Endesa quer investir na produção de hidrogénio verde em Portugal, admite CEO José Bogas

"Se tivermos as condições adequadas, investiremos em Portugal e estaremos lá também com projetos de produção de hidrogénio", garantiu ao ECO/Capital Verde o CEO da Endesa, José Bogas..

A Endesa anunciou esta segunda-feira que submeteu ao Ministério espanhol da Transição Ecológica uma carta de intenções para desenvolver em território espanhol, tanto a nível peninsular como nas ilhas Baleares, Canárias e no norte de África, cerca de 23 projetos relacionados com a produção de hidrogénio verde.

Portugal é já o próximo destino na lista de desejos da elétrica espanhola para apostar no desenvolvimento deste gás renovável do futuro. “Temos alguns projetos e muitas ideias. Ainda não temos projetos de hidrogénio em Portugal, mas não é uma hipótese que descartemos. O setor do hidrogénio tem muitas oportunidades e será um complemento da eletrificação da economia para chegar a 100% de descarbonização. Se tivermos as condições adequadas, investiremos em Portugal e estaremos lá também com projetos de produção de hidrogénio”, tinha já garantido em resposta ao ECO/Capital Verde o CEO da Endesa, José Bogas, durante uma conferência de imprensa online com jornalistas portugueses e espanhóis que teve lugar no início de dezembro.

Para já, o volume de investimento associado, incluindo aquele que é destinado às centrais de energia renovável ​que irão alimentar o funcionamento dos eletrolisadores, é de cerca de 2.900 milhões de euros, informou a elétrica espanhola em comunicado, sublinhando que os projetos em Espanha abrangem todos os diferentes momentos da cadeia de valor do hidrogénio verde, desde a produção até ao consumo. O objetivo tinha já sido identificado no novo plano estratégico da Endesa para 2021-2023, apresentado no final do ano passado.

“A Endesa quer mostrar o seu claro compromisso com o hidrogénio verde como peça chave no processo de transição energética e descarbonização da economia. São objetivos nos quais trabalhamos há anos e que têm marcado a nossa estratégia de substituição progressiva da produção térmica por produção renovável. Os 23 projetos de hidrogénio verde que agora apresentamos estão associados a uma capacidade de energia renovável de quase 2.000 MW”, destacou o diretor-geral de Produção da Endesa, Rafael González.

Esta potência representa mais de metade dos 3.900 MW que a empresa anunciou que estreará em Espanha até 2023, de acordo com a atualização do seu plano estratégico divulgado em novembro de 2020. Uma vez colocados em operação, a produção total dos 23 projetos ascenderia a 26 mil toneladas de hidrogénio por ano.

De acordo com a Endesa, a concretização de todos estes projetos contribuirá de forma decisiva para o cumprimento dos objetivos fixados para a primeira fase (2020-2024) do Roteiro do Hidrogénio de Espanha, definido pelo Governo de Madrid. Todos os projetos de produção de hidrogénio contemplam investimentos em parques de produção de energia renovável dedicados à alimentação dos eletrolisadores. Estes parques têm também a opção de fazer seguir para a rede elétrica nacional os excedentes de energia elétrica gerada.

Projetos de hidrogénio verde da Endesa na Península Ibérica

Neste momento, o projeto mais avançado é o de As Pontes (A Coruña) e contará com um eletrolisador de 100 MW e seis parques eólicos associados, com uma capacidade total de 611 MW. O investimento será de 738,2 milhões de euros e a produção de 10.000 toneladas de hidrogénio verde. O objetivo deste primeiro projeto é mostrar que uma instalação desta dimensão pode ser construída, explorada e mantida tanto do ponto de vista económico, técnico como ambiental, refere a Endesa.

Os outros projetos na Península Ibérica terão lugar em Huelva, Teruel, Almería, Tarragona, Vale do Ebro (Hydrogen del Cierzo), Compostilla (León) e Seseña (Toledo). Em conjunto, vão significar uma potência instalada em eletrolisadores de 215 MW. No total, os projetos a serem desenvolvidos em Espanha continental reúnem 2.000 milhões de investimentos e eletrolisadores com uma capacidade total de 315 MW.

No caso dos projetos não peninsulares, a Endesa apresentou propostas ao Governo espanhol que vão desde a produção de energia com hidrogénio verde em fábricas de nova geração (Barranco de Tirajana, Granadilla e Alcudia, que vão agregar eletrolisadores num total de 25 MW), até à transição para biocombustível e à substituição de energia de outras fábricas por hidrogénio verde. Os projetos nas Ilhas Canárias, Baleares e Melilla totalizam 900 milhões de euros de investimentos.

De acordo com a Endesa, atualmente, apenas cerca de 500.000 toneladas de hidrogénio são produzidas e consumidas em Espanha como matéria-prima, na sua esmagadora maioria a partir de combustíveis fósseis.

Para reverter este cenário, o novo plano estratégico da Endesa 2021-2023 aumenta os investimentos em 25% para 7,9 mil milhões de euros para acelerar a descarbonização e digitalização na Península Ibérica. Este aumento sustenta o crescimento do lucro bruto (EBITDA) em 10% dos próximos três anos para os 4,3 mil milhões previstos para o ano de 2023. Quanto ao hidrogénio, o CEO José Bogas garantiu que o gás renovável “vai ter um papel importante no futuro, a preços competitivos, e a Endesa quer fazer parte da cadeia de valor” na Península Ibérica.

“É um plano entusiasmante, um plano para crescer. Queremos liderar a transição energética. É onde há enormes oportunidades no futuro. A nossa visão é focada na descarbonização, pois é melhor forma de nos mantermos como uma referência na Península Ibérica. Por isso estamos a aumentar o investimento”, disse o CEO da Endesa, José Bogas.

A estratégia de transição energética da Endesa passa pelo crescimento de 30% do seu portefólio de energias renováveis, chegando a 11,5 GW com um investimento de 3,3 mil milhões (+20% do que no plano anterior). Para já, o ano de 2020 será encerrado com uma capacidade renovável de 7,7 GW. Desta forma, sublinha a elétrica, 89% da produção de energia elétrica na Península Ibérica estará livre de emissões de CO2 até o final de 2023.

Nas renováveis, a nova capacidade de energia solar e eólica que entrará em funcionamento nos próximos três anos — 3,9 GW (3 GW solares e 900 MW eólicos) –, supera os 2,5 GW que a Endesa vai descomissionar com o encerramento das últimas duas centrais a carvão na Península Ibérica em 2021. A empresa prevê que no final de 2023, 62% do parque gerador de eletricidade nos dois países será renovável, contra os 45% que se registam agora, no final de 2020.

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