Juros negativos chegam à dívida a nove anos. 73% está com taxas abaixo de zero

Todos os títulos de dívida com maturidade até nove anos negoceiam com yield abaixo de zero, o que representa mais de 108 mil milhões de euros.

Toda a dívida portuguesa com maturidade até nove anos está a negociar com juros negativos. São mais de 108 mil milhões de euros em títulos de curto e médio prazo com taxas abaixo de zero. Em grande parte, são os estímulos do Banco Central Europeu (BCE) a causar a tendência de quebra nas yields numa altura em que o país está a aumentar a endividamento como nunca para responder à pandemia.

Dos 148,3 mil milhões de euros em dívida de médio/longo prazo que Portugal tinha a transacionar no mercado no final de outubro, 108,3 mil milhões de euros (73% do total) apresentam yields negativas, de acordo com dados da Tradeweb para o ECO. Ou seja, os investidores que compram estes títulos em mercado secundário estão a aceitar pagar para deterem estes títulos.

Apesar de ainda estar positiva, a yield das obrigações a 10 anos está muito próxima da linha d’água. A taxa destes títulos tocou esta terça-feira o valor mais baixo de sempre nos 0,079%. A quebra nos juros tem vindo a acompanhar a recuperação da confiança de investidores internacionais e agências de rating em Portugal, mas deve-se principalmente às compras do BCE que têm impacto em toda a região.

Na Europa, há mais de 7 biliões de euros em dívida pública com juros negativos, ou seja, 70,54% do total de 10 biliões de euros a transacionável. No fim do ano passada, era 50% de 8,8 biliões de euros em obrigações e bilhetes. Após um agravamento temporário das yields quando a pandemia chegou à Europa, a proporção de dívida com juros negativos tem vindo a aumentar apesar de os Estados se estarem a emitir nova dívida como nunca devido às necessidades de financiamento para responder à situação de crise.

Portugal tinha, no final do terceiro trimestre, uma dívida equivalente a 130% do PIB, sendo que a expectativa do Governo é acabar o ano com um recorde de 134,8% do PIB. A previsão mais otimista do que os 137,6% do PIB previstos pelo Conselho das Finanças Públicas ou os 137,2% do PIB previstos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Curva dos juros da dívida portuguesa

Fonte: Reuters

Devido ao impacto da pandemia na economia da Zona Euro, o BCE lançou um mega programa de estímulos, em meados março, na forma de um programa de emergência pandémica (PEPP, na sigla em inglês) com 750 mil milhões de euros para comprar dívida pública e privada dos países da Zona Euro até ao fim do ano, tendo posteriormente reforçado o envelope para 1,35 biliões de euros.

Os últimos dados agregados (divulgados semanalmente) indicam que o BCE detinha mais de 627,6 mil milhões de euros em dívida comprada no âmbito do PEPP, no final de outubro. Grandes economias como a Alemanha, Itália ou França estão entre as mais beneficiadas. No caso de Portugal, o BCE tinha comprado 11.649 milhões de euros no final de setembro (data dos últimos dados disponíveis por país).

Numa altura em que vários países estão a reforçar medidas para fazer face à segunda vaga de Covid-19, o BCE prepara-se para reavaliar o pacote de estímulos em dezembro, após atualizar as projeções económicas. A expectativa é que nessa altura reforce as compras e aumente o peso no mercado, mantendo os juros limitados, aliviando os encargos dos países com novos financiamentos em mercado.

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