Pandemia ameaça 20% dos projetos de investimento estrangeiro previstos para este ano

Portugal foi o 8.º país da UE que captou mais projetos de investimento estrangeiro. Reduziu a dependência face ao investimento europeu ao diversificar geografias de origem. EUA são o maior investidor.

Portugal foi, em 2019, a oitava economia da União Europeia mais atrativa para os investidores estrangeiros. O país atraiu um número recorde de projetos de Investimento Direto Estrangeiro (158), mas a pandemia de Covid-19 ameaça 20% dos projetos previstos para este ano, revela o estudo EY Attractiveness Survey Portugal 2020.

Os analistas da EY consideram que dos 158 projetos de IDE anunciados o ano passado, aproximadamente 20% podem estar em risco de serem adiados, fortemente ajustados ou cancelados. Um valor que ainda assim é inferior à média europeia — a expectativa em geral é de quebra de 35 a 50% — e que se explica pelo perfil do IDE na economia nacional. Para contrariar esta tendência o peso e impacto do pacote de estímulos vai desempenhar um papel decisivo na atratividade de curto prazo dos países, revela um inquérito lançado pela EY em maio, com 80% dos inquiridos a selecionarem esta resposta. E segundo lugar (71%) surge o nível de adoção de novas tecnologias por parte dos consumidores.

Portugal ainda não apresentou um pacote de estímulos económicos de médio/longo prazo “significativo”, “com o mesmo grau de ambição de outros países europeus”, como Itália e Alemanha, por exemplo, com medidas equivalentes cerca de 20% do PIB, mas “os atuais constrangimentos e prioridades orçamentais poderão deixar pouca margem de manobra para isso”, alerta o estudo da EY. O ministro das Finanças, João Leão, já reviu em alta a previsão de défice para este ano, para 7%. Mas, o impacto que as medidas adotadas vai ter nas contas públicas de cada país e a forma como estes vão lidar com ele — seja através de um aumento de impostos ou cortes orçamentais — também vai ser “um importante fator distintivo” entre os países.

Assim, a resiliência a curto prazo do IDE e a atratividade a longo prazo vão depender da capacidade que o país terá em reforçar os seus pontos fortes e a sua notoriedade enquanto destino de IDE. “Portugal pode beneficiar face a outras economias se se mantiver focado em melhorar os fatores de atratividade que mais influenciam os investidores – e que incluem, entre os mais favoráveis, a qualidade de vida, a estabilidade social ou a pool disponível de talento. Mas, tão ou mais importante, o Governo e as autoridades locais terão de rápida e eficazmente trabalhar os fatores a que têm sido apontadas algumas deficiências pelos investidores. Felizmente, de acordo com os resultados do estudo, tem havido um progresso notório em temas como a flexibilidade laboral ou a tributação às empresas”, sublinha Florbela Lima, partner da EY Portugal e líder da EY-Parthenon.

Num inquérito lançado a investidores estrangeiros em março, quando os efeitos da pandemia ainda não se faziam sentir totalmente — embora várias economias, incluindo a portuguesa, se preparassem para o confinamento — 47% dos inquiridos mostravam-se confiantes de que a atratividade de Portugal iria continuar a melhorar nos próximos três anos; 36% diziam que se iria manter estável e apenas 10% apontavam para uma deterioração no mesmo período.

Como os investidores pensavam que a atratividade de Portugal ia evoluir ao longo dos próximos três anos num cenário pré-Covid

 

Fonte: : EY Attractiveness Survey 2020 (3-20 março 2020, 203 inquiridos: 114 estabelecidos em Portugal, 86 não estabelecidos)

Apesar de aparente nota positiva, o cenário é de incerteza. “Portugal não está imune às ondas de choque provocadas pela pandemia de Covid-19″, tendo em conta que a sua atividade económica “está altamente dependente de setores que estão a ser fortemente afetados pela crise, nomeadamente o
turismo e lazer, ou a aviação”, sublinha Miguel Farinha, partner da EY Portugal e responsável pela área de strategy and transactions. “Neste contexto, o IDE será certamente impactado. Todavia, a nossa análise mostra que o IDE em Portugal poderá ser mais resiliente no curto prazo do que na maioria das economias congéneres europeias, devido ao perfil dos projetos que o país tem conseguido atrair”: atividades ligadas ao desenvolvimento de software, Investigação & Desenvolvimento ou à criação de centros de serviços partilhados. “A economia portuguesa também beneficia de ativos sólidos, incluindo a robusta e sólida infraestrutura digital ou uma força de trabalho qualificada e adaptável, o que tenderá a promover a resiliência destes setores de atividade mesmo em cenário de crise”, acrescenta.

