O que se sabe e não se sabe sobre a pandemia?
15 respostas sobre o que se sabe e não se sabe sobre o novo coronavírus seis meses após a declaração de pandemia pela OMS.
A doença respiratória covid-19, causada por um novo coronavírus, detetado em dezembro na China, foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma pandemia em 11 de março.
Seis meses depois da declaração de pandemia, eis o que se sabe, e não se sabe, sobre a covid-19, com base em informação divulgada por OMS, Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, Direção-Geral da Saúde (DGS), especialistas e estudos científicos:
O que é a Covid-19?
É a doença respiratória provocada pelo SARS-CoV-2, um coronavírus que nunca tinha sido identificado em humanos.
Covid-19 significa doença provocada por um coronavírus descoberto em 2019, o coronavírus-2 da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV-2).
A nova doença infecciosa apresenta sintomas semelhantes à gripe sazonal e a duas outras doenças respiratórias provocadas por coronavírus: a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV), que apareceu pela primeira vez na China em 2002, e a Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS-CoV), detetada em 2012 na Arábia Saudita.
O que é um coronavírus?
É uma família de vírus (com a forma de uma coroa) que circula entre os animais, como morcegos, camelos e aves, sendo que alguns infetam pessoas.
Até à data, segundo a DGS, são conhecidos oito coronavírus que infetam e podem provocar doença nos humanos.
Normalmente, estes vírus afetam o sistema respiratório, podendo a infeção ser semelhante a uma constipação ou evoluir para uma doença grave como a pneumonia.
Os morcegos são considerados os reservatórios naturais destes vírus, transmitidos habitualmente aos humanos através de outro animal.
O coronavírus que causou a MERS foi transmitido por camelos às pessoas, enquanto o coronavírus que provocou a SARS passou de gatos-de-algália (civetas) para os humanos.
No caso do coronavírus que provoca a covid-19, não é claro ainda qual o animal que serviu de hospedeiro ao vírus e o transmitiu às pessoas.
Vírus muito semelhantes foram identificados em morcegos e pangolins, mas não é seguro, ainda, qual o envolvimento destes animais no aparecimento do SARS-CoV-2 nos humanos.
Quando é que foi detetado o novo coronavírus?
Em dezembro de 2019, na cidade chinesa de Wuhan, tendo-se espalhado rapidamente ao resto do mundo.
Os primeiros casos de covid-19 foram associados a um mercado de venda de animais vivos, que foi encerrado em 01 de janeiro de 2020.
Em 11 de janeiro, cientistas chineses divulgaram a sequenciação genética do SARS-CoV-2, uma informação importante para o avanço do estudo do novo coronavírus e da nova doença infecciosa.
O que é uma pandemia?
É uma doença infecciosa que se propagou pelo mundo.
A OMS declarou a covid-19 uma pandemia em 11 de março de 2020.
Além de ser uma pandemia, a covid-19 é, desde 30 de janeiro, uma emergência de saúde pública internacional.
Como se transmite a infeção?
Transmite-se entre pessoas, possivelmente através de gotículas que são expelidas do nariz ou da boca quando uma pessoa infetada tosse, espirra ou fala.
As gotículas podem ser inaladas, mas também cair em superfícies, como mesas, maçanetas de portas e corrimões.
As pessoas podem ficar infetadas ao tocarem com as mãos nestas superfícies e depois no nariz, na boca ou nos olhos.
O SARS-CoV-2 pode sobreviver em diferentes materiais algumas horas, como cobre e cartão, ou poucos dias, como plástico e aço inoxidável. Contudo, a quantidade de vírus viável para causar infeção vai diminuindo com o passar do tempo.
Recentemente, um vasto grupo de cientistas advertiu que pequenas partículas do novo coronavírus presentes no ar são suficientes para infetar pessoas.
A transmissão do vírus pode ocorrer cerca de dois dias antes de uma pessoa infetada manifestar sintomas.
Contudo, a pessoa é mais infecciosa no período em que apresenta sintomas, mesmo que ligeiros.
Qual o período de incubação do coronavírus?
Estima-se que o período de incubação, entre a exposição ao vírus e o aparecimento de sintomas, ronde 1 a 14 dias.
Qual o período de infeção?
Estima-se que dure, em média, entre 7 e 12 dias em casos moderados e até duas semanas nos casos graves.
Como se manifesta a Covid-19?
Na maioria dos casos, a infeção apresenta sintomas ligeiros a moderados ou é assintomática (sem sintomas).
Os sintomas mais comuns são tosse, febre e dificuldade em respirar.
Menos frequentes são a fadiga, dores musculares, de cabeça e garganta, congestão nasal, conjuntivite, diarreia, perda de olfato e paladar e irritação cutânea.
