• Reportagem por:
  • Juliana Nogueira Santos

Undandy: o sapato à moda do freguês

É portuguesa, nasceu há dois anos e permite a cada um expressar-se através da personalização. Mas ser Undandy é mais que isso...

Sem qualquer experiência no ramo do calçado mas com a certeza daquilo que queriam como consumidores, dois amigos, Rafic Daud e Gonçalo Henriques, decidiram que estava na hora de haver uma marca que vendesse sapatos de alta qualidade para homem, feitos à mão, com a melhor qualidade e personalizáveis.

Corria o ano de 2015 quando nasceu a Undandy e com ela o código de ética daqueles que usam os sapatos: “Ser Undandy é ser nobre, correto, cool, aventureiro, refinado e experienciar tudo o que a vida tem de melhor“, enumera Rafic.

Com um manifesto já assente e as “52 ways of the Undandy” a serem publicadas nas redes sociais, a Undandy afirma-se não só como produtora de calçado, mas como marca de lifestyle, como parte de uma experiência maior do que calçar uns bons sapatos.

A equipa conta hoje com 8 pessoas, sem contar com os artesãos que produzem à mão cada sapato, e o negócio está a expandir-se a olhos vistos: já foram vendidos 300 pares de sapatos únicos, para mercados tão diferentes como Estados Unidos da América, Reino Unido, Alemanha ou Irlanda, sendo que os dois primeiros totalizam 98% das encomendas.

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E qual tem sido a maior dificuldade até agora? A resistência de certos mercados em relação à compra online, nomeadamente o mercado interno. “Os Estados Unidos já têm vendas por catálogo há quase 100 anos, a Internet só veio modernizar o processo”, constata um dos cofundadores. Os clientes portugueses ainda precisam de ver o produto, de o experimentar antes de comprar — obstáculo que a Undandy quer afastar através da devolução gratuita.

“O nosso maior concorrente? As pessoas que ainda não compram online“, afirma Rafic.

Personalização é identidade

“Gandhi costumava dizer que havia sete biliões de religiões diferentes. Nós podemos dizer o mesmo das personalidades: há sete biliões de personalidades diferentes, não há duas pessoas iguais.” A personalização das peças assume-se como o fator de diferenciação da marca, que permite que cada um exprima quem é através da sua criatividade. Assim, o cliente já não quer uma peça de uma marca, quer uma peça feita por si. Porque “the only way to be truly unique is to just be yourself” [a única maneira de seres único é seres tu mesmo].

São nove os modelos que podem ser personalizados, entre botas, sapatos e ténis. E as combinações são intermináveis, visto que é possível escolher não só a pele e a cor dela, mas também a cor dos atacadores e das costuras, os detalhes da biqueira… Até fazer inscrições na sola, para que o cliente deixe a sua marca a cada passada.

Ainda que seja possível toda uma panóplia de personalizações, Rafic confessa que o habitualmente o cliente escolhe um sapato com apenas uma cor e um material e acaba por apenas personalizar as costuras ou escrever o seu nome na sola. Mas este não foi o caso de Ross, um cliente irlandês que levou a expressão da sua personalidade ao máximo.

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15 by Ross, as botas desenhadas por um cliente irlandês.Undandy

“Houve um irlandês que nos descobriu, nem me recordo como, que desenhou umas botas particularmente excêntricas. Eram um reflexo da bandeira da Irlanda”, contou, de sorriso esboçado, Rafic. “Queria os sapatos para o casamento dele e queria saber quanto é que ia demorar, porque ele só iria começar a fazer o fato do casamento depois de ter as botas.

A Undandy aceitou o desafio e produziu as botas que foram o centro das atenções no casamento. Posteriormente, o cliente enviou as fotografias do casamento, nas quais se podia observar que a noiva também fez uma escolha bastante diferente no que toca ao calçado.

 

É um sapato português, com certeza

Com a produção situada em São João da Madeira, a Undandy faz questão que cada par de sapatos seja produzido em Portugal. E isto afirma-se como mais do que apenas patriotismo: “Se estivéssemos a viver em Nova Iorque, ou em Tóquio, ou em Berlim, e decidíssemos fazer este negócio, Portugal seria na mesma a nossa escolha.”

E porquê? Para os fundadores da marca, o acesso às melhores matérias-primas e o know how acumulado ao longo dos anos faz com que tenhamos “os melhores artesãos do mundo”.

A indústria do calçado tem-se vindo a afirmar como a indústria estrela nacional: desde 2010, o cluster do calçado cresceu 49% nos mercados externos, segundo dados da APICCAPS, a associação do setor. A responsabilidade deste crescimento pode ser atribuída, não só aos aos produtores e às novas marcas que têm surgido mas também à criação e consolidação da marca “Portuguese Shoes”, a indústria mais sexy da Europa.

E qual o maior problema desta indústria estrela, desta indústria sensual? Para Rafic será o valor percecionado, na medida em que, mesmo produzindo produtos de alta qualidade, com os melhores materiais, pela mãos dos melhores do mundo, ficamos sempre atrás dos países já com uma longa tradição no calçado, como a Itália.

Para que isso mude, será necessária a consciencialização em relação ao “Made in Portugal”, um trabalho que tem de ser levado a cabo pelas diferentes marcas portuguesas. “Se é verdade que, até um certo ponto, todos nós somos concorrentes, em bom rigor estamos todos a beneficiar, porque estamos a exportar, a criar um valor acrescentado ao país, a apoiar uma indústria absolutamente fantástica que temos. É um peso que deve ser partilhado por todos os operadores de mercado“, afirma Rafic.

Palmilhando o caminho do empreendedorismo

Em relação ao empreendedorismo, Rafic tem uma posição que costuma despoletar alguns olhos revirados: “Estamos a assistir a um período da humanidade com pouca inovação. É verdade que temos internet e temos telemóvel, mas toda essa inovação é fruto da Guerra Fria.”

A causa desta ausência de inovação é o risco, ou melhor, o medo que as novas gerações têm de correr riscos, de falhar. Cada passo é milimetricamente medido, anexado a uma análise de prós e contras. “Se a penicilina tivesse sido descoberta agora, demoraria 30 anos a sair do laboratório”, justifica Rafic.

Assim, o cofundador da marca de calçado vê esta onda de empreendedorismo como um “espírito de risco que vai permitir à próxima geração crescer com um mindset diferente”.

O que trará o novo ano

O ano de 2017 será o ano da otimização do modelo de negócio a seguir. Além de se proporem a atingir o patamar dos 450 pares de sapatos vendidos, os fundadores afirmam que está a ser preparada uma ronda de financiamento, a segunda desde a criação da empresa, que deverá acontecer nos próximos dois meses. A saída de Lisboa e de Portugal, essa está totalmente fora dos planos.

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  • Juliana Nogueira Santos
  • Redatora

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