Incentivo ao abate “não pode ser limitado à compra de elétricos”. ACAP espera “evolução” da posição do Governo
Matos Fernandes admitiu um regresso do incentivo ao abate, mas defende que este só deve ser para a compra de carros elétricos. A ACAP diz que o ministro "está a defender a proposta da Zero".
O incentivo ao abate de veículos pode voltar já no próximo ano. Foi Matos Fernandes que abriu a porta ao regresso deste apoio, embora não nos mesmos moldes que existiram no passado: será destinado apenas à compra de carros elétricos. Se por um lado a ACAP se congratula com o reconhecimento desta necessidade, por outro deixa duras críticas ao modelo defendido pelo ministro do Ambiente. “Está a defender a proposta da Zero, mas como pessoa inteligente que é, irá certamente evoluir na sua posição”, diz Hélder Pedro ao ECO/Capital Verde.
“É importante que, pela primeira vez, um membro deste Governo fale da necessidade de se implementar um plano de incentivo ao abate de veículos em fim de vida reconhecendo a importância de, para se avançar com a descarbonização, ser necessário renovar o parque automóvel envelhecido que temos em Portugal”, diz o secretário-geral da ACAP em resposta às questões colocadas pelo ECO. “É importante referir que mais de um milhão de carros que estão em circulação tem mais de 20 anos“, diz.
"Se o Governo pretende, realmente, renovar o nosso parque automóvel no sentido da descarbonização, esse plano terá de incluir os veículos com motor de combustão, como fizeram os governos espanhol ou francês.”
Contudo, “é óbvio, neste momento, que um plano de incentivo à renovação do parque automóvel não pode ser limitado à compra de veículos elétricos“, atira. “O Sr. Ministro está a defender a proposta da Zero, mas como pessoa inteligente que é irá certamente evoluir na sua posição, tal como aconteceu com a sua congénere espanhola, a Ministra da Transição Ecológica. O Governo espanhol aprovou em Conselho de Ministros, por unanimidade, o plano de incentivo ao abate que prevê a compra de veículos a gasolina ou gasóleo (matriculados em 2020), para além de veículos elétricos e híbridos plug-in“, recorda.
Descarbonizar? Incentivo ao abate tem de chegar à gasolina e diesel
Tendo por base o modelo espanhol, a ACAP fez cálculos. E diz que o incentivo ao abate de veículos com uma emissão média de 170 gramas de CO2, substituindo-os por veículos novos, com emissão média de 95 gramas de CO2. “Este ponto é que é fundamental num plano de incentivo ao abate de veículos em fim de vida”, diz, atacando a diferenciação que o Governo português pretende fazer no regresso deste apoio.
“Este plano de incentivo, nos moldes dos planos espanhol e francês, e que permita a compra de veículos novos a gasolina ou diesel com baixas emissões, permitiria uma poupança energética de 3,2 milhões de litros de combustível por ano, ou seja o equivalente a 33.200 barris de petróleo”, estima Hélder Pedro. “Por outro lado, iria levar a uma emissão de menos 10.800 toneladas de CO2/ ano”.
O Sr. Ministro está a defender a proposta da Zero, mas como pessoa inteligente que é irá certamente evoluir na sua posição, tal como aconteceu com a sua congénere espanhola, a Ministra da Transição Ecológica.
“São este os indicadores que foram tidos em conta pela Ministra da Transição Ecológica de Espanha e por todo o Governo Espanhol e que, repito, o Governo português não deixará de avaliar no momento próprio”, remata. “Se o Governo pretende, realmente, renovar o nosso parque automóvel no sentido da descarbonização, esse plano terá de incluir os veículos com motor de combustão, como fizeram os governos espanhol ou francês. Estamos certos que o Governo irá evoluir na sua posição. Se não for assim, será apenas por questões meramente ideológicas o que, estamos em crer, não irá acontecer”.
Governo é insensível à crise vivida pelo setor automóvel
Além das duras críticas à forma como o Executivo pretende fazer regressar o incentivo ao abate de veículos, Hélder Pedro ataca também toda a postura do Governo português perante a crise que a pandemia do novo coronavírus está a provocar no setor automóvel.
“Em maio, o mercado automóvel em Portugal teve a segunda maior queda da União Europeia”, sendo que o Executivo liderado por António Costa, “ao contrário dos governos de Espanha, França, Alemanha, Itália, Grécia ou Roménia tem sido completamente insensível à grave crise do setor automóvel em Portugal, em consequência da Covid-19“.
“É agora que se torna necessário um incentivo à procura, porque muitas empresas do setor podem nem sequer chegar a 2021, com todos os custos sociais que tal implica”, atira o secretário-geral da ACAP.
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