Uma oportunidade a não perder

  • Henrique Neto
  • 24 Outubro 2020

O Governo deve aproveitar os empréstimos europeus a longo prazo e com juros baixos para apoiar as empresas que queiram investir na indústria nacional.

O Governo do PS tem uma oportunidade de ouro na questão das ajudas europeias ao nosso desenvolvimento. Não tanto nas ajudas, supostamente, a fundo perdido, mas nos empréstimos previstos, que terão muito boas condições de prazo e de juros baixos, que seria um crime desperdiçar. A minha proposta vai no sentido do Governo aproveitar esses muitos milhares de milhões de euros, para disponibilizar a empresas nacionais e internacionais que queiram investir na indústria nacional, ou seja, evitando passar o encargo dessa dívida para o Estado, fazendo-o sob a responsabilidade das empresas investidoras.

Neste contexto, teremos todas as condições para atrair o investimento de grandes empresas europeias, além das que já cá estão, realizando, de alguma forma, a ideia de Rui Rio de que precisamos de mais três AutoEuropas. É provável que essas empresas pretendam receber alguns subsídios adicionais, mas tal como aconteceu com a AutoEuropa há vinte anos, poderá ser dinheiro muito bem empregue.

O Governo já previu alguma coisa nesse sentido, mas em pequena escala, apenas cerca de dois mil milhões de euros, nomeadamente para financiar o Banco de Fomento. A minha proposta é muito maios abrangente, com a nota de que poderemos enquadrar a proposta no contexto da muito falada dependência das empresas europeias dos fornecimentos chineses. Ou seja, a proposta do Governo pode ser enquadrada neste movimento em curso na União Europeia.

O Governo português pode chamar a atenção de Bruxelas para o que está a acontecer no sector automóvel, em que fabricantes europeus e norte americanos estão a construir fábricas na China para fabricar automóveis eléctricos. O perigo não é apenas o do investimento na China, mas o facto da União Europeia já não se poder defender das importações com argumentos técnicos e de segurança, como tem feito, na medida em que isso não é aplicável a esta produção de empresas ocidentais.

O Governo de António Costa andaria bem se, desde já, organizasse uma pequena comissão de pessoas experientes nestes sectores do comércio internacional, com o encargo de atraírem, com esta argumentação, três ou quatro grandes investidores internacionais. Cuidado, esta não é uma missão que possa ser levada a bom porto com os boys do PS.

Como é evidente, existem argumentos adicionais de atração do investimento estrangeiro que defendo há anos:

  1. A localização de Portugal no centro do Ocidente, a meio dos dois maiores mercado mundiais, a Europa e a América do Norte;
  2. As boas condições de exportação e importação por mar, dado sermos o mais Atlântico dos países europeus e termos o porto de Sines;
  3. A qualidade da engenharia portuguesa, a qualidade e o custo competitivo da nossa mão de obra;
  4. A qualidade e o custo da nossa construção civil e a disponibilidade de terrenos a baixo custo ou custo zero, nomeadamente em Sines;
  5. Para o caso do sector automóvel, a capacidade e a qualidade/preço da nossa indústria de componentes.

Esta é uma oportunidade que nem por não constar das 140 páginas do texto de António Costa Silva deve desmerecer o interesse do PS, de António Costa e do Governo. O facto de a proposta ser minha não deve igualmente ser colocada no catálogo das ideias erradas.

Espero, igualmente, que o PSD e Rui Rio, que tiveram a boa ideia das três Auto Europas, não deixem de aprofundar esta oportunidade, debatendo-a e colocando-a na agenda política. Será pena que não o façam.

Nota: Esta proposta reforça a necessidade de uma nova linha férrea em bitola UIC de Aveiro para a Europa.

  • Henrique Neto

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