O risco não tem género. O sucesso também não
Acima de tudo, o(a) inovador(a) tem de demonstrar empatia, paixão e resiliência pelo que faz, sem se apaixonar demasiado pela ideia inicial, pois mais de 80% das ideias originais não sobrevive.
“Sara, achas mesmo que as mulheres têm o mesmo valor que os homens?” Pondo de parte a ignorância da questão, que me foi feita recentemente (quem diria, em pleno século XIX), a conclusão a que chego após quatro anos a trabalhar com projetos de inovação é que as mulheres não se ficam atrás no seu desempenho enquanto inovadoras.
Na verdade, um(a) empreendedor(a), para ser bem-sucedido em contexto de exploração de ideias inovadoras, tem de possuir algumas características que não têm que ver com o género mas com a própria personalidade, nomeadamente com humildade intelectual, curiosidade, capacidade de sair da zona de conforto, flexibilidade, escuta ativa, capacidade analítica, liderança, visão, persuasão.
Acima de tudo, o(a) inovador(a) tem de demonstrar empatia, paixão e resiliência pelo que faz, sem se apaixonar demasiado pela ideia inicial, pois mais de 80% das ideias originais não sobrevive.
No âmbito de um programa de aceleração da empresa em que trabalho, em parceria com a Universidade de Berkeley Haas na Califórnia, tive a oportunidade de testar um modelo de negócio no Quénia. A ideia surgiu após uma viagem backpack que fiz ao Peru, em que fiquei numa casa de locais no lago Titicaca. Na noite em que cheguei estava frio e perguntei se podia tomar um banho de água quente. A família olhou para mim com um ar envergonhado e disse-me não haver água quente. Nesse dia tornou-se mais óbvio para mim que os pequenos luxos do mundo ocidental (chamado desenvolvido) não são acessíveis à maior parte dos países do mundo. O meu objectivo primordial era desenvolver um modelo de negócio que permitisse à população com menos recursos aceder a água quente de uma forma confortável. Apesar de, no teste piloto, ter vendido mais de 100 aparelhos e os principais indicadores de satisfação e de pagamento terem superado as expectativas, o projecto falhou devido à falta de uma boa rede de distribuição. Custou-me imenso ver morrer a minha ideia, mas não considero de todo que tenha sido um falhanço.
Isto é algo que as mulheres têm de compreender: no jogo da inovação é necessário fazerem-se várias apostas até que um(a) vencedor(a) emerja, e a única forma de as mulheres assumirem um papel de liderança na inovação é participarem mais. Existem mais homens famosos na área da inovação, não porque eles sejam melhores do que nós, mulheres, mas simplesmente porque eles vão a jogo mais vezes.
No final do dia, a inovação deve servir para resolver problemas reais de pessoas reais. É por essa razão que as mulheres devem querer assumir esse risco com maior frequência.
*Sara Carvalho é intrapreneur & business model innovation consultant at Bosch
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