PME lá fora: Chegar mais longe em modo low-cost
Um novo relatório sobre a internacionalização das PME portuguesas mostra que estas chegam em média a mais mercados do que a generalidade, e tudo com um investimento 'light'.
As PME chegam mais longe, com 35% das empresas internacionalizadas presentes em mais de cinco mercados lá fora, apesar dos investimentos relativamente reduzidos que fazem nesse sentido. O objetivo é crescer, e o modelo é quase sempre a exportação. São alguns dos resultados mais significativos do primeiro relatório Insight: Um olhar sobre a internacionalização das PME, que vai ser apresentado esta quinta-feira pela Câmara do Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP).
O estudo, que é o primeiro sobre a internacionalização das pequenas e médias empresas (PME) em Portugal a ser realizado pela CCIP, em colaboração com a E-Monitor, surge para preencher uma lacuna. “Notámos que existia uma falta de dados atualizados sobre a única transformação verdadeiramente estrutural da economia nos últimos anos: a internacionalização da economia portuguesa”, afirma Bruno Bobone, presidente da CCIP, na nota editorial que acompanha o estudo.
E o que revela? Que as PME internacionalizam-se com pouco investimento e poucas mudanças na sua estrutura interna, mas os métodos, sejam os que forem, resultam: estas empresas chegam a mais mercados do que a média, e 71% afirmam já estar a ver resultados positivos.
Ir para longe…
Entre as PME internacionalizadas inquiridas, 12% estão presentes em apenas um mercado. É um valor muito inferior ao da totalidade das empresas internacionalizadas nacionais, revelada em outubro pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que mostrava que quase 70% das exportadoras portuguesas fazem transações com apenas um país estrangeiro. Neste estudo da CCIP, que resulta de inquéritos a mais de 800 PME por todo o país, 35% das empresas internacionalizadas afirmaram fazer negócios em mais de cinco países.
Mas os resultados do inquérito da CCIP também vão ao encontro de alguns dos do INE. É o caso da dispersão cada vez maior das exportações portuguesas por uma grande diversidade de mercados, não dependendo apenas do espanhol ou do angolano, como se verificava até recentemente. “Só assim se consegue perceber a forma como o impacto das ‘crises’ em mercados como o angolano ou o brasileiro não foi mais dramático no conjunto das exportações nacionais”, lê-se no relatório.
Mais de metade das PME internacionalizadas estão presentes em Espanha, é certo, e Angola segue-se-lhe com 43% das PME inquiridas a afirmarem terem presença no país. O resto do Top 6 é preenchido por membros da União Europeia: França, Reino Unido, Alemanha e Bélgica. Entre outros países significativos para as PME exportadoras? Moçambique, Brasil e EUA, mas também a China, o Japão, a Austrália, o México e os países do Golfo Pérsico.
Países com maior presença de PME internacionalizadas
O que é que faz uma PME decidir expandir-se para um certo mercado? Entre as principais prioridades dos inquiridos para o relatório da CCIP estão o “potencial de crescimento do mercado” e “a sua estabilidade política e económica”. Muito menos valorizados são a proximidade geográfica e os incentivos financeiros ou fiscais que possam existir.
O relatório ressalva mesmo que a decisão de expandir pode não ter as suas bases em estudos ou dados concretos. “Na verdade, resulta claro da investigação que, para muitas empresas, a decisão de explorar uma nova geografia é mais vezes determinada pelo desafio de entidades que já sejam suas clientes do que por um processo sistemático de «estudo de mercado»“, lê-se no documento.
…Com menos
Tendo em conta a pequena dimensão das empresas em questão, este resultado será óbvio: a internacionalização das PME baseia-se em modelos low cost, ou capital light, lê-se no estudo promovido pela CCIP. “Tão-somente 28% dos inquiridos reconhece que à internacionalização esteve associado “um elevado esforço de investimento”, percentagem que compara com 29% que assinalam que este investimento foi “pouco expressivo”, e outros 43%” que falam num “investimento moderado”.
Para se financiarem, a grande maioria das empresas (85%) referiram usarem os seus fundos próprios. Além deste método, 36% das empresas referiram terem recorrido também a financiamento bancário, e 25% a fundos públicos como o Portugal 2020.
Além de gastarem relativamente poucos fundos, a maior parte das PME também não procedem a grandes restruturações internas para lidar com a internacionalização. Quase 70% das empresas dizem que o processo foi conduzido pela estrutura preexistente da empresa, sem necessidade de alterações. “Apenas 13% dos inquiridos referem a criação de um departamento internacional ou a existência de equipas dedicadas em exclusividade a mercados internacionais”, lê-se no relatório, que acrescenta que “o desafio de quem se internacionaliza, exportando, é por definição dos termos um desafio comercial, de total foco na venda, na angariação de mais clientes e encomendas”.
O objetivo é crescer, o método é exportar
A vasta maioria das empresas (72%) admite que de uma forma ou de outra o seu objetivo é crescer: acompanhar o seu crescimento no mercado interno, complementar um contexto de saturação cá dentro ou mesmo compensar uma quebra do volume de negócios dentro das fronteiras portuguesas.
A forma como o fazem é predominantemente a exportação, em vários modelos: ou exportam diretamente para clientes internacionais, ou através de agentes em Portugal ou lá fora. Apenas uma pequena quantidade das empresas dizem ter estabelecido uma sucursal ou filial própria num país estrangeiro (9%).
Mas se o objetivo é crescer, as estratégias estão a funcionar. Nos últimos dois anos, 65% das empresas dizem que a sua atividade internacional cresceu, e 71% dizem que a atividade internacional já mostra resultados positivos. Para 2017, as expectativas são boas: 63% das empresas espera que o seu volume de negócios internacional cresça.
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