Portugal e Holanda assinam acordo para produção de hidrogénio já na próxima semana

O secretário de Estado da Energia, João Galamba, anunciou que "a parceria com a Holanda vai ser formalizada muito, muito em breve, e estamos em conversações com a Alemanha, o Japão, o Canadá".

O secretário de Estado da Energia, João Galamba, anunciou que o memorando de entendimento entre Portugal e a Holanda para produzir hidrogénio verde em Sines e exportá-lo para o norte da Europa “será formalizado muito em breve”. O ECO/Capital Verde sabe que a assinatura da parceria entre os dois países europeus, que permitirá ao país tornar-se num exportador de hidrogénio produzido por eletrólise, a partir de energia solar fotovoltaica, terá lugar já na próxima semana.

Fulcrais para esta parceria vão ser os portos marítimos de Sines e Roterdão, como ponto de partida e de chegada, respetivamente, do hidrogénio produzido em território português e exportado para a Holanda, de onde depois será distribuído pelo norte da Europa.

“Estamos muito atentos às parcerias internacionais no hidrogénio. Somos membros da UE, mas para acelerar esta transição temos de nos associar a países “leves” e descomplicados, que estão interessados em apostar no hidrogénio. Temos uma parceria com a Holanda, que vai ser formalizada muito, muito em breve, e estamos em conversações com a Alemanha, o Japão, o Canadá, que envolvem os governos, empresas e outras entidades”, disse Galamba numa intervenção durante o debate online dedicado ao tema “Oportunidades para o hidrogénio verde ser o motor da recuperação sustentável e transição energética num mundo pós-Covid-19”, inserido na 11ª Cimeira de Energia Limpas da Arábia Saudita.

No mesmo painel, em que participaram também o diretor executivo da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol, o ministro dos recursos Naturais do Canadá, Seamus O’Regan, o ministro da Energia do Chile, Juan Carlos Jobet, e a secretária de Estado da Economia e Energia da Alemanha, Elisabeth Winkelmeier-Becker, ente outros, Galamba frisou ainda: Não iremos a lado nenhum se desenvolvermos o hidrogénio sozinhos e temos consciência disso, por isso temos falado com outros países, participado em fóruns internacionais. No hidrogénio, o compromisso político e a colaboração entre diferentes stakeholders é tão ou mais importante que o desenvolvimento das tecnologias de produção”.

O governante português sublinhou as metas nacionais para o hidrogénio verde — 2,5 GW de capacidade instalada de eletrólise até 2030 — e o valor de investimento entre os sete e os nove mil milhões de euros com que já se comprometeras as empresas portuguesas e internacionais que responderam à call do Governo para desenvolverem projetos de produção de hidrogénio, além dos 40 milhões anuais que o Governo atribuirá também ainda em 2020 (e consecutivamente nos próximos anos, até 2030).

De acordo com a Estratégia Nacional para o Hidrogénio, os apoios públicos ao rondarão os 900 milhões ao longo de dez anos, dos quais 500 milhões através do Fundo Ambiental, via leilão, para cobrir o sobrecusto e apoiar a produção e o preço do hidrogénio associado aos mais de 2 GW de potência instalada. E ainda mais 400 milhões de fundos comunitários para apoiar diretamente o investimento: 40 milhões do POSEUR e 360 milhões do Portugal 20-30.

Alemanha já se aliou ao Chile no hidrogénio, Canadá está a olhar para Portugal

Sobre o porto de Sines, o governante assumiu que se trata ainda de um hub de energia fósseis — carvão e gás natural — mas que no futuro vai evoluir para energia mais limpas, tendo em conta o mega pólo industrial de produção de hidrogénio que irá nascer na região e que começará a sua produção já no próximo ano. O objetivo do Governo é criar uma nova rota marítima energética entre Sines e Roterdão, sem esquecer os países do norte de África. De acordo com a Estratégia Nacional para o Hidrogénio, o investimento previsto no projeto industrial de produção de hidrogénio verde em Sines poderá ser superior a 1,5 mil milhões de euros.

Em Roterdão, Stijn van Els, diretor comercial do maior porto marítimo da Europa, garantiu que a ambição é tornar-se num hub central de hidrogénio verde (uma espécie de “espinha dorsal” energética), recebendo-o de Portugal, Chile ou Arábia Saudita, e distribuindo-o para países como a Alemanha e outros do norte da Europa.

Do lado da Alemanha, Elisabeth Winkelmeier-Becker preferiu frisar o acordo que o país europeu já assinou com o Chile para a produção de hidrogénio e o projeto-piloto em curso, sem mencionar as conversações em curso com Portugal. Berlim aprovou a sua estratégia nacional para o hidrogénio em junho, com um pacote de estímulo do Estado de 9 mil milhões de euros. Isto tudo para terem 5 GW de capacidade instalada até 2030 (com mais 5 GW adicionais até 2040). No que diz respeito à procura, a Alemanha estima que a procura nacional de hidrogénio já chegar aos 90 a 110 TWh. OU seja, tendo em conta que o país só terá capacidade de produzir cerca de 14 TWh em 2030, entre 76 – 96 TWh não estarão cobertos pela produção interna.

“Temos de estabelecer parcerias com países terceiros, porque muito do hidrogénio vai ter de ser importado”, disse a responsável, sublinhando as parcerias com a Arábia Saudita e o Chile.

Já o ministro dos Recursos Naturais do Canadá garantiu que o hidrogénio faz parte do caminho do país para a neutralidade carbónica e frisou a parceria em desenvolvimento com Portugal, entre outros países do mundo.

Multiplicar hidrogénio por 7 e passar de 200 MW para 3 GW de produção

Na abertura do debate, Fatih Birol, diretor executivo da Agência Internacional de Energia, defendeu que o hidrogénio é uma opção-chave para a descarbonização da indústria e dos transportes pesados, mas sublinhou que é ainda preciso “dar um grande alto na tecnologia. O objetivo é ter 7 vezes mais hidrogénio do que hoje e a solução é a eletrólise. Temos de passar dos atuais 200 MW de capacidade de produção de eletrolisadores para 3000 MW [3 GW]. Reduzir os custos da eletrólise é crítico, através da escala, para aumentar em 15 vezes a capacidade dos equipamentos de produção de hidrogénio. Muitos governos já estão a desenvolver projetos para alcançar este objetivo”, disse Fatih Birol.

Por último, Tudor Constantinescu, conselheiro principal da Direção geral de Energia da Comissão Europeia, deixou claro que a ambição da UE é ter, no contexto da Aliança Europeia para o Hidrogénio, 6 GW de eletrolisadores para produção de hidrogénio verde até 2024 e 40 GW até 2030. Tudo isto financiado pelo mecanismo Next generation EU, com um pacote entre 24 e 43 mil milhões de euros dedicados especialmente ao hidrogénio produzido a partir de fontes renováveis.

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