Moody’s deverá cortar o outlook de Portugal para estável devido à pandemia
Agência de notação avalia dívida nacional. Analistas não esperam alterações no rating, mas antecipam uma revisão em baixa do outlook para incorporar os efeitos do coronavírus nas contas públicas.
Portugal prepara-se para enfrentar o primeiro exame das agências de rating desde que apresentou o Orçamento Suplementar, ou seja, desde que são as conhecidas as projeções do Governo para o impacto do coronavírus nas contas públicas. A única das maiores agências que ainda tem perspetiva “positiva” de rating positiva, a Moody’s deverá passar essa indicação para “neutra” esta sexta-feira.
“Não podemos ficar muito surpreendidos se a Moody’s cortar a perspetiva de rating. As perspetivas de crescimento, o equilíbrio orçamental e o peso da dívida na economia mudaram completamente. O país pode não ter culpa, mas mudou tudo“, diz Filipe Garcia, presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros.
A última vez que a Moody’s avaliou Portugal foi em abril, tendo na altura mantido tanto o rating como o outlook inalterados em Baa3 positivo, nível para o qual tinha subido em agosto de 2019. A agência decidiu na altura não acompanhar as duas pares, Fitch e Standard and Poor’s, que em abril reviram em baixa a perspetiva de rating português devido ao impacto da pandemia.
A perspetiva sinaliza em que sentido poderá o rating ser alterado nos meses seguintes ou se é expectável que se mantenha. Se a Moody’s fizer o mesmo e revir em baixa o outlook esta sexta-feira, Portugal passará assim a ter outlook estável junto de todas as principais agências (as três norte-americanas e a canadiana DBRS).
Não podemos ficar muito surpreendidos se a Moody’s cortar a perspetiva de rating. As perspetivas de crescimento, o equilíbrio orçamental e o peso da dívida na economia mudaram completamente. O país pode não ter culpa, mas mudou tudo.
“Não espero que a Moody’s altere o rating, mas é provável que revejam em baixa o outlook“, concorda Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa. “Apesar de a última avaliação ter sido em abril, a situação de pandemia exige uma avaliação semana a semana, tal como fizeram bancos centrais e governos na resposta que foram anunciando”.
Os dois economistas apontam para a degradação das contas públicas como principal fator para que a Moody’s deixe de estar positiva em relação ao país. Na proposta de Orçamento do Estado Suplementar que entregou no Parlamento, o Governo apontava para uma meta de défice de 6,3% em 2020, mas já anunciou que o valor será revisto para 7%.
Para financiar esse buraco nas contas públicas, o Governo antecipa que a dívida pública dispare para o nível recorde de 134,4% do Produto Interno Bruto (PIB). Em ambos os casos, os rácios serão castigados pelo tombo na economia, que é estimado em 6,9%. “Com estas projeções, é uma revisão que acaba por ser natural”, considera Filipe Silva. Já Filipe Garcia sublinha que “mesmo a nível político, o apoio do Governo não é o mesmo que era”.
Aliás, o próprio Governo não é o mesmo: Mário Centeno deixou o cargo de ministro das Finanças para passar para governador do Banco de Portugal. Apesar de o sucessor João Leão ser visto como continuidade, o que não deverá abalar a confiança das agências em Portugal, a saída de Centeno num momento de crise económica foi malvisto pelos partidos, lembra Filipe Garcia. O risco para a aprovação do Orçamento do Estado para 2021, que advém do facto de o Governo não ter maioria parlamentar, poderá ser apontada pela agência.
A parte positiva é que Portugal continua a financiar-se a níveis positivos com o apoio do Banco Central Europeu e podemos ter ainda mais apoio consoante a decisão que sair do Conselho Europeu.
Outro ponto que poderá ser destacado é a TAP, que se prepara para receber apoio público no montante máximo de 1.200 milhões de euros. “Normalmente as agências só fazem referência quando já são factos consumados para não estarem a trabalhar na base de possibilidades, mas podem chamar a atenção nos riscos”, espera o presidente da IMF.
Os analistas consultados pelo ECO desdramatizam, ainda assim, a revisão em baixa já que está relacionada com os efeitos da pandemia e não estão a comprometer a capacidade de Portugal se financiar no mercado. Aliás, os juros da dívida portuguesa a dez anos já estão em níveis pré-Covid, a negociar próximos de 0,44%.
“A parte positiva é que Portugal continua a financiar-se a níveis positivos com o apoio do Banco Central Europeu“, sublinhou o diretor de investimentos do Banco Carregosa sobre o programa de emergência com 1,35 biliões de euros para compra de dívida da Zona Euro. “E podemos ter ainda mais apoio consoante a decisão que sair do Conselho Europeu”, acrescentou sobre o fundo de recuperação da Comissão Europeia que poderá juntar mais 750 mil milhões de euros.
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