Constâncio avisa que reguladores vão ter de intervir para travar crise no crédito

"O elevado nível de NPL (non performing loans) e o aumento das provisões irá, este ano e no próximo, afetar a rentabilidade dos bancos", diz o ex-vice-presidente do BCE.

O aumento do crédito malparado e as provisões que a banca terá de fazer irá, nos próximos dois anos, penalizar a rentabilidade do setor, segundo avisa Vítor Constâncio. Neste cenário de pressão, o economista e ex-vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE) considera que os reguladores terão de intervir para travar uma crise no crédito.

O elevado nível de NPL (non-performing loans) e o aumento das provisões irá, este ano e no próximo, afetar a rentabilidade dos bancos“, explicou Constâncio, na conferência virtual The Portuguese presidency: On the Road to a European Recovery Post-Covid, organizada pela CFA Society Portugal em colaboração com o CFA Institute. “E haverá uma redução nos ganhos com os mercados de capitais porque os mercados de capitais não podem continuar a contribuir com estes níveis de retornos”.

O ex-governador apresentou dados do impacto da Covid-19 na banca europeia que indicam que a rentabilidade tem recuado devido à quebra na margem financeira, que não foi compensada pelo aumento da concessão de crédito. Em simultâneo, antecipa que o crescimento do crédito desacelere “drasticamente” em 2021 e que o risco de crédito aumente acentuadamente. Por isso, “os reguladores têm de estar preparados para fazer o que for necessário para evitar uma crise no crédito“, avisou Constâncio.

Vítor Constâncio considera que o BCE poderá vir a ajudar a reduzir o risco reforçar o financiamento de baixos custos à banca. Já Luís Silva Morais, chair do Centro de Investigação sobre Regulação e Supervisão Financeira (CIRSF) e Mário Centeno, governador do Banco de Portugal — que partilhavam o painel sobre estabilidade financeira na recuperação pós-Covid — elogiam a resposta da Comissão Europeia no que diz respeito à dinamização do mercado secundário de crédito malparado.

Centeno queria gestora europeia para o malparado

“A Comissão Europeia vai na direção certa”, afirma Centeno. “Um mercado secundário que funcione bem é fundamental para que os bancos possam negociar ativos não produtivos por isso este ímpeto da Comissão Europeia é muito importante“, disse, lembrando que a situação é hoje muito diferente da vivida na crise da dívida soberana dada a redução do fardo do malparado, bem como a criação de um plano de ação a nível europeu para os NPL em 2017.

Apesar de elogiar a ação de Bruxelas no que diz respeito ao mercado secundário, Centeno gostaria de ver uma rede de entidades gestoras de ativos ou “bancos maus” para enfrentar de forma mais ágil e eficiente o aumento de crédito em incumprimento na Europa, tal como o presidente do Conselho de Supervisão do BCE, Andrea Enria. “Infelizmente, a Comissão não prevê a possibilidade de estabelecer uma empresa gestora de ativos”, lamentou o português.

Falando de forma mais alargada sobre o impacto da pandemia na estabilidade financeira, o governador do Banco de Portugal defendeu que “olhando para 2021, para que se prepare o caminho da recuperação, é preciso medidas adaptadas à evolução da situação” e “aproveitar todas as sinergias que resultam de uma ação coordenada”.

A necessidade de ir acompanhando a evolução e adaptando medidas é uma ideia partilhada pelo Secretário de Estado das Finanças João Nuno Medes, que garantiu que o Governo está a monitorizar a solvência das empresas, especialmente de setores mais penalizados como o turismo ou os serviços. Mas pediu às instituições financeiras que façam o seu trabalho. “É preciso que os bancos preparem agora o fim das moratórias. Tem de haver um nível de análise de cada crédito para que não tenhamos uma surpresa no dia seguinte“, acrescentou.

(Notícia atualizada às 17h55)

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