Pandemia leva remessas dos emigrantes a caírem pela primeira vez em 11 anos
As remessas dos emigrantes descem 1,9% até outubro, num ano que fica marcado pela pandemia. Se a queda se mantiver até ao final do ano, será a primeira vez que as remessas caem desde a crise de 2009.
Após terem crescido 41 milhões de euros em 2019, as remessas dos emigrantes caminham para uma redução em 2020, ano marcado pela pandemia. Os dados do Banco de Portugal mostram que os emigrantes enviaram menos 55 milhões de euros para Portugal até outubro, em comparação com o mesmo período do ano passado. Caso a tendência se mantenha em outubro e novembro, esta será a primeira queda anual das remessas desde 2009, um dos anos da crise financeira.
Entre janeiro e outubro deste ano — um período fortemente afetados pela crise pandémica –, os emigrantes portugueses enviaram 2,95 mil milhões de euros para território nacional, o que contrasta com os três mil milhões de euros enviados no mesmo período do ano passado. A diferença é de 55 milhões de euros e representa uma queda homóloga de 1,85%, de acordo com a série compilada pelo Banco de Portugal.
Se a tendência se mantiver nos dois meses que faltam para terminar o ano, 2020 será o primeiro ano em que a remessas dos emigrantes vão sofrer uma queda desde 2009, um dos anos da crise financeira. Entre 2008 e 2009, as remessas dos emigrantes encolheram cerca de 200 milhões de euros, o que representava uma queda homóloga de 8,16%.
Ao ECO, os especialistas no tema da emigração, que preferiram não ser citados uma vez que ainda não há dados anuais, apontam o dedo à pandemia como a provável causadora desta queda, ainda que seja de uma dimensão relativamente reduzida. Não só a crise pandémica levou a reduções dos rendimentos em todos os países, principalmente nos salários mais baixos (onde se insere parte dos emigrantes portugueses), como levou a uma menor emigração este ano com o fecho de fronteiras e a deterioração do mercado de trabalho em todo o lado.
França e Alemanha responsáveis pelas maiores quedas
Os dados do Banco de Portugal desagregados por país mostram as maiores quedas até outubro nas remessas dos emigrantes. É nos portugueses que estão em França — o país de onde chegam mais remessas — e Alemanha (4.º país) que se registam as maiores quebras nas remessas.
Os emigrantes em França enviaram menos 50 milhões de euros para Portugal, entre janeiro e outubro de 2020, o que representa uma queda de 5,4% face ao período homólogo. Ainda assim, França continua a ser o país de onde chegam mais remessas para Portugal, com 867 milhões de euros a chegarem nestes dez meses de 2020.
No caso da Alemanha, os emigrantes enviaram menos 36 milhões de euros entre janeiro e outubro, o que representa uma queda de 15,5% face ao mesmo período de 2019. Os emigrantes que estão em território alemão enviaram, ainda assim, 195 milhões de euros até outubro, fazendo da Alemanha a quarta maior “fonte” de remessas para Portugal.
Apesar do impacto da pandemia no panorama geral, há países do topo da lista em que até se registaram subidas. É o caso dos emigrantes da Suíça (país no segundo lugar), que enviaram mais 40 milhões de euros de remessas (mais 4,9% do que no mesmo período de 2019). No total, foram enviados 851 milhões de euros para Portugal a partir da Suíça.
No caso do Reino Unido — que tinha ganho importância nos últimos anos — também houve um aumento de 13 milhões de euros (+4,4%) para um total de 313 milhões de euros. No caso de Angola houve uma pequena subida (+4 milhões). Já no caso dos EUA houve uma pequena descida (-6 milhões).
Remessas dos emigrantes subiram 57% desde a crise anterior
Desde a crise anterior que as remessas dos emigrantes têm vindo a subir gradualmente, ano após ano. De 2,3 mil milhões de euros em remessas registadas em 2009, o montante total passou a 3,6 mil milhões de euros em 2019 (último ano para o qual há dados completos), o que representa uma subida de 1,3 mil milhões de euros (+57%). Apesar disso, o volume de remessas de 2019 ainda não superou o máximo anterior alcançado em 2001 (3,7 mil milhões de euros).
Fonte: Banco de Portugal.
Ainda assim, o que explica um aumento desta grandeza? Inês Vidigal, investigadora do Observatório da Emigração (um centro de investigação do ISCTE), explica ao ECO que há vários fatores a contribuir para este desempenho, mas realça dois: o retorno de emigrantes mais velhos e a maior emigração no início da década por causa da crise das dívidas soberanas e o resgate da troika.
“Há população que emigrou há mais tempo e que está agora a regressar“, recorda Inês Vidigal, referindo que as poupanças de décadas que trazem aumentam as remessas. Além disso, há “o nível de fluxos que se tem vindo a verificar”, com “muita gente” a sair do país. “Está estudado que o volume de remessas é sempre maior no início da emigração“, afirma a investigadora.
Portugal é, aliás, um dos países da União Europeia que mais remessas recebe dos seus emigrantes. Em 2018, ocupava o lugar cimeiro, mas em 2019 foi ultrapassado pela Roménia, passando para o segundo lugar, de acordo com os dados do Eurostat divulgados em novembro deste ano. Por outro lado, França e Alemanha são os dois países com os saldos negativos de remessas mais elevados (os números não incluem a Suíça).
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