Família Barroca extingue Grupo Lena e passa dívidas para a Always Special
Família Barroca Rodrigues acaba com Lena SGPS e Lena Engenharia Construção após fusão com a construtora Always Special. Empresas surgiam entre os grandes devedores da CGD, com dívidas de 90 milhões.
Associada ao antigo governo de José Sócrates na década de 2000, o Grupo Lena foi agora extinto com a fusão da Lena SGPS e da Lena Engenharia Construção na Always Special. As construtoras da família Barroca Rodrigues surgiram há dois anos na lista dos grandes devedores da Caixa Geral de Depósitos (CGD), com dívidas na ordem dos 90 milhões ao banco público, segundo a auditoria da EY. Com a fusão, as duas sociedades Lena desaparecem, mas as dívidas não: a Always Special passou a ser responsável pelos ativos e passivos das duas sociedades que absorveu.
A operação de fusão entre a Lena SGPS e a Lena Engenharia Construção na Always Special deu-se no final do ano passado, no culminar de um processo de reorganização interna que o grupo ligado à construção civil empreendeu nos últimos anos.
Ao fundir as empresas, operação que teve lugar formalmente a 15 de dezembro, o grupo pretende “potenciar a nova organização” ao simplificar as estruturas e ao evitar duplicações, “nomeadamente ao nível dos conselhos de administração, das sedes, da contabilidade, da revisão oficial de contas, entre outras”.
O projeto de fusão, aprovado pelas administrações das três sociedades envolvidas e que contam com nomes como os de António Barroca Rodrigues, Joaquim Barroca Rodrigues e Joaquim Paulo da Conceição, fala ainda da redução de custos e da rentabilização e concentração de recursos “na promoção de uma única imagem”.
Dívidas assumidas pela Always Special
Com o registo da fusão, a Lena SGPS e Lena Engenharia Construção são extintas, sendo que os ativos e passivos de ambas passam para a esfera da Always Special. Esta última tornou-se assim responsável por “todas as dívidas constituídas e garantias prestadas” pela Lena SGPS e Lena Engenharia Construção, que se mantêm “plenamente válidas e eficazes com a fusão”, segundo se lê no mesmo projeto de fusão.
Faz dois anos que a auditoria da EY aos atos de gestão da Caixa foi tornada público. Entre os maiores devedores do banco público estavam, à data de 2015, a Always Special (44 milhões de euros que a CGD dava como totalmente perdidos) e a Lena Construções (48 milhões e imparidades de 18 milhões).
O ECO contactou o grupo através da Casa Agrícola AVR e do Grupo Nov (antigo grupo Lena), mas não obteve ainda uma resposta. Também o banco público foi contactado.
A Always Special chegou a setembro do ano passado com capitais próprios negativos em 71,7 milhões de euros, com a dívida à banca a ascender a 57 milhões de euros, segundo o balanço individual aprovado em assembleia geral realizado em novembro.
Já a situação líquida da Lena SGPS e da Lena Engenharia Construção era positiva, com capitais próprios de 61,8 milhões e 40,6 milhões de euros, respetivamente, em base individual. As dívidas bancárias das duas empresas ascendiam, no seu conjunto, a 44,3 milhões.
Grupo diz que vai pagar as dívidas
Em maio de 2019, Joaquim Barroca Rodrigues afirmou na comissão parlamentar de inquérito à Caixa que o grupo tencionava fazer o pagamento de todas as dívidas contraídas junto do banco público.
“Obviamente que sim. Nunca dissemos aos bancos que não íamos pagar. (…) Temos o compromisso que havemos de reunir condições para pagar aos bancos. É esse o nosso compromisso e empenho”, disse o responsável, anunciando então que o grupo estava em processo de reestruturação e que “os resultados muito significativos” que tinha por receber em mercados como como o angolano, venezuelano e argelino permitiam saldar as dívidas.
“Temos a receber dinheiro em três ou quatro mercados que daria para resolver com facilidade” as dívidas bancárias, referiu Joaquim Barroca Rodrigues aos deputados da comissão de inquérito à Caixa.
Com origem na região de Leiria, nos anos 50, o grupo Lena ganhou notoriedade nas últimas décadas, nomeadamente com a expansão internacional durante os governos de José Sócrates e com a investigação judicial da Operação Marquês.
Um dos grandes contratos que a construtora conquistou foi na Venezuela, em 2008, para a construção de 50 mil casas nos arredores da capital Caracas, num negócio milionário apadrinhado pelos governos de então.
Quanto à Operação Marquês, o Grupo Lena é uma das entidades visadas na acusação do Ministério Público, por alegados subornos pagos ao ex-primeiro ministro José Sócrates. A acusação considera que José Sócrates terá permitido a obtenção de “benefícios comerciais” por parte da construtora. A troco desses benefícios, refere o Ministério Público, e em representação do Grupo Lena, o arguido Joaquim Barroca terá aceitado efetuar pagamentos, em primeiro lugar para a esfera de Carlos Santos Silva (ex-administrador do Grupo Lena e amigo pessoal de Sócrates), mas que seriam destinados ao antigo primeiro-ministro.
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