Redes anti-sociais

Na reta final do mandato de Donald Trump é que as redes sociais decidem suspender ou restringir as mensagens de ódio do presidente. Mas o que se passou no Capitólio também é responsabilidade delas.

Em menos de 24 horas, as principais redes sociais foram forçadas a tomar decisões que evitaram a todo o custo nos últimos cinco anos: limitar o alcance das mensagens de Donald Trump ou mesmo suspender o presidente dos EUA. O motivo foi o ataque ao Capitólio durante a tarde desta quarta-feira.

O Twitter foi uma delas. É sabido que a plataforma tem sido usada por Trump para governar, atacar opositores e espalhar informação falsa. Foram vários os apelos a Jack Dorsey para que tomasse alguma medida e só nas eleições de novembro é que a empresa começou a levar o assunto mais a sério. Agora, decidiu, finalmente, sancionar a conta do presidente.

O mesmo é válido para o Facebook e Instagram. As duas plataformas, que são das mais usadas em todo o mundo, decidiram suspender temporariamente as contas de Donald Trump, limitando efetivamente a capacidade do (ainda) presidente de semear ainda mais ódio e discórdia.

Do YouTube, a atuação terá sido menos efusiva: tanto quanto se sabe, passou por eliminar um vídeo de Donald Trump no qual, apesar de apelar à desmobilização, o presidente reforça ainda mais os pressupostos que conduziram ao ataque ao Capitólio em primeiro lugar.

Antes de se aplaudir estas medidas, é importante não esquecer que são também muito convenientes para as plataformas. Numa altura em que o presidente Trump cai em desgraça, Twitter, Facebook e Google têm pouco a perder em despertar a ira de Trump, que só deverá ficar na Casa Branca por mais cerca de duas semanas.

Aliás, podem ainda ser vistas como sanções ao próprio chefe de Estado, que tem tentado, nos últimos dias, alterar convenientemente a lei para responsabilizar as plataformas sobre o que lá é publicado.

Estas redes sociais fizeram bem em limitar a incitação da violência por parte de Donald Trump. Contudo, nunca poderemos esquecer que muita da responsabilidade por tudo o que está a acontecer é também das próprias plataformas.

Muitos destes movimentos nascem e proliferam nos cantos mais obscuros das redes sociais, alimentados por algoritmos que têm todo o interesse em propagar mais e mais as teorias da conspiração e as ideias radicais. O objetivo é prender os utilizadores às plataformas e monetizar sentimentos e comportamentos. Um negócio lucrativo, mas com efeitos extremamente nefastos na sociedade, como está bem documentado.

Na reta final do mandato, Twitter, Facebook, Instagram e YouTube podem agora calar as mentiras de Trump. Mas nada apaga a inércia dos últimos cinco anos. Para quem andou atento, estas medidas, necessárias há muito, não passam agora de meras estratégias oportunistas de gestão de crise.

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