O futuro de quem gere pessoas deve ser (re)humanizado
A gestão de recursos humanos nas organizações tem acompanhado os vários desafios da sociedade e a pandemia não foi exceção. No período pós-crise, quem gere pessoas deve saber ouvir e ser mais humano.
A empresa é o reflexo da sociedade. Por isso, é urgente refletir sobre as responsabilidades de uma gestão sustentável e inclusiva, que se adapte e evolua com os desafios exteriores, como está a ser o da pandemia Covid-19. Para quem gere pessoas nas organizações, o período pós-pandemia deve servir para analisar os dois meses que passaram e para estar mais próximo dos trabalhadores e garantir a retoma.
É preciso (re)humanizar a profissão de gestão de recursos humanos. Na gestão humana no pós-pandemia é crucial saber ouvir, apoiar e valorizar o maior ativo das organizações: as pessoas. Estas foram algumas das conclusões da oradora Leyla Nascimento, presidente da World Federation of People Management Associations, que conduziu o webinar “Pós-Pandemia: Como trabalhar a Gestão Humana?”, organizado pela Associação Portuguesa de Gestão das Pessoas (APG).
Preparar a retoma: os propósitos e as pessoas
“Não continuaremos os mesmos. É impossível as pessoas, retomando ao seu trabalho, não terem sofrido todos os impactos”, começa por realçar Leyla. As organizações devem pensar em si como partes integrantes de uma sociedade que enfrenta desafios. Leyla Nascimento diz-se “orgulhosa” do trabalho dos profissionais de recursos humanos um pouco por todo o mundo e aponta que, agora, enfrentam mais um desafio nas suas profissões, devido à pandemia.
Ouvir ainda é a melhor solução para todas as questões.
As empresas devem focar-se em duas principais prioridades: estar próximas do seu propósito e dos seus trabalhadores. Na retoma, os profissionais de recursos humanos devem dar importância à partilha de experiências e procurar padrões sustentáveis, garantindo igualmente uma “retoma de valorização de pessoas na organização”.
“Ouvir ainda é a melhor solução para todas as questões”, destaca Leyla Nascimento. Quem gere pessoas deve saber ouvir, quando e como comunicar, estar próximo dos trabalhadores e apostar numa comunicação transparente, fluida, e garantir o apoio emocional, tendo como objetivo um bem comum.
Além disso, é importante integrar as pessoas mais velhas e valorizar o contributo das novas gerações, acrescenta. O gestor de RH deve saber “mapear as necessidades de suporte”, ou seja, pensar na possibilidade de integrar um médico da medicina do trabalho ou um psicólogo para dar apoio no momento de transição. Esta é a altura para “desmistificar organigramas”, adaptar a cultura organizacional às necessidades de gestão sustentável e às exigências da sociedade e de um novo modelo de liderança, assente na proximidade.
Home office: “O que temos hoje é adaptação”
A pandemia obrigou milhares de pessoas transitar para o trabalho remoto e os estudos revelam que, de forma geral, tem sido até agora uma experiência positiva. Contudo, o sucesso não pode eliminar responsabilidades por parte de quem gere pessoas. É preciso criar condições para o trabalho em casa e ter atenção a questões como a privacidade dos trabalhadores, porque em relação ao teletrabalho “o que temos hoje é adaptação”, recorda.
“Temos a obrigação que precisamos de entender: temos de criar ambientes na casa dos trabalhadores para o teletrabalho. Podemos gerar melhores resultados, mas também precisamos de cuidar da qualidade de trabalho em home office“, ressalva Leyla. “Não é possível que as lideranças não tenham tido experiências únicas, novas, inovadoras, de proximidade das suas equipas, de inovar no seu modelo de negócio”, acrescenta.
É preciso ter os mesmos cuidados, tanto presencial como virtualmente, criando uma tecnologia inclusiva. No pós-pandemia, a tecnologia também poder ter um papel fundamental, mas não substitui o lado humano.
“Precisamos de revisitar os nossos processos dos sistemas de recursos humanos. Será que a tecnologia já nos está mostrar que é possível simplificar e voltar ao simples e ao óbvio, que é esse contacto humano. A tecnologia está a mostrar que também passa emoção, também passa vida e valores, mas precisamos de os revisitar”, aconselha Leyla. “A realidade hoje é uma realidade aumentada com a tecnologia. É uma realidade da transparência, de partilha e práticas e tomadas de decisão”, acrescenta.
“Voltar ao simples e óbvio, que é o contacto humano”
Empatia, humanidade, troca e decisões partilhadas e concertadas. Estes são os princípios que fazem parte da “agenda urgente para os profissionais de RH”, lembra Leyla, e que permitirão traçar um caminho onde ainda “há mais perguntas do que respostas”, lembra Leyla.
Precisamos de revisitar os nossos processos dos sistemas de recursos humanos. Será que a tecnologia já nos está mostrar que é possível simplificar e voltar ao simples e ao óbvio, que é esse contacto humano. A tecnologia está a mostrar que também passa emoção, também passa vida e valores, mas precisamos de os revisitar.
De acordo com dados do Fórum Económico Mundial, entre 2020 a 2022 serão exigidos novos conhecimentos para 133 milhões de novas atividades nos países do G20 e prevê-se que 75 milhões de empregos sofram transformações. A tecnologia pode potenciar a requalificação tecnológica e a aposta nas habilidades cognitivas, mas é preciso não esquecer as soft skills e as competências socioemocionais.
Para quem gere pessoas, o objetivo é saber comunicar, quando comunicar, e conhecer as pessoas que estão a retomar os seus trabalhos, tendo como objetivo um bem comum. É essencial não esquecer, e saber integrar, as pessoas mais velhas e valorizar o contributo das novas gerações, lembra Leyla. “Há uma expectativa nesses jovens, que todo esse movimento possa gerar um mundo um pouco melhor, mais inclusivo. Nas políticas e estratégias de RH estamos a ter de olhar para isso e cuidar dessas novas gerações”, explicou.
Por fim, deixou o apelo: “Vamos precisar de contar esta história. Escrevam. Esta é uma experiência única”. Os ciclos de webinares gratuitos da APG arrancaram a 14 de maio, para debater o impacto da pandemia na sociedade, na gestão de recursos humanos e pensar como preparar o futuro pós-Covid.
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