Direita, PAN e PCP contra dar prioridade na vacina da Covid a “todos” os políticos. Alguns deputados abdicam
Os partidos da direita, o PCP e o PAN criticaram esta terça-feira a intenção do Governo de vacinar titulares de órgãos de soberania já na próxima semana. Alguns deputados já recusaram a sua vacina.
A notícia do Diário de Notícias desta terça-feira de que os titulares de órgãos de soberania, incluindo os 230 deputados, iam começar a ser vacinados na próxima semana não caiu bem à direita, ao PCP e ao PAN. Os partidos criticam a intenção do Governo de alargar e generalizar a vacinação dos políticos, preferindo que sejam vacinados apenas os titulares dos principais cargos da nação. No seu despacho, o Executivo refere que os próprios órgãos devem enviar uma lista ordenada pela prioridade, sendo que em reação alguns deputados já abdicaram da sua vacina.
A reação à notícia chegou logo de Ricardo Baptista Leite, deputado do PSD que tem sido o porta-voz da oposição sobre a pandemia, que concorda com a vacinação das três “primeiras figuras do Estado”, isto é, o Presidente da República, o primeiro-ministro e o presidente da Assembleia da República.
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Contudo, “alargar aos demais titulares quando o país ainda não vacinou toda a população +80 anos ou profissionais de saúde parece-me de difícil compreensão“, escreveu no Twitter, anunciando de seguida que ia recusar a vacina e esperar pelo seu lugar na terceira fase da vacinação. Baptista Leite tem trabalhado como médico no Hospital de Cascais, mas como é voluntário não foi “identificado” como profissional de saúde para a primeira fase da vacinação, esclareceu o próprio na mesma rede social.
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Ao final da tarde, Rui Rio veio dar respaldo às declarações do seu deputado, também no Twitter: “O Governo errou ao não incluir os principais decisores políticos nas prioridades de vacinação. Quando corrige, volta a errar por via do exagero. Não inclui os médicos do setor privado, mas alarga, por exemplo, à globalidade dos órgãos de soberania. Falta firmeza e bom-senso”.
Numa nota enviada às redações, o PCP fez a mesma crítica: “A prioridade dada a titulares de altos responsáveis do Estado, sendo compreensível para situações concretas, tem uma generalização que se afigura excessiva“.
Mais ríspido nas palavras foi o líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, ao dizer que “dar prioridade na vacinação a todos os titulares de órgãos de soberania é um péssimo exemplo ao país e um insulto aos que mais sofrem com esta pandemia”. Num comentário enviado às redações, o centrista considera que “é indefensável colocar todos esses políticos à frente dos mais idosos, dos utentes dos lares, dos profissionais de saúde — tanto do público como do privado — e de outros grupos de risco que ainda não foram vacinados”.
O seu oponente nas eleições internas, o deputado João Almeida, partilha a mesma opinião, afirmando que não é se considera prioritário pelo que aguardará pela sua vez como se não fosse deputado. “Acho fundamental que as principais figuras do estado sejam vacinadas rapidamente“, escreveu no Facebook, notando que não compreendeu o “populismo” de não terem sido considerados prioritários.
O PAN, pela voz da deputada Bebiana Cunha, não tece tantas críticas, mas mostra a preferência pela exclusão dos deputados, seguindo-se para estes os critérios para a restante população. Porém, o partido é favorável à vacinação das altas figuras de Estado, assim como os ministros e secretários de Estado “mais expostos em virtude do trabalho de terreno que desempenham e que lhes exija um maior número de deslocações e exposição ao vírus”. A deputada do PAN referiu ainda os presidentes de câmara e de juntas de freguesia por estarem “na linha da frente de apoio à população”.
À direita, o deputado único da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, também já abdicou da sua vacina, segundo a Lusa, numa carta endereçada a Ferro Rodrigues, presidente da AR, o qual terá de enviar uma lista ordenada com o nome dos deputados a vacinar, assim como dos funcionários do Parlamento que se considerem prioritários. André Ventura, deputado único do Chega, teceu críticas à vacinação dos políticos, admitindo apenas a vacinação do Presidente da República por ser uma “pessoa de risco”.
PS defende vacinação dos políticos e critica “demagogia”
O PS é, para já, o único partido a sair totalmente em defesa do despacho do Governo. Numa nota enviada à Lusa, o secretário-geral adjunto do partido, José Luís Carneiro, diz “que os titulares de órgãos de soberania, em função de critérios de hierarquia funcional, devem constar das prioridades”, destacando o caso dos autarcas que têm responsabilidades na proteção civil municipal e na campanha de vacinação. “Não pode haver cedência à demagogia e ao politicamente correto“, respondeu Carneiro face às críticas dos outros partidos. O socialista não comentou em específico o caso dos 230 deputados.
O despacho do Governo noticiado pelo Diário de Notícias alarga a vacinação não só aos principais cargos políticos, mas também à “Provedora de Justiça, os membros do Conselho de Estado, a magistratura do Ministério Público, os membros dos órgãos próprios das Regiões Autónomas e os presidentes de Câmara, enquanto responsáveis principais da proteção civil”.
Em todas estas entidades terá de haver uma lista ordenada de prioridades, sendo que no Executivo esta é encabeçada pelo primeiro-ministro e, por esta ordem, os ministros de Estado, da Defesa, da Administração Interna, da Justiça, do Trabalho, da Saúde, do Ambiente e das Infraestruturas. Depois surgem os secretários de Estado da Saúde e “os cinco secretários de Estado que exercem a função de coordenação regional no combate à pandemia”, bem como a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, por causa da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia. Só depois é que constam os restantes governantes.
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