O futuro da economia do trabalho
Ainda a dar os primeiros passos para o regresso a um novo normal, já percebemos que esta situação, catastrófica do ponto de vista humanitário, está, por outro lado, a transformar-se numa oportunidade.
Mais de um terço da população mundial ficou confinada em casa naquela que é já a maior experiência de trabalho remoto registada até ao momento. Esta experiência trouxe aos líderes de negócio e aos líderes de gestão de pessoas a necessidade e até a urgência de compreender rapidamente o papel da tecnologia no futuro do trabalho. Isto para além da necessidade de manter um sentimento de “humanidade organizacional” num contexto marcadamente digital.
Apesar de hoje estarmos ainda a começar a dar os primeiros passos para o regresso a um novo normal, já percebemos que esta situação, catastrófica do ponto de vista humanitário, está, por outro lado, a transformar-se numa oportunidade para as organizações acelerarem a maior transformação das últimas décadas. Retirando as devidas aprendizagens de um contexto de trabalho remoto forçado, as empresas podem agora acelerar a transição para o futuro do trabalho, implementando formas de trabalhar mais flexíveis e ágeis. Convém aliás lembrar que, antes de a Covid-19 surgir, três em cada cinco empresas em Portugal não tinha uma política de trabalho remoto.
Contudo, à medida que os governos vão aliviando as medidas de restrição e promovem o regresso gradual à normalidade, as organizações têm uma janela curta para reinventar a sua forma de operar e transitar para um novo normal ao colocar a tecnologia ao serviço do negócio e do bem-estar das suas pessoas.
Esta premissa é evidenciada na mais recente edição do estudo Human Capital Trends da Deloitte, cujos resultados, acabados de apurar, com a participação de mais de oito mil executivos de todo o mundo, incluindo Portugal, revelam o que está a moldar o futuro do trabalho e futuro das suas organizações.
É interessante observar que, em dez anos de auscultação sistemática das principais tendências de capital humano, os inquiridos elegem hoje como fatores determinantes a aposta no well being (bem-estar) e no belonging (sentimento de pertença) como fatores cruciais nas organizações.
Note-se que 79% dos participantes do estudo afirmaram que promover o sentimento de pertença junto das suas pessoas é importante ou muito importante para o sucesso da sua organização nos próximos 12 a 18 meses. Enquanto que 80% das organizações inquiridas referem que o bem-estar das suas pessoas é importante ou muito importante para o seu sucesso nos próximos 12 a 18 meses.
Estas conclusões são, na minha perspetiva, exponenciadas pela situação que vivemos, onde, para além das implicações do distanciamento social, os líderes precisam de resolver o dilema da atração e da retenção do talento num mundo menos social e com maior dificuldade em estabelecer e criar relações.
O debate vai além da necessidade de providenciar tecnologia que permita às pessoas trabalharem a partir de qualquer lugar, de reforçar as práticas de trabalho flexível e comportamentos de bem-estar no quotidiano ou do redesenho dos escritórios empresariais.
O mesmo estudo indica que, mesmo antes da pandemia, as organizações lutavam para prosperar num cenário de rápida mudança, com 53% dos participantes a afirmar que mais de metade da sua força de trabalho precisaria de alterar as suas principais competências nos próximos três anos. Ora, no pós-pandemia, esta necessidade torna-se ainda mais urgente e evidente com o ritmo de mudança abrupto e incontornável.
Se, por um lado, a resiliência e a capacidade de reinvenção e adaptação vêm para ficar enquanto características e competências valorizadas pelas organizações, onde os profissionais com capacidade para se adaptarem a um futuro incerto e dominado pela tecnologia passarão a ser altamente valorizados, por outro, este novo contexto está a colocar uma enorme pressão às organizações. Isto porque estas precisam de pensar de que forma se podem reinventar no regresso ao trabalho, ou seja, através das pessoas com as competências certas para este novo caminho. Que não restem dúvidas, o ano de 2020 será um ano de resiliência à escala global.
*Nuno Carvalho é partner & human capital leader da Deloitte.
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