BlackRock espera juro mais negativo na dívida portuguesa
Apesar do baixo retorno, as obrigações nacionais continuam na carteira da BlackRock. "Continuamos positivos e expostos à dívida portuguesa", diz o responsável da gestora em Portugal.
A BlackRock está prestes a entrar no novo ano otimista em relação à recuperação dos mercados. A principal aposta são ações — especialmente dos EUA e dos setores de saúde e tecnologia –, mas, num cenário pouco interessante para as obrigações, a maior gestora de ativos do mundo vê interesse na periferia da Europa. E até antecipa que os juros da dívida portuguesa possam cair ainda mais.
“Estamos neutros em relação a obrigações soberanas e negativos em relação a alguns países porque já há pouca margem de compressão das yields, mas em Portugal e Espanha ainda vejo alguma margem de compressão das spreads“, diz André Themudo, responsável do negócio da BlackRock em Portugal, num encontro com jornalistas esta quinta-feira. “Em termos de dívida periférica, continuamos a estar positivos porque achamos que ainda há margem para queda das yields e, portanto, valorização do preço“.
Themudo explica que as obrigações portuguesas têm tido um desempenho acima dos outros países devido aos estímulos monetários do Banco Central Europeu e orçamentais das autoridades nacionais e europeias. Foi esta rede de segurança que ajudou a acalmar os mercados após um momento temporário de tensão no início da pandemia e que levou a quedas persistentes nos juros.
"Em termos de dívida periférica, continuamos a estar positivos porque achamos que ainda há margem para queda das yields e, portanto, valorização do preço. Continuamos positivos e expostos a dívida portuguesa.”
Em mercado primário, o juro médio da emissão de nova dívida portuguesa caiu para 0,6% desde o início do ano, levando o custo do stock para 2,5%. Já em mercado secundário, toda a dívida nacional com maturidade até nove anos tem yield negativa e, a 26 de novembro, Portugal chegou mesmo a registar uma taxa de juro negativa no prazo a dez anos. Esta quinta-feira estava em 0,01%.
Apesar do baixo retorno, a dívida portuguesa continua a estar na carteira da BlackRock. “Continuamos positivos e expostos a dívida portuguesa“, aponta Themudo, referindo que em termos de obrigações estão também overweight só em high yield, Ásia, obrigações indexadas à inflação. “É cada vez mais questionável o papel das obrigações soberanas para diversificar carteiras“, alerta.
Saúde e tecnologia dos EUA são as ações preferidas
Seguindo-se a um ano de exceção, marcado pela pandemia, como está a ser 2020, o próximo ano é difícil de antever. “Os modelos normais não se aplicam. O cenário é comparável com o de uma catástrofe natural“, diz Themudo, apontando os avanços da vacina e taxas de juro reais mais baixas por mais tempo como dois temas chave para 2021. E explica: “gostamos de risco, mas há que ter cuidado”.
A financeira, que tem 7,8 biliões de dólares em ativos sob gestão, está mais otimista em relação a ações do que obrigações e subiu a recomendação para o mercado acionista dos EUA, passando para overweight. Dentro destas, as preferidas são ações de saúde e tecnologia, que foram das mais beneficiadas pela pandemia, mas que mesmo assim ainda têm potencial, segundo Themudo, por três razões: um rácio price to earnings acima da média do S&P 500, um rácio debt to EBITDA inferior (na ordem de 0,6) e pela disponibilidade financeira que o setor tem.
“Pagamos mais porque estamos a comprar os setores com qualidade, segurança e estabilidade”, refere o responsável do negócio da BlackRock em Portugal. “Não nos importamos de pagar mais por estes três fatores. Não consideramos caro tendo em conta o que nos podem dar“, acrescenta sobre a saúde e tecnologia. Em sentido contrário, a BlackRock reviu em baixa a recomendação para ações europeias para underweight (de neutral) porque há “demasiada exposição ao setor financeiro, que está sob pressão devido a estas taxas de juro muito baixas”.
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