Queda do turismo vai além do verão, mas rating de Portugal é “resiliente”
A Moody's prevê que a procura turística vá continuar fraca face aos níveis pré-pandemia. Porém, na Europa, os países mais vulneráveis ao setor têm resiliência, principalmente por causa da ação do BCE.
A Moody’s admite que os países do Sul da Europa, incluindo Portugal, estão mais vulneráveis face à queda do turismo, um setor com um peso significativo nestas economias. Contudo, essa situação não deverá, para já, afetar a notação financeira dos soberanos uma vez que o seu perfil de crédito “mantém-se resiliente”, escreve a agência de rating num relatório divulgado esta sexta-feira.
“Os soberanos do Sul da Europa estão mais expostos ao impacto no crédito da queda significativa do turismo que é provável que permaneça além da época de verão de 2020“, afirma a Moody’s, assinalando que esse é o caso de Portugal, Croácia, Grécia, Malta, Espanha, Chipre e Itália, que são os países da Europa, o maior destino mundial, mais afetados por este fenómeno.
O problema coloca-se de forma mais expressiva para os países mais dependentes do transporte aéreo, como é maioritariamente o caso de Portugal. “O turismo intercontinental terá uma recuperação particularmente lenta no seguimento da pandemia atual, enquanto os países com uma percentagem relativamente elevada de turismo doméstico, incluindo França e Alemanha, estão relativamente menos expostos”, lê-se no relatório.
No entanto, para a Moody’s, ainda que o choque tenha tido um impacto “negativo considerável” no emprego, na dívida pública e no crescimento económico, “os países mantêm outros pontos fortes no [perfil de] crédito que foram reconstruídos nos anos seguintes à crise das dívidas soberanas da Zona Euro“.
Um desses pontos forte é a “significativa ajuda” que está a ser dada pela política monetária do Banco Central Europeu (BCE), assim como, no futuro, pela política orçamental da União Europeia ao abrigo do Fundo de Recuperação europeu. Juntos vão “dissipar alguns dos efeitos negativos causados pela pandemia e pelo seu impacto no turismo”, concluem os autores do relatório, a vice-presidente da Moody’s, Sarah Carlson, e o analista Petter Bryman.
“Muitos dos países que são vulneráveis à recessão no turismo têm outras fontes de resiliência económica, institucional e orçamental que lhes permite ter estabilidade no rating apesar do impacto económico e orçamental da pandemia“, sintetizam.
Mas nem tudo está perdido no turismo para os países do Sul da Europa, apesar de a Moody’s prever que os problemas no setor vão prolongar-se além do verão. “Dito isto, uma grande percentagem das chegadas turísticas por carro mitigam os riscos para a Croácia e uma relativamente elevada percentagem de turistas domésticos mitigam os riscos para Itália e Espanha”, aponta o relatório.
Recorde-se que em julho a agência de notação financeira decidiu não se pronunciar sobre o rating de Portugal na data indicativa para o efeito. A previsão da Moody’s para o défice português é de 9,2% em 2020, bem acima dos cerca de 7% estimados pelo Governo, e de 4,3% em 2021. Para o PIB, a previsão é de uma quebra de 9,5%. “O principal desafio para o rating de Portugal é o muito elevado peso da dívida, que limita a capacidade de o país absorver futuros choques“, alertou nessa altura Sarah Carlson.
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