Vacina da AstraZeneca deverá receber hoje “luz verde” a meio de “braço de ferro” com a UE

O regulador europeu deverá dar "luz verde" à vacina da AstraZeneca/Universidade de Oxford contra a Covid-19 hoje, numa altura em que o ambiente entre a farmacêutica e a UE está muito crispado.

Depois da Pfizer/BioNTech e da Moderna, esta sexta-feira a Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla em inglês) poderá aprovar a vacina que está a ser desenvolvida pela farmacêutica AstraZeneca em conjunto com a Universidade de Oxford, tornando-se na terceira vacina a ser aprovada no espaço comunitário. Nos últimos dias, o “braço de ferro” entre a farmacêutica e a União Europeia é evidente, após a empresa ter anunciado que vai reduzir as entregas contratualizadas devido a quebras na produção.

Na semana passada, a multinacional britânica avisou a Comissão Europeia que iria cortar em 60% as entregas de vacinas aos 27 estados-membros, para 31 milhões de doses, no primeiro trimestre de 2020, devido a problemas na sua linha de produção. Trata-se de uma redução considerável, já que o compromisso eram 80 milhões de doses até março.

A instituição liderada por Ursula Von der Leyen considerou as justificações insuficientes, referindo que “o novo planeamento não é aceitável para a UE”. O ambiente ficou ainda mais tenso, após a Comissão Europeia se ter deparado com detalhes do contrato assinado com a farmacêutica, que deveria ser secreto, expostos na imprensa, na sequência de entrevistas concedidas pelo presidente executivo da AstraZeneca, Pascal Soriot. Por isso, Bruxelas apertou o “cerco” à farmacêutica, exigindo agora que o contrato seja divulgado na íntegra, revela o El País (acesso livre, conteúdo em espanhol), e que a farmacêutica cumpra o contrato orçado em 336 milhões de euros. Ao mesmo tempo, tal como outros países europeus, a Comissão Europeia está a ponderar avançar com ações judiciais contra e farmacêutica caso o contrato não seja cumprido.

Além disso, a acentuar as crispações está o facto de a AstraZeneca dar prioridade ao Reino Unido na entrega de vacinas, justificando que o acordo com o país britânico “foi assinado três meses antes do negócio europeu. Portanto com o Reino Unido tivemos três meses extra para reparar todas as falhas que tivemos”, apontou Soriot. Em causa está um contrato assinado, em agosto do ano passado, pela Comissão Europeia com a AstraZeneca para aquisição de 300 milhões de doses da vacina contra a Covid-19, com uma opção de compra de mais 100 milhões de doses.

Dado o corte significativo nas doses previstas, estes atrasos podem colocar em causa as metas estipuladas por Bruxelas para alcançar a imunização da população. A União Europeia previa vacinar 80% dos idosos e profissionais de saúde até março e 70% dos adultos até ao verão.

Face a este atraso, o coordenador da task-force, Francisco Ramos, responsável por delinear o Plano de Vacinação contra Covid-19 em Portugal veio, por diversas vezes, reiterar que o atraso da vacina da AstraZeneca/Oxford não comprometerá a primeira fase do plano português, que deverá terminar em abril, mas também não permite antecipá-lo. Não obstante, ainda não há dados concretos sobre o impacto que este atraso terá nas quantidades de vacinas a curto prazo disponibilizadas para Portugal, já que o processo “ainda está em discussão” a nível europeu, revelou o presidente do Infarmed, na conferência de atualização do Plano de Vacinação contra a Covid-19, esta quinta-feira.

Entre fevereiro e março, Portugal esperava receber 1,4 milhões de vacinas da AstraZeneca, mas dado estes percalços a última estimativa avançada por Francisco Ramos apontava para as 700 mil doses. Ainda assim, o responsável sublinhou que “é possível que esse número seja revisto em alta”.

Certo é que, em termos totais, a quantidade de vacinas da AstraZeneca disponibilizadas para Portugal não deverá sofrer alterações, mantendo-se nas cerca de 6,9 milhões de doses, com a “possibilidade de doses adicionais”, revela a nova atualização do plano. Pressupondo que esta vacina é aprovada esta sexta-feira, o Governo português espera receber 2.214.000 doses de vacinas (isto já contado com a Pfizer e Moderna) até ao final do primeiro trimestre. O objetivo do Executivo é ter “810 mil pessoas com vacinação completa no final de março e 520 mil com a vacinação iniciada”, isto é com a primeira toma da vacina, revelou Francisco Ramos.

Além da AstraZeneca, também a Pfizer advertiu para um atraso nas entregas. Assim, um dos grandes desafios que se coloca nesta altura, tal como noutros países europeus, é gerir a quantidade de vacinas disponíveis. Ao contrário de outros países europeus, Portugal optou por reservar algumas doses para que os cidadãos que já tivessem recebido a primeira dose, tivessem acesso garantido à segunda toma, no espaço de 21 dias.

Esta quinta-feira, o governo alemão veio desaconselhar a toma da vacina da AstraZeneca para maiores de 65 anos. Com uma eficácia média de 70%, mas que pode chegar aos 90% se as doses forem variadas, esta vacina é mais barata e também mais fácil de armazenar do que as concorrentes da Pfizer e Moderna, podendo ser conservada num frigorífico comum, o que torna a logística menos complicada na sua distribuição. De salientar, que a vacina da Moderna pode ser armazenada por seis meses a -20 graus para transporte e armazenamento de longo prazo, enquanto a da Pfizer requer temperaturas muito mais baixas para o armazenamento.

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