“A disponibilidade de talento, em especial em áreas tecnológicas altamente qualificadas, combinadas com a capacidade de falar várias línguas, contribuiu significativamente para as recentes taxas de investimento recorde no país”, sublinha, por seu turno, o presidente da Aicep, recordando que Portugal é o terceiro país mais seguro do mundo, de acordo com o Índice Global de Paz e o terceiro mais atrativo para expatriados, segundo a InterNations. Luís Castro Henriques sublinha que os oito projetos de investimento que o país já conseguiu atrair desde março, ou seja, durante a pandemia de Covid-19, no setor tecnológico são uma prova de que “a estabilidade política, económica e social e a resposta à pandemia são fatores decisivos para os investidores”.

A Springer Nature, editora científica, que iniciou em julho o processo de integração dos seus primeiros colaboradores em Lisboa é um dos exemplos desses investimentos tal como a NFON AG, cujo novo centro de investigação e desenvolvimento será no “centro de Lisboa” e deverá ter entre “70 a 100 pessoas” em Portugal dentro de quatro anos.

2019 foi um ano recorde na atração de IDE

Portugal conseguiu atrair, o ano passado, 158 novos projetos de Investimento Direto Estrangeiro, o que é considerado “um marco histórico para Portugal no IDE, e um salto de 114% face aos 74 projetos de 2018. Este “valor recorde” representa 12.549 postos de trabalho, número que mais do que duplicou em relação ao ano anterior (6.100), revela o estudo da EY.

A área do Digital reforçou a posição de liderança em termos de atratividade, quase triplicando os projetos (de 15 para 42) e aumentando o número de empregos criados (de 1.610 para 3.766). O setor de Produção e Fornecimento de Equipamento de Transporte também cimentou o investimento estrangeiro (31 projetos e 4.148 postos de trabalho), e os Serviços Empresariais ultrapassaram o setor Agroalimentar ocupando agora a terceira posição no ranking dos setores de atividade que mais projetos de IDE atraíram em 2019. O estudo revela ainda que nenhum setor de atividade observou uma quebra nas intenções de investimento estrangeiro.

Ranking dos setores que mais projetos de IDE atraíram em 2019

Fonte: EY European Investment Monitor (EIM), 2019-2020

Portugal foi, no conjunto da União Europeia, o oitavo país que captou mais projetos de investimento estrangeiro e reduziu a sua dependência face ao investimento europeu já que diversificou as geografias, isto apesar de 2019 ter sido um ano marcado pela incerteza e pela escalada de tensão nas trocas comerciais mundiais. O número de projetos de IDE provenientes de outros países europeus subiu de 59 para 108, mas a proporção do investimento europeu caiu de 80% para 68%, uma vez que a economia nacional conseguiu atrair o triplo do número de projetos com origem em geografias não europeias (de 15 para 50 projetos). Os Estados Unidos tornaram-se, o ano passado, no maior investidor em Portugal, com 26 projetos anunciados, seguido da Alemanha (22) e França (21). O estudo revela ainda que o Reino Unido, a braços com as negociações do Brexit, mais do que duplicou o número de projetos de investimento em Portugal, de seis, em 2018, para 15, no ano seguinte.

Posição de Portugal na Europa em termos de IDE

Fonte: EY European Investment Monitor (EIM), 2019-2020

Projetos de IDE em Portugal por principais países de origem (2019)

Fonte: EY European Investment Monitor (EIM), 2019-2020

O estudo revela ainda que Lisboa é a região que mais IDE atraiu no ano passado, com um total de 62 projetos (32 no ano anterior), que geraram 4.090 novos postos de trabalho, sobretudo nos setores do Digital e dos Serviços Empresariais. Já o norte do país, apesar de ter atraído menos investimentos (51, mais 24 do que em 2018), estes foram responsáveis por 5.722 novos postos de trabalho nos setores de Produção e Fornecimento de Equipamento de Transporte e Digital. Já a região Centro ocupa a ter ceira posição no top regional, ao atrair 26 projetos (21, no ano anterior), responsáveis por 1.518 empregos.

O Alentejo foi a única área geográfica a registar um decréscimo nas intenções de investimento, passando de 21 projetos de IDE anunciados em 2018 para nove, no ano seguinte.

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