Valor da EDP cresceu 4 mil milhões na liderança de Mexia. Processo judicial prejudicou

A elétrica tocava o valor mais elevado de sempre em bolsa em fevereiro, mas a pandemia prejudicou a cotação. Quando recuperava, o processo judicial (que tirou o lugar a Mexia) voltou a penalizar.

António Mexia vai deixar a EDP, 14 anos depois de ter chegado à elétrica. À saída — forçada por um caso judicial em que é acusado de corrupção –, o gestor deixa uma empresa mais valiosa, mas também prejudicada pelo processo.

Com uma capitalização bolsista de 15,9 mil milhões de euros, a EDP é a empresa mais valiosa do PSI-20, seguida da EDP Renováveis — que fica igualmente sem CEO devido ao mesmo processo –, com uma avaliação de 11,1 mil milhões de euros.

Mexia chegou à liderança da EDP em 2006, numa altura em que o país estava prestes a enfrentar uma crise que o atiraria para um resgate financeiro (e arrastaria consigo o valor de toda a bolsa). Na altura, cada ação valia 3,25 euros e o ano seguinte foi de fortes ganhos, chegando mesmo ao máximo histórico de 5 euros por ação, o equivalente a uma capitalização bolsista superior a 18 mil milhões, em 2007.

Mas a crise financeira foi fortemente penalizada para a EDP, tal como para todas as cotadas do PSI-20. Cada título da elétrica afundou até ao mínimo histórico de 1,628 euros em 2012. A recuperação da cotação acompanhou a do crescimento económico e do reforço da confiança dos investidores (bem como das agências de rating) no país.

Após uma oferta pública de aquisição (OPA) falhada do principal acionista, a China Three Gorges, a EDP iniciou no ano passado um ambicioso plano de transformação focado nas renováveis e na remuneração acionista. Em fevereiro deste ano, voltava a valer 18 mil milhões de euros em bolsa e quase 5 euros por ação.

Antes do coronavírus, EDP disparava até aos 18 mil milhões

Fonte: Reuters

A pandemia global derrubou novamente as ações, alvo de um tombo em meados de março. Mas este foi temporário e, com o setor das utilities a mostrar maior resiliência à crise, a EDP acabou mesmo por valorizar 16% no segundo trimestre do ano. A recuperação foi interrompida, porém, pelo processo judicial.

Arguido desde 2 de junho de 2016 no âmbito da investigação do Ministério Público ao caso das rendas dos Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC), António Mexia conheceu as medidas de coação a 5 de junho.

O Ministério Público pediu a suspensão de funções do presidente da EDP, António Mexia, e do presidente da EDP Renováveis, João Manso Neto. O juiz de instrução criminal, Carlos Alexandre, deu esta segunda-feira o aval às medidas de coação propostas, com efeito imediato. No mês que passou entre uma e outra, a EDP desvalorizou 1%, enquanto as pares valorizaram nos mercados internacionais: a Endesa 4,5%, a Iberdrola 8,7% e a Enel 5,73%.

Nenhuma empresa do PSI-20 remunera tão bem os acionistas (ou os gestores)

Feitas as contas a todo o período da liderança de António Mexia, a empresa valorizou 33,7% entre a entrada e saída do gestor, o equivalente a quatro mil milhões de euros. A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) suspendeu a negociação dos títulos esta segunda-feira após o ECO/Advocatus ter noticiado a decisão do juiz Carlos Alexandre. Antes da suspensão, cada ação valia 4,345 euros, menos 2,4% que na sessão anterior.

Mas o valor da EDP não cresceu só em bolsa. Foi com Mexia que a EDP se virou definitivamente para a área das energias renováveis e para o mercado norte-americano, decisões de risco que estão hoje a ser recompensadas. Em média, a EDP lucrou 950 milhões de euros por ano entre 2006 e 2019. Estes resultados foram sinónimo de dividendos generosos e consistentes para os acionistas.

Todos os anos foram parar aos bolsos dos investidores uma média de 600 milhões de euros sob a forma de dividendos. O montante corresponde a um payout anual a rondar os 60%. Já todos se habituaram a ver a EDP como a rainha dos dividendos na bolsa nacional. Não há empresa na bolsa de Lisboa que dê tanto dinheiro aos acionistas.

Em termos acumulados, cada ação deu direito a dividendos no valor de 2,4 euros, no período de 14 anos. Mas se não há empresa em Lisboa que dê tanto aos investidores, também não havia gestor no PSI-20 tão bem remunerado como António Mexia.

Entre prémios e salários, já acumulou 24,37 milhões de euros, segundo detalham os relatórios da empresa. Dá uma média de 1,74 milhões de euros por ano. É muito? “O meu salário equivale ao de um defesa direito de um clube do meio da tabela. Não me considerando eu um jogador desses”, disse Mexia em 2006 numa entrevista à Sábado.

EDP lucra e dá a lucrar

Fonte: EDP e Reuters

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