A covid-19 pode surgir como uma simples constipação ou evoluir, de forma mais grave, para uma pneumonia com insuficiência respiratória aguda, falência dos rins ou de outros órgãos e levar à morte.
O agravamento da situação clínica pode acontecer rapidamente, em regra durante a segunda semana da doença.
Grande parte das pessoas recupera, no entanto, sem necessitar de cuidados hospitalares e, aparentemente, sem ficar com sequelas.
As possíveis sequelas que a infeção pelo novo vírus respiratório pode deixar nas pessoas, em particular nas que estiveram hospitalizadas, estão a ser investigadas, com estudos a sugerirem lesões nos pulmões e no cérebro com base em sintomas descritos por doentes recuperados, como falta de ar, fadiga, insónia, ansiedade e falhas de memória.
Sendo uma infeção assintomática, isto é, uma pessoa pode infetar-se e infetar outras pessoas sem o saber, o controlo da propagação da covid-19 é mais difícil quando comparado com as infeções respiratórias semelhantes MERS (2012 e 2015) e SARS (2002 e 2003).
Como se diagnostica a Covid-19?
Através de uma análise às secreções do nariz e da garganta que confirmará ou não a presença de material genético do vírus.
Quem fica infetado?
O vírus infeta desde crianças a idosos, mas não de igual modo.
Nas crianças, a covid-19 é, em geral, menos severa. Os especialistas admitem como possíveis explicações o facto de terem uma imunidade inata mais forte e menos recetores para o vírus entrar nas células do sistema respiratório.
Em contrapartida, as pessoas com mais de 70 anos e ou com doenças crónicas, como doenças cardiovasculares, renais, respiratórias, diabetes e cancro, apresentam maior risco de desenvolver manifestações mais graves da doença, que podem conduzir à morte, por terem as defesas do organismo mais debilitadas.
Sabe-se, ainda, pouco sobre o risco de transmissão do novo coronavírus das mães para os filhos durante a gravidez, o parto ou a amamentação. Os estudos são contraditórios.
Quem foi infetado fica protegido contra uma nova infeção?
À partida uma pessoa que é infetada por um vírus e recupera fica imune a uma nova infeção causada por esse mesmo vírus, uma vez que ganhou anticorpos contra o vírus.
Já houve casos, poucos, de reinfeções por covid-19, mas a OMS considerou-os quase irrelevantes do ponto de vista estatístico, embora esteja a estudá-los e à procura de respostas.
Sendo a infeção provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2 recente, não se sabe ainda quais os níveis de anticorpos adquiridos e se são efetivamente protetores, se neutralizam o vírus.
Além disso, uma vez adquirida essa imunidade, não se sabe se é duradoura ou não.
A imunidade a outros coronavírus não é duradoura, ronda entre ano e meio e três anos, de acordo com virologistas.
Os testes serológicos, que na prática consistem na recolha de uma amostra de sangue, são importantes para aferir o grau de imunidade a uma doença, ao permitirem detetar, no soro sanguíneo, os níveis de anticorpos específicos para um vírus como o SARS-CoV-2.
Resultados preliminares do primeiro Inquérito Serológico Nacional, realizado pelo Instituto de Saúde Ricardo Jorge com 2.301 voluntários, estimam que apenas 2,9% da população portuguesa tem anticorpos contra o novo coronavírus, uma percentagem considerada insuficiente para se ter imunidade de grupo.
Um estudo, até agora o mais extenso para avaliar a resposta imunitária ao novo coronavírus e que envolveu mais de 30 mil pessoas na Islândia, concluiu que os anticorpos produzidos pelo corpo contra o SARS-CoV-2 duram pelo menos quatro meses.
Existe tratamento para a Covid-19?
Não existe tratamento, apenas medicação dirigida para sintomas, sinais e infeções secundárias desencadeadas pela própria doença.
Equipas de cientistas e laboratórios farmacêuticos estão a testar vários medicamentos para a covid-19.
Segundo a Federação Internacional de Fabricantes e Associações Farmacêuticas, mais de 300 tratamentos contra a covid-19 estão a ser estudados ou testados em pessoas em todo o mundo.
Vinte e duas farmacêuticas estão envolvidas em 81 ensaios clínicos de medicamentos – novos ou antigos – para a covid-19, como antivirais, anti-inflamatórios, plasma sanguíneo de doentes recuperados e anticorpos monoclonais (anticorpos produzidos em laboratório).
Os tratamentos para a covid-19 que estão a ser testados variam consoante a sua atuação no organismo (se têm ação direta sobre o vírus ou sobre o sistema imunitário) e os potenciais benefícios para grupos distintos de doentes, de acordo com o seu estado de gravidade.
