de maior consciencialização e de força para o compromisso de Lisboa Capital Verde”.
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