Jovens, precários, com salários baixos e do setor do turismo. São estes os desempregados criados pela pandemia
Os novos números do mercado de trabalho permitem confirmar que os trabalhadores mais afetados pela pandemia foram os jovens, precários, com baixos salários e que trabalhavam no setor do turismo.
Foram destruídos 147,9 mil postos de trabalho em Portugal por causa da pandemia, mas a deterioração do mercado de trabalho não afetou todos por igual. Os trabalhadores jovens, com salários abaixo dos 900 euros e com contratos a termo foram os mais afetados, de acordo com as estatísticas do emprego divulgadas esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Muitos dos novos desempregados estavam nos setores mais afetados pela pandemia, como é o caso do alojamento e restauração.
Os dados do mercado de trabalho estavam até aqui influenciados pelas restrições impostas no segundo trimestre, o que levou a uma redução do desemprego (em vez da natural subida) porque os novos desempregados foram para a população inativa, uma vez que não procuravam ativamente emprego para serem considerados desempregados em termos estatísticos.
No terceiro trimestre, com o desconfinamento, esse fator reduziu-se significativamente: a taxa de desemprego subiu para os 7,8%, o que reflete um crescimento homólogo de 25% da população empregada (+80,7 mil). Mesmo assim, a população inativa ainda regista uma variação homóloga de quase 100 mil pessoas, o que poderá sugerir que nem toda a destruição de emprego já se refletiu na população desempregada. Acresce que, apesar dos dados relativos ao terceiro trimestre refletirem mais o que está a ocorrer no mercado de trabalho por causa da pandemia, não é de excluir que haja mais despedimentos após acabar o período em que as empresas que receberam apoios (como o lay-off simplificado) estão proibidas de despedir.
Certo é que estes números permitem caracterizar quem já ficou sem emprego por causa da pandemia. Entre o terceiro trimestre de 2019 e o de 2020, houve uma destruição líquida de 147,9 mil postos de trabalho, refletindo o decréscimo do emprego com as seguintes características: a maioria eram homens (110,2 mil), entre os 15 e os 24 anos (74,2 mil), com um nível de escolaridade de, no máximo, o 3º ciclo do ensino básico (199,8 mil), empregados no setor dos serviços (116,4 mil), em particular nas atividades de alojamento, restauração e similares (49,3 mil) e a trabalhar por conta de outrem com contrato com termo.
Este perfil dos empregos que foram destruídos encaixa como uma luva no perfil do “novo desempregado”, de acordo com os dados do INE, utilizando a mesma comparação homóloga: o desemprego aumentou maioritariamente entre homens (54,9 mil), entre os 25 e os 34 anos (38,1 mil), com um nível de escolaridade, no máximo, do ensino secundário e provenientes do setor dos serviços (76,6 mil), onde se insere o alojamento e restauração. Estas “vítimas” do impacto da pandemia no mercado de trabalho estão à procura de um novo emprego há menos de 12 meses.
Uma análise mais aprofundada dos dados permite ainda perceber como a destruição de emprego ocorreu principalmente entre quem tem baixos salários. Segundo os cálculos do ECO, com base nos dados do INE relativos aos trabalhadores por conta de outrem — só existem dados sobre salários para estes, que são a maioria dos trabalhadores em Portugal –, o corte nos postos de trabalho entre o terceiro trimestre de 2019 e o de 2020 aconteceu nos profissionais com salários baixos.
Houve 190 mil trabalhadores com salários iguais ou inferiores a 900 euros que perderam o emprego, na comparação homóloga. A estes somam-se 113 mil para os quais o INE não obteve resposta relativamente ao salário e que também perderam o emprego. Nos salários acima de 900 euros, apenas na faixa entre os 2.500 a 3.000 euros é que houve uma pequena redução homóloga de cerca de 1.500 trabalhadores.
Nas restantes faixas salariais, nomeadamente entre os 900 e os 2.500 euros, houve um aumento de 176,1 mil trabalhadores, sendo que a maioria situava-se entre os 1.200 e os 1.800 euros.
No caso dos precários, a diferença é evidente. Entre os trabalhadores por conta de outrem, houve um aumento de quase 30 mil contratos sem termo entre o terceiro trimestre de 2019 e o de 2020. No mesmo período, houve uma destruição líquida de 134,3 mil postos de trabalho de contratos com termo, ou seja, precários.
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Jovens, precários, com salários baixos e do setor do turismo. São estes os desempregados criados pela pandemia
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