Na apresentação dos dados do primeiro inquérito sobre a internacionalização das PME celebrou-se a iniciativa das empresas e pediu-se mais apoio das instituições.
O Observatório INSIGHT, criado numa parceria entre a Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa e a E-Monitor para compreender a realidade da internacionalização das pequenas e médias empresas (PME), apresentou as conclusões do seu primeiro inquérito numa cerimónia que teve lugar na Câmara do Comércio, em Lisboa.
Este primeiro inquérito contou com as respostas completas de 873 PME — 30% do setor industrial, 30% dos serviços, 25% dos transportes, alojamento e serviços de “porta aberta” e 15% do comércio a retalho. Esta taxa de resposta de 87,3% — visto que foram abordadas 1000 empresas — afirma-se para Rui Dias Alves, responsável do projeto, como um sucesso: “Ficámos muito impressionados com termos tido 873 respostas completas, o que não é comum para estudos de pequenas empresas”
A motivação para responderem? Não só a confiança que depositam nas duas entidades que o desenvolveram, mas também o facto de estes o terem visto como um teste de autoanálise: “Se calhar (os empresários) nunca pensaram tanto no tema da internacionalização como naquela meia hora em que seguiram o script”, justificou, em declarações ao ECO, Dias Alves.
Portuguesas mas internacionais
As conclusões do relatório já tinham sido aqui apresentadas pelo ECO. As empresas pensam na internacionalização, precisam dela para levar o seu negócio a novos patamares e concretizam-na. O detalhe mais importante está no investimento: a internacionalização das PME baseia-se em modelos low cost, ou capital light, lê-se no estudo promovido pela CCIP.
O estudo revela também que 35% das empresas internacionalizadas já estão presentes em mais de cinco mercados, sendo que os países com presença mais forte são Espanha (51%), Angola (43%) e França (41%). Exemplo da presença forte nestes países é a Ship4You. A empresa de logística integrada tem em França o seu mercado mais forte, devido à predisposição dos franceses para as compras online.
“A maior dificuldade que temos é arranjar clientes portugueses, gostaríamos muito de ter clientes nacionais e é muito complicado“, garante Cristina Coelho, CEO da empresa. “Temos uma outra postura perante este tipo de negócios.” Ainda assim, o mercado externo tem chegado para aguentar o negócio, que se afirma intermitente, devido à dependência constante das vendas dos seus clientes.
A Ship4You é também a ilustração do esforço de internacionalização e de ajustamento das PME portuguesas: “Temos a facilidade de pôr em prática testes em mercados como a Ucrânia, porque o nosso sistema tem essa capacidade de falar várias línguas. Neste momento estamos a receber e a registar encomendas em japonês.”
Ainda assim, Cristina não dispensa o que de bom se faz cá dentro: “Tenho cá os armazéns e faço expedições daqui para França, utilizando os nossos correios e as pessoas perguntam-me porquê. Tem a ver com a nossa capacidade de desenrasca, de conseguirmos dar a volta a determinado tipo de soluções, com a nossa qualidade de serviço e com a qualidade de serviço dos nossos correios que, contra tudo e contra todos, têm qualidade.”
Empresários pedem mais
Num debate marcado pela otimização das cadeias de valor e pelo papel da digitalização no dia-a-dia do empresário atual, destacaram-se os vários pedidos de mais apoio por parte das instituições no que toca à entrada nos novos mercados. Luís Calado, International Expansion Manager da Giovanni Galli, foi um dos que deu voz a esse pedido.
Foram pedidos mais dados e mais informação setorial. Luís Calado justifica isto com o facto de a Giovanni Galli estar presente em mercados “exóticos”, como caracteriza, com uma elevada dispersão espacial e cultural. Será, portanto, importante o apoio dos parceiros para lidar com “uma concorrência diferente e uma oferta de produtos diferente”.
“Estes estudos são importantes para nos darem uma fotografia global daquilo que somos enquanto grupo de empresas exportadoras, faz todo o sentido aprofundar isso setorialmente. Depois disso, faz todo o sentido, dentro de um setor, perceber que realidades díspares existem”, reiterou ao ECO, Luís Calado.
Quanto melhor nos conhecermos, melhor tomamos decisões para podermos dar passos mais seguros, até por aquilo que são as decisões dos nossos pares.
A criação de equipa de conselheiros para desenvolver passos importantes como os planos de negócio, também foram propostas apresentadas ao painel, por parte dos empresários.
A intenção de continuar o projeto também foi expressada não só pelo presidente da Câmara do Comércio, Bruno Bobone, mas também pelo responsável pelo projeto. “A lógica é, semestralmente, fazermos um retake, por um lado daquilo que é uma camada do inquérito que queremos que seja recorrente ao longo do tempo”, explicou ao ECO, Rui Dias Alves. “Depois todos os semestres faremos aquilo que chamamos aprofundamentos, que podem ser como os que aqui foram discutidos hoje, do tema da cadeia do valor ou do digital.”
A responsabilidade também foi passada para o Governo: pediu-se, sob o olhar atento de todos os antigos presidentes da Câmara do Comércio, o reconhecimento por parte do estado do papel das pequenas e médias empresas no crescimento natural.
Editado por Mariana de Araújo Barbosa (mariana.barbosa@eco.pt)
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PME já são internacionais mas precisam de mais
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