#Episódio 3: O dia em que Bruno de Carvalho e Jorge de Jesus foram alvos de Rui Pinto

Em 2015, o arguido centrou-se no Sporting. E pediu: "aceito doações, porque adquirir todo este material levou-me imenso tempo, e é sempre bonito contribuir...", dizia no Football Leaks.

Entre os dias 20 de julho e 30 de setembro de 2015, Rui Pinto conseguiu aceder aos mails de nomes sonantes do futebol português como Bruno de Carvalho — na altura presidente do Sporting — Jorge Jesus — também na altura a treinar os leões, Augusto Inácio, Carlos Godinho Vieira, Rui Pereira Caeiro, José Vicente Moura, Octávio Machado, Paulo da Silva. E mais uns quantos da estrutura do clube leonino, quer administradores, quer do departamento de Futebol da SAD. Com o intuito de divulgar a informação, Rui Pinto cria o blogue FootballLeaks — “cujo conteúdo foi sendo alimentado com recurso a documentos obtidos através da intromissão não autorizada em sistemas informáticos de diversas entidades”, diz a acusação do Ministério Público (MP), a que o ECO teve acesso.

Informações confidenciais sobre jogadores e (grandes) clubes nacionais e estrangeiros, valores de transferência de jogadores, acordos com entidades desportivas e até cláusulas de contratos totalmente sigilosas. O intuito era claro, segundo o próprio escrevia nesse mesmo blogue: “Este projeto visa divulgar a parte oculta do futebol, que está podre”, num meio em que “tudo serve para enriquecer parasitas” e, por isso, “fiquem atentos porque haverá muita polémica e muita curiosidade”. Mas sem deixar de pedir algum tipo de ‘prémio’ por isso: “aceito doações, porque adquirir todo este material levou-me imenso tempo, e é sempre bonito contribuir…”.

No total, foram 21 as caixas de correio eletrónico hackeadas pelo arguido — que esta quarta-feira se sentará no banco de arguidos naquela que é já a 12ª sessão de julgamento — acedidas por mais de 100 vezes (no total) em apenas dois meses. Violações feitas a partir dos IP localizados na morada de Rui Pinto em Budapeste e da Universidade do Porto.

E que informação sobre o Sporting interessou ser divulgada?

  • O contrato de cedência de direitos desportivos celebrado entre o Marítimo da Madeira e o SCP com vista à transferência de Danilo Pereira e de cedência do direito de preferência de Moussa Marega (maio de 2015);
  • O contrato de trabalho desportivo do SCP e Jorge Jesus, a 5 de Junho de 2015;
  • O documento de recusa de André Carrillo antes do Sporting-Nacional;
  • Contrato de cedência celebrado entre a Doyen e o SCP relativo ao jogador Labyad;
  • Acordo entre o SCP e a Doyen – de 23 de agosto de 2012 – referente à cessão e garantia de crédito e penhor sobre o direito de receita de bilheteiras do Sporting da época 2015-2016;
  • Contrato de trabalho celebrado entre o Sporting e o jogador Faustino Rojo;
  • Acordo de revogação de contrato entre o Sporting e Marco Silva e resposta do ex-treinador à nota de culpa deduzida contra si no processo disciplinar;
  • Resultados da auditoria feita pela Mazars e a Cuatrecasas à gestão do clube nos mandatos de Godinho Lopes, José Eduardo Bettencourt, Filipe Soares Franco, António Dias da Cunha, Pedro Santana Lopes e José Roquette;
  • Acordo de transferência de Bruma do SCP para o Galatasaray;
  • Transferência de André Carrillo;
  • Pedido de esclarecimento da CMVM relativamente ao contrato celebrado com Jorge Jesus;
  • Acordo de revogação de contrato de Leonardo Jardim;
  • A minuta do contrato de empréstimo de Mitroglou; o
  • No total, são 44 documentos mencionados pelo Ministério Público;

Toda esta informação, a acusação distribui por 83 parágrafos — obtidos através de vários programas e ferramentas, todos identificados. Como o “reaver” destinava-se a descobrir palavras passe em sistemas wi-fi, o “evilginx” servia para capturar, remotamente, credenciais e ficheiros de informação da sessão em qualquer serviço da internet, o “armitage” explora vulnerabilidades em dispositivos remotos e permite o controlo sobre o alvo, o “credentials file view” permite exibir palavras chave e outros dados armazenados dentro de arquivos de credenciais de um sistema Microsoft; o “data protection decryptor decifra palavras-chave e outras informações ou o “mailpv” que decifra palavras-chave de clientes de correio eletrónico como o Outlook ou o Gmail.

No total, o Ministério Público imputa ao pirata informático 147 crimes. Para além das intrusões e tentativa de extorsão, a PJ encontrou nos discos rígidos que lhe foram apreendidos documentos sobre os mais importantes casos da justiça portuguesa – incluindo o seu. Procuradores pedem que continue em prisão preventiva.

Ao todo, Rui Pinto responde por 63 de violação de correspondência, 75 de acesso ilegítimo, um na forma agravada, um de extorsão na forma tentada, um de sabotagem informática e sete de violação de correspondência na forma agravada. Já o advogado Aníbal Pinto é acusado de um crime de tentativa de extorsão e mantém como medida de coação.

Nota: Este artigo faz parte de uma série de episódios da “Novela Rui Pinto”, que irão ser publicados ao longo da semana, e que contam que informação obteve, afinal, o hacker Rui Pinto, como o conseguiu fazer, quantos advogados foram hackeados e que informação relativa ao Benfica foi acedida. As histórias e os relatos têm por base a informação do despacho de acusação anunciado pelo Ministério Público em setembro de 2020, no âmbito da investigação do processo “Football Leaks”.

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