Enquanto não surge um fármaco direcionado para a doença, têm-se usado experimentalmente medicamentos que foram concebidos para combater outras patologias, ao mesmo tempo que se atesta a sua eficácia e segurança em ensaios clínicos mais alargados.
Um estudo concluiu que o anti-inflamatório dexametasona, autorizado em Portugal desde a década de 1960, reduz o risco de morte em doentes ventilados.
Recentemente, a OMS recomendou a utilização dos corticosteroides (que têm ação anti-inflamatória) no tratamento de doentes com covid-19 graves.
O antiviral remdesivir, desenvolvido para combater infeções provocadas pelo vírus Ébola e pelo coronavírus da MERS, tem ajudado, segundo alguns estudos, na recuperação de doentes com covid-19 hospitalizados. O seu uso, condicionado, na Europa foi aprovado em julho.
Portugal integra um ensaio clínico a larga escala promovido pela OMS para o uso terapêutico do remdesivir na covid-19.
Os antimaláricos cloroquina e hidroxicloroquina, que se mostraram aparentemente promissores para o novo coronavírus em testes laboratoriais, afinal comportam riscos para doentes com covid-19.
Face às dúvidas sobre a sua eficácia e segurança, a OMS suspendeu os ensaios clínicos com hidroxicloroquina e vários países, como França, Itália e Bélgica, interromperam o seu uso terapêutico em doentes infetados com o SARS-CoV-2. Portugal recomendou a sua suspensão.
O tratamento, igualmente experimental, com plasma sanguíneo de doentes recuperados tem sido aplicado a outros pacientes, em situações muito específicas e graves, em que as defesas do corpo (sistema imunitário) estão muito debilitadas, mas não é isento de riscos, como a intolerância, segundo especialistas.
Antibióticos têm sido administrados para combater infeções oportunistas provocadas por bactérias.
E vacina, há?
Não existe vacina para a covid-19, nem para outras doenças humanas provocadas por coronavírus.
De acordo com a OMS, à data de 08 de setembro, das 34 vacinas candidatas para a covid-19 em ensaios clínicos, oito estavam na fase final 3, a que antecede o pedido de autorização de comercialização.
Não se sabe quão seguras e eficazes serão estas potenciais vacinas para prevenir a doença e qual o grau de proteção que conferem, se duradouro ou não.
A OMS garante que nenhuma vacina para a covid-19 será recomendada ou utilizada se não for comprovada a sua eficácia e segurança.
A primeira vacina candidata começou a ser testada em humanos, com uma rapidez considerada sem precedentes, em 16 de março, nos Estados Unidos.
Outras se seguiram, e com a promessa de estarem prontas em prazos cada vez mais curtos: ano e meio, início do próximo ano e segundo semestre deste ano.
O desenvolvimento de uma vacina – que induz a produção de anticorpos específicos contra um agente infeccioso, neste caso o SARS-CoV-2 – demora tempo porque tem de passar por sucessivos testes de segurança e eficácia, processo que foi significativamente acelerado na pandemia da covid-19.
Depois de descoberta, uma vacina terá ainda de ser produzida, distribuída e administrada em larga escala, como é o caso para a covid-19.
Em condições normais, uma vacina demora, em média, 10 anos a ser produzida.
Na pior das hipóteses, pode-se não conseguir uma vacina segura e eficaz para a covid-19.
Ou então, a conseguir-se, poderá não ser dada a toda a gente, priorizando-se as pessoas em maior risco, como idosos e profissionais de saúde.
Numa fase inicial, de acordo com a OMS, uma vacina para a covid-19 deverá ser administrada a grupos prioritários, como idosos, doentes crónicos e profissionais de saúde, por correrem mais risco de infeção ou manifestações mais graves da doença.
Posteriormente, à medida que for aumentada a sua produção, a vacina deverá estender-se à restante população.
A OMS estima que uma vacinação em massa contra a covid-19 só ocorrerá a partir de meados de 2021.
Não havendo vacina, como se evita a infeção?
A melhor forma de uma pessoa evitar ser infetada ou infetar outras pessoas é manter a distância física, entre um e dois metros, lavar frequentemente as mãos com água e sabão ou solução alcoolizada, desinfetar objetos e superfícies, tossir e espirrar para o antebraço ou um lenço descartável e usar máscara, em especial em espaços fechados.
Vai haver uma segunda vaga pandémica de Covid-19?
É uma incógnita.
Há especialistas que admitem essa possibilidade, países a prepararem-se para essa eventual realidade. Outros não.
A Organização Mundial da Saúde, que chegou a considerar uma improbabilidade face aos modelos de previsão com que trabalha, alertou há três meses para uma possível segunda vaga no outono.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
O que se sabe e não se sabe sobre a pandemia?
{{ noCommentsLabel }}