Futebol, empresas e a “prata da casa”

  • Sérgio Guerreiro
  • 13 Outubro 2020

É fácil perceber que estas organizações terão de fazer ajustes, não apenas na otimização da sua estrutura de custos como na reinvenção das suas fontes de receita.

Apesar de estarmos longe da normalidade que a pandemia veio quebrar, começa a ser hora de fazer alguns balanços, projetar alguns cenários e construir novos modelos. E isto aplica-se transversalmente à nossa vida pessoal e profissional, bem como à vida das organizações. E a este propósito – uma vez mais – julgo fazer sentido compararmos o contexto empresarial com o contexto desportivo, nomeadamente com o futebol.

Sabemos que ao nível do futebol profissional as receitas são provenientes de direitos de transmissão televisiva, bilheteira, prémios de competições publicidade e merchandising. Mas é no mercado de transferências que os clubes portugueses (SAD- Sociedades Anónimas Desportivas) veem assegurada a sua subsistência, sendo esta uma parcela muito significativa das suas receitas e, por essa razão, um alicerce importante dos seus modelos de negócio.

Tal como acontece na esmagadora maioria das empresas e atividades por todo o mundo, a atual situação pandémica veio também refletir-se na indústria do futebol. A partir do momento em que o modelo deste negócio passou a estar descaracterizado (jogos sem público, quebra de receitas, redução do grau de espetacularidade, etc.), isso teve indubitáveis consequências ao nível do valor dos jogadores. Há estimativas que indicam que essas quebras possam oscilar entre os 15 e os 30%, o que significa que, em poucos meses, alguns atletas de topo mundial podem ter desvalorizado na casa das dezenas de milhões de euros.

Perante o exposto, é fácil perceber que estas organizações terão de fazer ajustes, não apenas na otimização da sua estrutura de custos como também na reinvenção das suas fontes de receita. E é neste contexto que a esmagadora maioria das SAD portuguesas (e não só) vai ter de redefinir as suas estratégias e prestar maior atenção à forma como gerem o seu principal ativo: os jogadores.

Deste modo, os clubes passam a olhar para as suas estruturas de futebol de formação de forma mais atenta, percebendo que a resposta pode residir nos jogadores formados nas suas academias. Por outro lado, começa a haver um cuidado acrescido na escolha do perfil de treinadores, passando-se a apostar mais em alguém cujo perfil seja mais dado ao desenvolvimento do potencial do atleta. Tenta-se valorizar os atletas existentes nessas estruturas, dando-lhes oportunidades e criando-lhes um projeto de desenvolvimento de carreira. Deste modo, os clubes poderão estar a descobrir potenciais talentos que podem gerar receitas extra muito significativas.

E nas empresas, a situação será diferente? Acredito que não. A maior parte das organizações tem visto significativamente reduzida a sua atividade e consequentes receitas. Como tal, torna-se necessário rever o modelo de negócio, otimizar a sua estrutura e, naturalmente, colocar a gestão das pessoas no centro dessa redefinição de estratégia.

Tal como nos clubes, existe seguramente muito potencial nas nossas empresas, muito talento por descobrir e por desbloquear. As organizações devem olhar para a “prata da casa” como um verdadeiro ativo que necessita ser rentabilizado, envolvido e auscultado. E, tal como no futebol, os líderes devem ser preparados para agir como treinadores (de pessoas), dotados de genuína vontade em potenciar a performance das suas equipas e em criar programas de desenvolvimento para cada um dos seus “atletas”. E com equipas bem lideradas, a motivação e respetiva produtividade tendem a aumentar, abrindo-se espaço para que as pessoas tragam novas ideias e novos conceitos de negócio, podendo esta ser a receita extra que ajudará as empresas a adaptarem-se aos novos tempos.

*Sérgio Guerreiro é membro da direção nacional da APG.

  • Sérgio Guerreiro

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